I Centenário da APL

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Nelson Nery Costa – Presidente da APL

De que matérias são feitos os sonhos? De que se baseiam as aspirações pessoais e sociais? Trata -se de uma reação química? Ou está fora da química ou da física das partículas? O que fez dez homens sonharem de olhos abertos? O que levou a imaginação para se criar e instalar-se uma instituição voltada para a literatura, o conhecimento e a cultura? Foi apenas a inspiração da Academia Brasileira de Letras fundada, em 1897, por Machado de Assis? Era tão somente completar a primeira tentativa piauiense de fazer o mesmo, em 1901? Ou apenas sonhar?

1917 foi um ano cabalístico. Muitas mudanças, incrível. No social, a célebre Constituição Mexicana de 1917 que pela primeira vez constitucionalizou os direitos sociais. Para quebrar de vez os paradigmas, a Revolução Soviética de Outubro de 1917, com Lênin mobilizando as massas e, bem ou mal, construindo a primeira pátria socialista. Em 26 de outubro de 1917, o Brasil declarou guerra à Alemanha, depois de intensa manifestação popular como não se tinha visto antes.

Em 1917 também estava quente na cultura do Piauí. De pronto, uma bomba lírica devastadora, com Zodíaco, de Da Costa e Silva, lançado no mesmo ano, agora também com um século. Em 1917, também Vidas Obscuras. Adiante do ano, o mesmo jovenzinho incendiou tudo com suas ideias e seu carisma, Lucídio, que logo levou duas importantes lideranças da política e da cultura, o pai Clodoaldo Freitas e o amigo deste Higino Cunha, que por sua vez trouxe o filho Edson e o genro Jônatas Batista e os irmãos Celso e João Pinheiro e os amigos Antônio Chaves, Fenelon Castelo Branco e Baurélio Mangabeira. Dez. E tudo ocorreu em 30 de dezembro de 1917…

O que aconteceu em um século? Duas Guerras Mundiais, duas bombas atômicas explodidas, a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnan, as guerras de Israel, as guerrilhas em favor da independência, as guerrilhas em favor do socialismo, as guerrilhas a favor delas próprias. Veio o jazz e a arte moderna. As saias subiram aos joelhos e os biquínis diminuíram de tamanho. Tudo mais cool… Gramsci, Sartre, Haberman, Bobbio. Joyce, Hemingway, Cortazar, Humberto Eco. Oswald, Drummond, Caio Prado Júnior, Tarsila. O cinema, a TV e a computação. As redes sociais. A Lua. As vacinas e o HIV.

Imaginando tanto tempo para trás, tantas histórias, prosas, poesias, várias biografias e estudos críticos, contando de um a cem, um por um. O tempo foi sábio, algumas vezes simpático, noutras rancoroso, o tempo não olhou para o próprio tempo. E, assim, num piscar de olhos… cem anos. Quarenta patronos, cento e cinquenta e um acadêmicos. Noventa e nove anos da Revista da Academia Piauiense de Letras, trinta e um anos da sede atual. Dezessete anos no novo século. Oitenta e três anos para o século XXII. Num sonho, sonhado por muita gente, de repente outro sonho, o amanhã e o próximo século.

Nelson Nery Costa Presidente da APL


Conteúdo extraído do LIVRO DO CENTENÁRIO DA ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS – A presente edição integra a Coleção de Documentos Piauienses, da Academia Piauiense de Letras, e constitui-se no ?Livro do Centenário?, organizado pelo Acadêmico Nildomar da Silveira Soares e patrocinado pelo Convênio Siec 2017.