Artigo de Cineas Santos sobre Assis Brasil

Escritor  e acadêmico Assis Brasil, um dos grandes nomes da moderna Literatura Brasileira

Cineas Santos (*)

Saiu de cena hoje (28/11/ ) Francisco de ASSIS Almeida BRASIL ( 92 anos de idade), um dos grandes nomes da moderna literatura brasileira. Certa feita Assis afirmou: “Eu não vivi; tive apenas vida literária”. Não era força de expressão: o autor de Beira Rio Beira Vida escreveu mais de cem obras, de literatura infanto-juvenil a ensaios filosóficos.

Piauiense, de Parnaíba, Assis Brasil viveu quase sempre distante do Piauí. Jornalista, professor, ficcionista e crítico literário, tornou-se conhecido a partir de 1965 quando publicou Beira rio beira vida, romance que lhe rendeu o Prêmio WALMAP, obra integra a Tetralogia Piauiense, que se completa com A Filha do meio quiloO salto do cavalo cobridor e Pacamão. Dez anos depois, voltaria a ganhar o mesmo prêmio com Os que bebem como os cães.

Quando H. Dobal foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras (2002), na companhia de alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro com o poeta. Já no final da homenagem, apareceu Assis Brasil escorando-se nas paredes do auditório. Com voz sumida, explicou: “Estou saindo de uma depressão terrível” e mais não disse. Cumprimentou o Dobal e desapareceu.

Em 2006, os organizadores do SALIPI resolvemos homenageá-lo. Coube a mim a incumbência de convidá-lo. Assis Brasil agradeceu a homenagem, mas afirmou que, por problemas de saúde, não poderia vir a Teresina. Recorremos à professora Francigelda Ribeiro, amiga do escritor, para tentar convencê-lo a vir. Depois de demorada negociação, Assis afirmou que viria, mas, em hipótese alguma, falaria ao público. Contrafeito, veio.

Às 19 h, Assis Brasil adentrou o auditório do Centro de Convenções de Teresina para a abertura da 4ª edição do SALIPI. Ao ser anunciado, as 700 pessoas que lotavam o espaço levantaram-se e o aplaudiram por mais de dez minutos. Aturdido, emocionado e feliz, Assis agarrou o microfone e falou mais de 40 minutos. Afável e cordial, respondeu às perguntas, distribuiu autógrafos, ressuscitou… Emocionado, não me contive e repeti G. García Márquez:” O que a felicidade não curar nada cura”. No ano seguinte, Assis Brasil mudou-se de mala e cuia para Teresina onde, festejado pelo público e sob o guarda-chuva do afeto de Leonardo Dias, escreveu mais uns dez livros.

Seu silêncio deixa-nos mais pobres e mais tristes. De qualquer forma, sua obra permanecerá viva.

(*) Professor, escritor, editor e membro do Conselho Estadual de Cultura

Lançamento traz estudo sobre a obra de Clodoaldo Freitas

A capa do novo livro de Socorro Rios Magalhães

“O folhetim de Clodoaldo Freitas” é o título do novo livro da professora e acadêmica Socorro Rios Magalhães, a ser lançado no início do próximo ano.

O livro traz um estudo sobre a obra ficcional de Clodoaldo Freitas, um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Piauiense de Letras.

Na apresentação do livro, o professor Pedro Vilarinho Castelo Branco, da Universidade Federal do Piauí, acentua que a obra ficcional de Clodaldo Freitas, pela peculiaridade de ter sido publicada em forma de folhetins, passou muitas décadas desconhecida do público leitor e dos pesquisadores interessados em literatura.

Documento

Ele destaca ainda que, “este livro de Socorro Magalhães, elaborado com a sagacidade analítica que é peculiar na sua escrita, é parte do esforço de um grupo de pesquisadores das áreas de história e literatura que nas últimas décadas utilizam os folhetins de Clodoaldo Freitas como fontes documentais e como meio de acessar sociabilidades, universo político, os valores, os afetos e as tensões que marcaram a sociedade brasileira no final do século XIX e o início do século XX”.

A obra é prefaciada pela professora, historiadora e acadêmica Teresinha Queiroz.

O sumário do livro sobre Clodoaldo Freitas

Acadêmica Socorro Rios Magalhães.

Sai a programação completa do Salipi 2021

A 18ª e 19ª  edição do Salão do Livro do Piauí (Salipi) se aproxima e a Fundação Quixote e a Universidade Federal do Piauí (UFPI) já fecharam a programação. Serão 7 dias de atividades intensas. Na programação, palestras com escritores nacionais e locais, bate-papo literário com diversos lançamentos de livros, apresentações musicais, feira de livros e muito mais.

Nomes consagrados da literatura nacional estarão presentes no evento como o escritor do Rio Grande do Sul, Fabrício Carpinejar, a paulista Aline Bei autora do livro “O peso do pássaro morto”, a cearense Socorro Acioly, vencedora do prêmio jabuti de literatura e participando do bate-papo literário Zeca Baleiro e Salgado Maranhão no dia 17. Em seguida, Zeca Baleiro fará um Poket Show no palco “Marcos Peixoto” que está sendo montado para o evento.

O Salão do livro do Piauí- SALIPI será  realizado de 13 a 19 de dezembro  no Complexo Rosa dos Ventos na UFPI. Com o tema “Onde houver trevas, que eu leve livros” o evento vai homenagear os escritores piauienses Graça Vilhena e Climério Ferreira.

Para quem deseja participar das palestras as inscrições devem ser feitas pelo site www.salipi.com.br

@fundacaoquixote

Segue a programação completa

SEMINÁRIO LÍNGUA VIVA

ESTAÇÃO LETRAS E EXPRESSÕES

BATE-PAPO LITERÁRIO

PALCO MARCOS PEIXOTO

 

SALIPI volta este mês com duas edições

Imagens: Ascom/APL

Professores Jasmine Malta e Kássio Gomes, da Coordenação do Salpi, na APL

O Salão do Livro do Piauí (SALIPI) está de volta, e em dose dupla.

Duas edições do SALIPI serão realizadas no período de 13 a 19 deste mês, no Espaço Cultural Rosa dos Ventos, na Universidade Federal do Piauí.

A 18ª edição do SALIPI homenageia a poetisa Graça Vilhena. A 19ª. presta homenagem ao poeta Climério Ferreira.

Os dois eventos serão realizados nos formatos híbrido e virtual.

A coordenação do SALIPI esteve na Academia Piauiense de Letras apresentando as duas versões do evento e convidando a APL a se fazer presente.

Os professores foram recebidos na APL pelos acadêmicos Zózimo Tavares (presidente), Magno Pires (vice-presidente) e Fonseca Neto (1º secretário).

O evento não foi realizado em 2020 por causa da pandemia da Covid-19.

Acadêmico recebe a Medalha Conselheiro Saraiva

 

 

Acadêmico Dilson Lages recebe a Medalha Conselheiro Saraiva

 

O professor, escritor e acadêmico Dilson Lages Monteiro foi agraciado com a Medalha do Mérito Conselheiro José Antônio Saraiva, a mais importante comenda do Município de Teresina, pelos relevantes serviços prestados à cultura.

A solenidade de entrega da honraria, presidida pelo prefeito José Pessoa Leal (Dr. Pessoa), foi realizada na noite de quinta-feira (02/12) no Teatro do Centro Cultural Sesc Cajuína.

As indicações dos agraciados são feitas pelo Conselho Deliberativo da Comenda, composto por membros da Prefeitura de Teresina e representantes da sociedade civil.

Participaram da cerimônia os acadêmicos Valdeci Cavalcante (presidente do SESC-Piauí), Zózimo Tavares (presidente da APL), Reginaldo Miranda (representante da Academia Piauiense de Letras no Conselho), Fonseca Neto (presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e membro do Conselho da Comenda) e Elmar Carvalho.

Conferências Regionais de Cultura reúnem mais de 250 inscritos

Conferências Regionais de Cultura, em Teresina: mais de 250 participantes.

 

O Conselho Estadual de Cultura, em conjunto com a Secretaria de Cultura e a Associação Piauiense dos Municípios (APPM), realizou nesta sexta-feira (03/12), em Teresina, as Conferências Regionais de Cultura, englobando os 12 territórios do Piauí e com a participação de mais de 250 inscritos.

O presidente do Conselho Estadual de Cultura, acadêmico Nelson Nery Costa, informou que as Conferências Regionais dão prosseguimento às contribuições ancoradas nas etapas Municipais, a cargo de cada município.

Os gestores também poderão oportunizar o financiamento para as ações culturais no município, a exemplo da tramitação de novos incentivos, como a Lei Paulo Gustavo, que prevê R$ 4,3 bilhões até o final de 2022, tal como a expectativa pela aprovação de uma nova dotação orçamentária para a Lei Aldir Blanc.

Nesse sentido, explicou Nelson Nery, os atores culturais, gestores e sociedade civil, poderão auxiliar na construção do Plano Estadual de Cultura, elencando os principais pilares para o desenvolvimento do setor e atração de projetos.

Com as Conferências Regionais, o Conselho Estadual de Cultura vê uma oportunidade de intercâmbio entre os atores culturais, causando o envolvimento das mais distintas esferas numa construção conjunta de ações que possam pautar o desenvolvimento artístico e cultural do nosso Estado, enaltecendo nossas raízes, tradições e também com um olhar para o futuro.

O foco do CEC é a construção, aprovação e implementação do Plano Estadual de Cultura, que será consolidado em janeiro, com a realização da Conferência Estadual.

Um romance de Assis Brasil

Capa do romance “O Prestígio do Diabo”, edição da APL (2017).
Rogel Samuel  (*)
Em ”O prestígio do diabo” (São Paulo, Melhoramentos, 1988) Assis Brasil apresenta o panorama da vida da pequena classe média daquela época com maestria, pois o personagem Lázaro é escriturário, bem comportado, humilde, correto, calmo, preocupado com as aparências (“o que vão pensar?”, “começaram a olhar”, “podiam pensar que fosse um ladrão”), cuidadoso com a mãe e a irmã, tímido (nunca se declarou para Cacilda) e de repente, depois de algumas “quedas” (em que sentia que algo o empurrava ao chão) perde o emprego e começa a mudar. A alteração é lenta, quase imperceptível, mas vai assim até o seu surpreendente fim. O livro é muito bem construído, como todos os de Assis Brasil, e exibe a sociedade carioca das décadas de 60/70, o clima, o cotidiano, o centro da cidade, o subúrbio, no caráter humilde e bem comportado do jovem Lázaro (cujo nome é significativo). Sua mudança lenta e terrível, assim como foi a transformação moral da sociedade carioca. Há no livro um velado questionamento da luta do Bem contra o Mal, onde o “prestígio” do Mal vence.
O principal personagem, porém, é a sociedade carioca, a classe média pobre do Rio de Janeiro, a rua, a decadência das ruas, a vida, a corrupção do meio urbano. O romance é pessimista. Descreve com sutileza a loucura das grandes cidades. Abre a vida sem sentido, o aviltamento da moral brasileira, não só dos políticos ou da classe dominante, mas da sociedade como um todo, e principalmente a perda dos valores morais da classe média, o desvalorizar generalizado da vida privada, a sua favelização. O que está em jogo não é só vida pública, mas a contaminação do familiar, pois o mundo somos nós. O mestre Assis Brasil desse modo se faz herdeiro do romance machadiano.
(*) Escritor e crítico literário. Texto publicado originalmente em 29/11/21, na página do autor do Facebook. Uma nova edição da obra analisada saiu em 2017, através da Coleção Centenário, da APL. 

Calou-se um homem de letras

Escritor  e acadêmico Assis Brasil, um dos grandes nomes da moderna Literatura Brasileira

Cineas Santos (*)

Saiu de cena hoje (28/11/ ) Francisco de ASSIS Almeida BRASIL ( 92 anos de idade), um dos grandes nomes da moderna literatura brasileira. Certa feita Assis afirmou: “Eu não vivi; tive apenas vida literária”. Não era força de expressão: o autor de Beira Rio Beira Vida escreveu mais de cem obras, de literatura infanto-juvenil a ensaios filosóficos.

Piauiense, de Parnaíba, Assis Brasil viveu quase sempre distante do Piauí. Jornalista, professor, ficcionista e crítico literário, tornou-se conhecido a partir de 1965 quando publicou Beira rio beira vida, romance que lhe rendeu o Prêmio WALMAP, obra integra a Tetralogia Piauiense, que se completa com A Filha do meio quilo, O salto do cavalo cobridor e Pacamão. Dez anos depois, voltaria a ganhar o mesmo prêmio com Os que bebem como os cães.

Quando H. Dobal foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras (2002), na companhia de alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro com o poeta. Já no final da homenagem, apareceu Assis Brasil escorando-se nas paredes do auditório. Com voz sumida, explicou: “Estou saindo de uma depressão terrível” e mais não disse. Cumprimentou o Dobal e desapareceu.

Em 2006, os organizadores do SALIPI resolvemos homenageá-lo. Coube a mim a incumbência de convidá-lo. Assis Brasil agradeceu a homenagem, mas afirmou que, por problemas de saúde, não poderia vir a Teresina. Recorremos à professora Francigelda Ribeiro, amiga do escritor, para tentar convencê-lo a vir. Depois de demorada negociação, Assis afirmou que viria, mas, em hipótese alguma, falaria ao público. Contrafeito, veio.

Às 19 h, Assis Brasil adentrou o auditório do Centro de Convenções de Teresina para a abertura da 4ª edição do SALIPI. Ao ser anunciado, as 700 pessoas que lotavam o espaço levantaram-se e o aplaudiram por mais de dez minutos. Aturdido, emocionado e feliz, Assis agarrou o microfone e falou mais de 40 minutos. Afável e cordial, respondeu às perguntas, distribuiu autógrafos, ressuscitou… Emocionado, não me contive e repeti G. García Márquez:” O que a felicidade não curar nada cura”. No ano seguinte, Assis Brasil mudou-se de mala e cuia para Teresina onde, festejado pelo público e sob o guarda-chuva do afeto de Leonardo Dias, escreveu mais uns dez livros.

Seu silêncio deixa-nos mais pobres e mais tristes. De qualquer forma, sua obra permanecerá viva.

(*) Professor, escritor, editor e membro do Conselho Estadual de Cultura.

“Bandeirantes”, de Assis Brasil

Escritor e acadêmico Assis Brasil, autor de “Bandeirantes” e outras mais de 100 obras

    

Francisco Miguel de Moura (*)

                                                                                                      

                       Primeiro pensei em falar apenas sobre o livro “Bandeirantes – Os Comandos da Morte”, Editora Imago, Rio, 1999, Volume I da série “500 Anos da Descoberta do Brasil”.  São 224 pgs. da epopéia do bandeirismo. De Borba Gato a Garcia Pais, Raposo Tavares, Fernão Dias e muitos outros personagens da História, sem contar os inventados.

– Não! – disse comigo mesmo, pois não se deve dizer muito sobre o livro no dia do lançamento, é indiscrição. Sugerir sua leitura, sim, é melhor homenagem ao escritor.

Depois pensei em falar sobre o Autor, Francisco de Assis Almeida Brasil, ou somente ASSIS BRASIL. Mas lembrei-me logo: São 106 livros publicados, contando com “Bandeirantes”, marca até então somente superada, ao que sei, por Coelho Neto. A singularidade de sua construção romanesca foi outra alternativa que me ocorreu. Mas não calha bem para o momento. Uma análise merece paciência e tempo mais do que me é dado.

Situemos, pois, a contribuição de ASSIS BRASIL como escritor. Depois que Jorge Amado parou de produzir, quem seriam os melhores romancistas deste país? Citam-se Rubem Fonseca, Ana Miranda e Assis Brasil. Para meu gosto, o primeiro é um grande contista mas deixa muito a desejar como romancista. Ana Miranda escreveu três romances bons, mas anda longe de possuir a versatilidade de Assis Brasil, que é, sem dúvida, o maior escritor vivo e em exercício, levando-se em conta quantidade e qualidade, sem esconder que Assis Brasil é também o maior crítico literário que possui o Brasil.

Resta dizer o óbvio. Que saiu muito jovem de Parnaíba, onde nasceu, que enfrentou o mundo no peito e na raça, e venceu, continuando os estudos em Fortaleza, onde começa a trabalhar.  E que depois vai para o Rio, onde continua a luta maior, faz-se escritor, participa dos melhores grupos de sua geração, é vanguarda, e torna-se grande. Grande sem vaidade, sem orgulho tolo. Como homem realizado no ofício de escritor, vem-lhe o desejo natural de participar da Academia de Letras de seu Estado e vai eleito, assume, participa, aqui lança seus livros, aqui convive. Embora não tenha exatamente um espírito acadêmico.

Em se falando de Academia, permitam-me uma indiscrição. Na última carta que me fez, Assis Brasil informa: “Ontem fui à posse da Stella Leonardos na Academia Carioca de Letras. Ela é esforçada, quer sair da marginália, mas comete o erro de tentar se afirmar pela periferia…  A coisa é complicada. Passou 15 anos levando bolinhos e chás para os acadêmicos da ABL: Aurélio, Montelo, et caterva, e aplaudiam-na. Era uma festa. Quando se sentiu segura para candidatar-se a uma vaga – merecia – não entrou. Agora, o inexpressivo Murilo Melo Filho, bava-ovo do Bloch… Bem, a Stella teve um voto… Nem a prima Rachel votou nela.”

Depois da morte de Carlos Castelo Branco, nosso Estado ficou sem a representação que possuía na Academia Brasileira de Letras.  Assis Brasil bem merece participar da ABL. O falecimento de Dias Gomes abriu uma vaga. Creio que ele teria mais que o voto que teve minha amiga, a escritora Stella Leonardos. Assis Brasil merece muito mais, já venho dizendo e escrevendo há muito tempo. E por que não o Prêmio Nobel de Literatura para o Brasil e para Assis Brasil? Por que nasceu no Piauí, não merece? Merece, sim. Outros escritores brasileiros também merecem. Mas no momento seria oportuno e justo que alguma entidade cultural o lançasse.

Para nós, é uma alegria tê-lo como amigo, a Academia Piauiense de Letras se orgulha de tê-lo em seu quadro.  O Piauí deve orgulhar-se disto. Os brasileiros devem orgulhar-se da sua inteligência, capacidade e operosidade, do trabalho que faz para que a literatura cresça e prospere. Porque um povo sem literatura é um povo incompleto. Um povo com uma literatura fraca é um povo fraco. Uma língua sem literatura é uma língua fadada a morrer.

Numa época de dificuldades econômico-financeiras como a que atravessamos, é um milagre tanto estímulo para escrever, para publicar, e existir quem dispense tanta atenção como Assis Brasil dispensa à literatura e aos demais colegas, embora reconheça que muitos “coleguinhas” têm ciúme do seu sucesso e porque publica muito. Ora, ora, vão-se às capembas!

Não posso mencionar todos os livros que escreveu. Quanto a “Bandeirantes”, aviso que a introdução de ensaios didáticos, necessários, é bem elaborada. Tendo paciência, aprende-se. É neste ponto que lembramos de “Os Sertões”, com seus capítulos iniciais de geografia, geologia e ciências sociais, antes de entrar propriamente na epopéia de Canudos. E o livro Euclides da Cunha é padrão em nossa literatura.  Também não custa referir-me a uma obra internacional, “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera, que possui longa introdução teórico-filosófica. É a tendência universal, pós-moderna, do romance. Os romances históricos de Assis Brasil são assim, muito especialmente “Bandeirantes”.

Com base em historiadores de peso, uns mais criativos e outros mais anotativos, a Assis Brasil não lhe faltam boa matéria e imaginação. O imaginário para o romance histórico americano começa quando se sabe que não se sabe nada da origem dos povos primitivos da América, especialmente os do Brasil. Mas Assis Brasil investiga minuciosamente e coloca muitas perguntas de pé: se somos descendentes de asiáticos, dos atlantis, dos víquingues, dos fenícios, dos árabes ou autóctones. No final do capítulo introdutório, o Autor chega a uma conclusão. É quando escreve que “Ninguém, na realidade, sabe de onde viemos ou de onde se originaram os tupinambás (…)  …mas é simpático e curioso sabermos – talvez pelos desvãos mitológicos da História – que tupis e guaranis, em algum momento teriam exercido o papel de guarda-costeira dos vikings, do rio da Prata ao Amazonas e delta do Parnaíba. Na cidadezinha de Pedra do Sal, no Piauí, existiria um túnel viking, construído para a defesa da colônia e acesso a regiões mais seguras. Cremos que um dia será encontrado. No entanto, é estimulante para o romancista, cuja matéria prima é a imaginação, compartilhar da opinião de alguns pesquisadores que têm ligado a Àsia às Américas e seguido as pegadas dos enigmáticos migrantes, primeiro até a região central dos Estados Unidos, e depois até Monte Alegre, no Pará. Poderiam ter sido duas ‘pinças’ que, afinal, se encontraram. Mas, para os arqueólogos detalhistas, há diferença cultural entre os dois grupos a partir mesmo da ponta das flechas… Admitindo ainda os estudiosos do passado americano e brasileiro que poderiam existir outros povos nesse cadinho de especulação científica e histórica, resta saber quem eram os ‘intermediários’ entre os amazonenses e os norte-americanos.”

Por curiosidade, vão mais estas passagens, diante do que a gente se espanta com a crueldade daqueles homens, colonizadores e bandeirantes: a) –  Que Domingos Jorge Velho “recebeu francos elogios do arcebispo da Bahia por ter trazido, numa de suas entradas, 260 pares de orelhas de índios”;  b)  – que “os homens santos (jesuítas), em 1549, assistiram à cruel demonstração de força do comandante português (Governador Geral, Tomé de Sousa), ao estraçalhar, na boca dos canhões, o corpo de alguns índios velhos… e rebeldes”;  c) –  que “os membros da Companhia de Jesus, como José de Anchieta, diziam coisas tais como estas:  Para este gênero de gentes (os índios) não há melhor pregação do que espada e vara de ferro” .

“Bandeirantes”, de Assis Brasil, é um livro caleidoscópico no sentido próprio e no figurado, pois que apresenta seus personagens no presente, em ação.  Claro que se trata de  uma paráfrase, mas justo onde desponta a criatividade que falta à História, presa a documentos muitas vezes fictícios, forjados, apócrifos – especialmente a nossa. É justamente isto que se admira em Assis Brasil: não repetir-se na estruturação, enquanto escreve tanto, usando da técnica estilística da repetição. Forma, fórmula e fôrma. Assis é adepto da forma, abjura as fórmulas porque é criador, e da fôrma, nem falar, visto que quem a usa é o artesão. Primeiramente, como referi, vêm os ensaios. O romance começa mesmo lá pela pag. 71, com personagens da História que se transformam em personagens de romance, de drama, de tragédia. São eles João Ramalho, Borba Gato, Garcia Pais, Raposo Tavares, Fernão Dias Pais, Maria Betim, Maria Leite, Bartyra, Tanyyá, Tibiriçá, Brás Cubas e outros, em episódios diversos, sendo principais a fundação de São Paulo de Piratininga e Ipiroig.   Mas aí já é a estória da História, a qual nenhum bom apresentador  conta, quando muito aponta,  para que os leitores fiquem de água na boca.

Assis Brasil é um bandeirante das letras, no melhor sentido, enquanto caçador de pedras preciosas, com aquele ímpeto e a coragem indomável de quem sabe que busca o caminho da verdade, da beleza e das virtudes mais humanas.

Finalizando, refiro-me a um pequeno e comovedor episódio de “Bandeirantes”,  do capítulo “Estranho Leilão”.  O capitão Matias Cardoso e Fernão Dias Pais se encontram, descem de seus cavalos, abraçam-se e conversam sobre os entreveros com os índios mapaxós. Fernão Dias preocupa-se com os filhos José Dias e Garcia Pais e por um instante fica pensativo, coça a longa barba branca e diz que o primeiro “é veterano no combate e no matar”, mas Garcia Pais, embora animado, é inexperiente. Terá coragem de matar no fragor da batalha, mas, a sangue frio, que acontecerá? E se, chegado o momento, ele fracassar?

Matias Cardoso, entretanto, lhe assegura que Garcia Pais matará, “se é que já não matou”.  E acrescenta que o menino traz essa vocação no sangue.

Mas, inconformado, Fernão Dias contrapõe: – “Sei que não é hora nem tempo para tal assunto, primo Matias. Nunca conversaria sobre isso com Borba Gato ou com José Dias. Eles já estão macerados pelo que viveram e presenciaram de violência e de matança. O meu jovem Garcia Pais, sei, tem algo que os outros não têm… ou que já tiveram. É o lado bom da mãe dele. Não, não gostaria de vê-lo perder a face de misericórdia e de perdão. Tampouco posso dizer isso para Garcia Pais. Tenho me feito durão, frio, calculista perante ele. É que já fui como meu filho…”

Para os que acham que a arte não tem nada a ver com a moral,  o episódio do romance de Assis Brasil sirva de lição. Até àqueles homens turbulentos, cruéis, assassinos, o remorso chega pela pena do romancista:  é uma luz na escuridão dos  espíritos.

Esta foi a minha leitura, vocês farão outras, certamente. A literatura é o reino da liberdade. E o romance é o melhor gênero para exercê-la. Leiam o romance de Assis Brasil, é a melhor homenagem que podemos prestar a um autor.

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* Francisco Miguel de Moura é escritor e membro da APL. Apresentação de “Bandeirantes” na Academia Piauiense de Letras.

Acadêmicos lamentam a partida de Assis Brasil

Escritor Assis Brasil: mais de 100 livros publicados.

O falecimento do jornalista e escritor Assis Brasil foi lamentado por membros da Academia Piauiense de Letras, onde ele ocupava a Cadeira 36 e desfrutava da amizade e da admiração dos confrades.

Em mensagens no Grupo de WhatsApp da APL, os colegas manifestaram seu pesar pela perda do escritor.

Para o acadêmico e desembargador Oton Lustosa, “perdemos um ficcionista de grande valor no cenário da literatura brasileira, com vários livros publicados”.

O acadêmico, historiador e deputado Wilson Brandão destacou que Assis Brasil como “um grande brasileiro!”

A acadêmica Socorro Rios Magalhães, professora de Literatura, afirmou que o falecimento do escritor significa “Uma grande perda para a literatura brasileira”.

O médico e acadêmico Luiz Ayrton Santos Júnior esteve na casa do escritor ajudando o editor Leonardo Dias a providenciar o velório. E disse que Assis Brasil “estava com um semblante de paz”.

Para o acadêmico Magno Pires, “o falecimento de Assis Brasil emudece, em parte, a literatura brasileira e a piauiense, porquanto autor de mais de 100 obras; entretanto, essas obras representam o seu grandioso legado à sociedade nacional. Falece o escritor, porém, as obras permanecerão divulgando o escritor brasieleiro Assis Brasil”.

O acadêmico Nelso Nery, também presidente do Conselho Estadual de Cultura, escreveu que “o Brasil perdeu um grande escritor”.

O velório será na Pax União e o sepultamento está marcado para as 16h, no Jardim da Ressureição.

A APL divulgou Nota de Pesar ontem à noite:

Governador faz visita de cortesia à APL

Imagens: Jairo Moura

O governador Wellington Dias fez visita de cortesia, ontem (27/11), à Academia Piauiense de Letras, onde foi recebido por toda a diretoria e vários acadêmicos.

Ele agradeceu a contribuição da APL ao Estado, através da publicação das coleções “Centenário” (com 150 títulos) e “Século 21” (com 60 títulos) e de várias outras iniciativas literárias e culturais.

Também lembrou que já esteve na sede da Academia em vários momentos, como em solenidades de posse, conferências e lançamentos de livros.

O presidente da APL, Zózimo Tavares, agradeceu a visita em nome dos acadêmicos e apresentou um breve balanço das atividades da instituição.

Ele citou entre as principais a vitória da Academia pela inclusão do Ensino de Literatura Piauiense nas escolas públicas e privadas como disciplina obrigatória, a partir de 2022.

O governador recebeu um kit de obras lançadas pela APL, incluindo “Trechos do Meu Caminho”, livro de memórias do ex-governador e ex-senador Leônidas Melo, e a última revista da Academia.

APL elege o padre Tony Batista para Cadeira 22

Padre Tony (ao centro) na APL para agradecer eleição.

A Academia Piauiense de Letras elegeu hoje (27/11) o padre Tony Batista para ocupar a Cadeira 22, vaga com o falecimento do acadêmico Nildomar da Silveira Soares, ocorrido em agosto passado.

O anúncio do resultado do pleito foi feito no final da manhã pelo presidente da Comissão Eleitoral da APL, acadêmico Reginaldo Miranda.

Dos 31 votos computados, o padre Tony recebeu 27. Foram registrados um voto em branco e um nulo.

Como de praxe, o candidato eleito foi à Academia após a proclamação do resultado pelo presidente, Zózimo Tavares, para agradecer a sua acolhida no sodalício.

O advogado Sérgio Silveira, filho do desembargador e acadêmico Nildomar, acompanhou na sede da APL o anúncio do resultado e disse que a família estava satisfeita com a eleição do padre Tony.

O novo acadêmico

Antônio Soares Batista, o padre Tony, é vigário-geral da Arquidiocese de Teresina, professor universitário, jornalista, radialista escritor e orador sacro.

Formou-se em Filosofia pela Universidade Católica de Salvador e fez mestrado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Especializou-se em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Santiago do Chile e fez curso de francês na Sorbone (França).

Na Arquidiocese de Teresina, exerceu, entre outras funções, as de pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima (de 1975 a 2000), vigário episcopal para as Comunicações e Ação Social e de professor de Teologia.

Desde a juventude, tem uma atuação intensa nos meios de comunicação: rádio jornal, televisão, revista e, agora, nas mídias sociais.

Diretor da ASA (Ação Social Arquidiocesana) e presidente da Fundação Dom Avelar Brandão Vilela, mantenedora da Rádio Pioneira de Teresina.

Bibliografia

Três obras do e sobre padre Tony foram lançadas recentemente: “Frutos de Fátima, uma Paróquia Santa”, sobre a primeira paróquia de Teresina à margem direita do rio Poty, na expansão da capital para a zona Leste; o livro-álbum “Memórias de um Peregrino”, com os registros de dezenas de 30 viagens suas à Terra Santa, e a autobiografia “Padre Tony – o irmão mais velho”.

Comissão Eleitoral da Academia apura os votos.

 

Comissão Eleitoral da Academia apura os votos.

Sérgio Silveira acompanha anúncio do resultado da eleição na APL.