APL presta homenagem à memória de Assis Brasil

“Assis Brasil foi o maior fenômeno da prosa ficcional da história literária do Piauí”, afirmou o professor e acadêmico Dilson Lages, na oração da saudade em memória do escritor.

O panegírico de Assis Brasil foi realizado no sábado passado (28/05), na Academia Piauiense de Letras, exatamente na passagem de seis meses do falecimento do escritor.

Dilson Lages disse que Assis Brasil, nascido em Parnaíba, em 1929, escreveu e publicou 140 livros, muitos deles reeditados várias vezes.

Sua trajetória literária foi iniciada em 1953, com o romance infanto-juvenil “Verdes mares bravios”.

Ao mesmo tempo, publicava artigos que o levaram a ser um escritor profissional.

A busca da perfeição

A professora Divaneide Carvalho fez o discurso de agradecimento da homenagem da APL, em nome da família, e destacou que Assis Brasil incursionou por todos os gêneros literários,

Foi jornalista, professor, historiador literário, tradutor, antologista, ensaísta e dicionarista, ao longo de mais de 60 anos de intensa atuação no campo das letras.

“Ascendeu sempre rumo à perfeição textual”, enfatizou, assinalando que o escritor atingiu o seu apogeu com o centésimo livro, intitulado “O sol crucificado”, publicado em 1998 e dedicado ao romancista O. G. Rego de Carvalho.

A homenagem

O panegírico de Assis Brasil, realizado no auditório da APL, contou ainda com a presença dos acadêmicos Carlos Evandro Eulálio, Elmar Carvalho, Felipe Mendes, Fides Angélica (secretária geral da APL e cerimonialista), Fonseca Neto (1º secretário), Francisco Miguel de Moura, Itamar Costa, Luiz Ayrton Santos Júnior, Magno Pires (vice-presidente), Nelson Nery (presidente do Conselho Estadual de Cultura), Oton Lustosa, Plínio Macêdo, Reginaldo Miranda e Teresinha Queiroz.

Também participaram virtualmente da Sessão Solene da Academia, realizada no formato híbrido e conduzida pelo presidente Zózimo Tavares, os acadêmicos Jonathas Nunes, Moisés Reis e Pedro da Silva Ribeiro, este de Brasília.

Entre os convidados, destacaram-se as presenças da presidente da União Brasileira de Escritores, Seção do Piauí, Lisete Napoleão Medeiros, da professora Raimunda Celestina (UESPI) e do professor Luiz Romero, da coordenação do Salão do Livro do Piauí (Salipi).

A Academia Piauiense de Letras publicou de Assis Brasil o livro “O Prestígio do Diabo”, volume 83 da Coleção Centenário,

Mesa de honra do Panegírico de Assis Brasil, na APL.

Acadêmicos presentes ao panegírico de Assis Brasil.

Panegírico de Assis Brasil será no sábado, dia 28

A Academia Piauiense de Letras realiza, no próximo sábado (28/05), às 10h, o panegírico do escritor Assis Brasil, falecido em 28 de novembro do ano passado, em Teresina, aos 92 anos.

A oração da saudade será proferida pelo professor e acadêmico Dilson Lages, com mensagem de agradecimento da professora Divaneide Carvalho.

O panegírico será realizado em sessão solene da Academia, aberta ao público, no auditório acadêmico Wilson Brandão, na sede da instituição, localizada na Av. Miguel Rosa, 3.300 – Centro-Sul.

O homenageado

Romancista, cronista, crítico literário e jornalista, nascido em Parnaíba, em 1932, Assis Brasil saiu muito jovem de sua cidade natal e teve uma intensa participação na imprensa nacional e na literatura.

Crítico Literário do Jornal do Brasil, 1956-1961; colunista literário do Caderno B do Jornal do Brasil 1963-64; crítico literário do Diário de Notícias, Rio, 1962- 63; do Correio da Manhã (Revista Singra e Suplemento Literário), Rio, 1962 e 1972; de O Globo (Arte e Crítica), 1969-1970; da Revista O Cruzeiro, Rio, 1965-1976; e do Jornal de Letras, 1964-1989.

Publicou artigos e ensaios nos seguintes órgãos culturais: Senhor, Mundo Nuevo, Revista do Livro, Leitura, Enciclopédia Bloch, Usina das Letras, suplemento de O Estado de São Paulo, Diário Carioca, Tribuna de Imprensa, Jornal do Comércio, Minas Gerais, Correio do Povo e O Povo.

Bibliografia

Publicou mais de 100 livros, destacando-se os romances da Tetralogia Piauiense – Beira Rio, Beira Vida, 1965; A Filha do Meio Quilo, 1966; O Salto do Cavalo Cobridor Pacamão; Ciclo do Terror: Os que Bebem como os Cães e outros.

Escreveu também os romances históricos: Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos e Bandeirantes – os comandos da morte, etc.

Contos: Contos do Cotidiano Triste, História do Rio Encantado e outros. Ensaios: Faulkner e a Técnica do Romance.

Ultimamente, dedicava-se à Literatura Infantil.

 

APL escolhe novo ocupante para cadeira de Assis Brasil

A Academia Piauiense de Letras (APL) realiza,  sábado (09/04), eleição para o preenchimento da Cadeira 36, que teve como último ocupante o escritor Assis Brasil, falecido em 28 de novembro do ano passado.

A votação será realizada entre 8 e 11 horas, na sede da APL, na Avenida Miguel Rosa, 3.300-Sul/Centro. Vários acadêmicos já anteciparam o voto, encaminhado em envelope lacrado à Academia.

Dois candidatos concorrem à cadeira de Assis Brasil, o poeta e compositor Climério Ferreira e o escritor João Alves Filho.

A eleição será realizada em segundo turno, pois no primeiro, ocorrido em 11 de março, nenhum dos candidatos conseguiu o quórum mínimo de 19 votos.

Climério Ferreira obteve 17 votos e João Alves conseguiu 5, empatando com o candidato Marcos Freitas e passando ao segundo turno por ser o mais idoso entre os mais votados em segundo lugar.

O processo vem sendo conduzido pela Comissão Eleitoral da APL, presidida pelo acadêmico Reginaldo Miranda e composta pelos acadêmicos Dilson Lages, Elmar Carvalho, Fonseca Neto e Nelson Nery.

Os candidatos

Climério Ferreira nasceu em Angical do Piauí.  É professor aposentado da Universidade de Brasília. Desde 1975, já publicou 14 livros de poesia. O 15º, intitulado “A música imóvel do tempo”, foi lançado no último Salão do Livro do Piauí, que o homenageou em sua 19ª edição.

Climério Ferreira tem mais de 100 canções gravadas por intérpretes como Dominguinhos, Fagner, Ednardo, Elba Ramalho, Amelinha, Fernanda Takai e padre Fábio de Melo.

João Alves Filho, servidor público federal aposentado, é presidente da Academia Campomaiorense de Artes e Letras (ACALE). “Vultos e Fatos da História de Campo Maior” é um dos livros de sua autoria.

Tem intensa participação na vida cultural de sua cidade e pertence ainda a outras instituições literárias, como Academia de Letras do Vale do Longá – ALVAL, Academia Maçônica de Letras do Piauí e Academia Piauiense de Mestres Maçons.

Também exerce atividade política em seu município, onde foi vereador. Nas eleições passadas, foi candidato a vice-prefeito pelo PSL.

APL abre inscrições para a Cadeira de Assis Brasil

 

A Academia Piauiense de Letras publicou hoje (13/12) em seu site o edital abrindo inscrições à Cadeira 36, vaga com o falecimento do escritor e acadêmico Assis Brasil.

Conforme o edital, o prazo para as inscrições é de 30 dias. Com o recesso acadêmico regimental, o prazo de inscrições será interrompido e continuará com a abertura dos trabalhos da APL em 2022.

Os interessados deverão dirigir-se à Secretaria da APL (Avenida Miguel Rosa, 3300/Sul), no horário de 8h às 12h, através de requerimento dirigido ao Presidente, instruindo-o com exemplares de obras publicadas e curriculum vitae, com provas de naturalidade piauiense ou no referido Estado residir há mais de dez anos, conforme dispõem os arts. 1º e 7º, §§ 1º e 2º do Regimento Interno em vigor.

Eis o edital publicado pela APL:

Edital para o preenchimento da Cadeira 36 da APL

Um romance de Assis Brasil

Capa do romance “O Prestígio do Diabo”, edição da APL (2017).
Rogel Samuel  (*)
Em ”O prestígio do diabo” (São Paulo, Melhoramentos, 1988) Assis Brasil apresenta o panorama da vida da pequena classe média daquela época com maestria, pois o personagem Lázaro é escriturário, bem comportado, humilde, correto, calmo, preocupado com as aparências (“o que vão pensar?”, “começaram a olhar”, “podiam pensar que fosse um ladrão”), cuidadoso com a mãe e a irmã, tímido (nunca se declarou para Cacilda) e de repente, depois de algumas “quedas” (em que sentia que algo o empurrava ao chão) perde o emprego e começa a mudar. A alteração é lenta, quase imperceptível, mas vai assim até o seu surpreendente fim. O livro é muito bem construído, como todos os de Assis Brasil, e exibe a sociedade carioca das décadas de 60/70, o clima, o cotidiano, o centro da cidade, o subúrbio, no caráter humilde e bem comportado do jovem Lázaro (cujo nome é significativo). Sua mudança lenta e terrível, assim como foi a transformação moral da sociedade carioca. Há no livro um velado questionamento da luta do Bem contra o Mal, onde o “prestígio” do Mal vence.
O principal personagem, porém, é a sociedade carioca, a classe média pobre do Rio de Janeiro, a rua, a decadência das ruas, a vida, a corrupção do meio urbano. O romance é pessimista. Descreve com sutileza a loucura das grandes cidades. Abre a vida sem sentido, o aviltamento da moral brasileira, não só dos políticos ou da classe dominante, mas da sociedade como um todo, e principalmente a perda dos valores morais da classe média, o desvalorizar generalizado da vida privada, a sua favelização. O que está em jogo não é só vida pública, mas a contaminação do familiar, pois o mundo somos nós. O mestre Assis Brasil desse modo se faz herdeiro do romance machadiano.
(*) Escritor e crítico literário. Texto publicado originalmente em 29/11/21, na página do autor do Facebook. Uma nova edição da obra analisada saiu em 2017, através da Coleção Centenário, da APL. 

Calou-se um homem de letras

Escritor  e acadêmico Assis Brasil, um dos grandes nomes da moderna Literatura Brasileira

Cineas Santos (*)

Saiu de cena hoje (28/11/ ) Francisco de ASSIS Almeida BRASIL ( 92 anos de idade), um dos grandes nomes da moderna literatura brasileira. Certa feita Assis afirmou: “Eu não vivi; tive apenas vida literária”. Não era força de expressão: o autor de Beira Rio Beira Vida escreveu mais de cem obras, de literatura infanto-juvenil a ensaios filosóficos.

Piauiense, de Parnaíba, Assis Brasil viveu quase sempre distante do Piauí. Jornalista, professor, ficcionista e crítico literário, tornou-se conhecido a partir de 1965 quando publicou Beira rio beira vida, romance que lhe rendeu o Prêmio WALMAP, obra integra a Tetralogia Piauiense, que se completa com A Filha do meio quilo, O salto do cavalo cobridor e Pacamão. Dez anos depois, voltaria a ganhar o mesmo prêmio com Os que bebem como os cães.

Quando H. Dobal foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras (2002), na companhia de alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro com o poeta. Já no final da homenagem, apareceu Assis Brasil escorando-se nas paredes do auditório. Com voz sumida, explicou: “Estou saindo de uma depressão terrível” e mais não disse. Cumprimentou o Dobal e desapareceu.

Em 2006, os organizadores do SALIPI resolvemos homenageá-lo. Coube a mim a incumbência de convidá-lo. Assis Brasil agradeceu a homenagem, mas afirmou que, por problemas de saúde, não poderia vir a Teresina. Recorremos à professora Francigelda Ribeiro, amiga do escritor, para tentar convencê-lo a vir. Depois de demorada negociação, Assis afirmou que viria, mas, em hipótese alguma, falaria ao público. Contrafeito, veio.

Às 19 h, Assis Brasil adentrou o auditório do Centro de Convenções de Teresina para a abertura da 4ª edição do SALIPI. Ao ser anunciado, as 700 pessoas que lotavam o espaço levantaram-se e o aplaudiram por mais de dez minutos. Aturdido, emocionado e feliz, Assis agarrou o microfone e falou mais de 40 minutos. Afável e cordial, respondeu às perguntas, distribuiu autógrafos, ressuscitou… Emocionado, não me contive e repeti G. García Márquez:” O que a felicidade não curar nada cura”. No ano seguinte, Assis Brasil mudou-se de mala e cuia para Teresina onde, festejado pelo público e sob o guarda-chuva do afeto de Leonardo Dias, escreveu mais uns dez livros.

Seu silêncio deixa-nos mais pobres e mais tristes. De qualquer forma, sua obra permanecerá viva.

(*) Professor, escritor, editor e membro do Conselho Estadual de Cultura.

“Bandeirantes”, de Assis Brasil

Escritor e acadêmico Assis Brasil, autor de “Bandeirantes” e outras mais de 100 obras

    

Francisco Miguel de Moura (*)

                                                                                                      

                       Primeiro pensei em falar apenas sobre o livro “Bandeirantes – Os Comandos da Morte”, Editora Imago, Rio, 1999, Volume I da série “500 Anos da Descoberta do Brasil”.  São 224 pgs. da epopéia do bandeirismo. De Borba Gato a Garcia Pais, Raposo Tavares, Fernão Dias e muitos outros personagens da História, sem contar os inventados.

– Não! – disse comigo mesmo, pois não se deve dizer muito sobre o livro no dia do lançamento, é indiscrição. Sugerir sua leitura, sim, é melhor homenagem ao escritor.

Depois pensei em falar sobre o Autor, Francisco de Assis Almeida Brasil, ou somente ASSIS BRASIL. Mas lembrei-me logo: São 106 livros publicados, contando com “Bandeirantes”, marca até então somente superada, ao que sei, por Coelho Neto. A singularidade de sua construção romanesca foi outra alternativa que me ocorreu. Mas não calha bem para o momento. Uma análise merece paciência e tempo mais do que me é dado.

Situemos, pois, a contribuição de ASSIS BRASIL como escritor. Depois que Jorge Amado parou de produzir, quem seriam os melhores romancistas deste país? Citam-se Rubem Fonseca, Ana Miranda e Assis Brasil. Para meu gosto, o primeiro é um grande contista mas deixa muito a desejar como romancista. Ana Miranda escreveu três romances bons, mas anda longe de possuir a versatilidade de Assis Brasil, que é, sem dúvida, o maior escritor vivo e em exercício, levando-se em conta quantidade e qualidade, sem esconder que Assis Brasil é também o maior crítico literário que possui o Brasil.

Resta dizer o óbvio. Que saiu muito jovem de Parnaíba, onde nasceu, que enfrentou o mundo no peito e na raça, e venceu, continuando os estudos em Fortaleza, onde começa a trabalhar.  E que depois vai para o Rio, onde continua a luta maior, faz-se escritor, participa dos melhores grupos de sua geração, é vanguarda, e torna-se grande. Grande sem vaidade, sem orgulho tolo. Como homem realizado no ofício de escritor, vem-lhe o desejo natural de participar da Academia de Letras de seu Estado e vai eleito, assume, participa, aqui lança seus livros, aqui convive. Embora não tenha exatamente um espírito acadêmico.

Em se falando de Academia, permitam-me uma indiscrição. Na última carta que me fez, Assis Brasil informa: “Ontem fui à posse da Stella Leonardos na Academia Carioca de Letras. Ela é esforçada, quer sair da marginália, mas comete o erro de tentar se afirmar pela periferia…  A coisa é complicada. Passou 15 anos levando bolinhos e chás para os acadêmicos da ABL: Aurélio, Montelo, et caterva, e aplaudiam-na. Era uma festa. Quando se sentiu segura para candidatar-se a uma vaga – merecia – não entrou. Agora, o inexpressivo Murilo Melo Filho, bava-ovo do Bloch… Bem, a Stella teve um voto… Nem a prima Rachel votou nela.”

Depois da morte de Carlos Castelo Branco, nosso Estado ficou sem a representação que possuía na Academia Brasileira de Letras.  Assis Brasil bem merece participar da ABL. O falecimento de Dias Gomes abriu uma vaga. Creio que ele teria mais que o voto que teve minha amiga, a escritora Stella Leonardos. Assis Brasil merece muito mais, já venho dizendo e escrevendo há muito tempo. E por que não o Prêmio Nobel de Literatura para o Brasil e para Assis Brasil? Por que nasceu no Piauí, não merece? Merece, sim. Outros escritores brasileiros também merecem. Mas no momento seria oportuno e justo que alguma entidade cultural o lançasse.

Para nós, é uma alegria tê-lo como amigo, a Academia Piauiense de Letras se orgulha de tê-lo em seu quadro.  O Piauí deve orgulhar-se disto. Os brasileiros devem orgulhar-se da sua inteligência, capacidade e operosidade, do trabalho que faz para que a literatura cresça e prospere. Porque um povo sem literatura é um povo incompleto. Um povo com uma literatura fraca é um povo fraco. Uma língua sem literatura é uma língua fadada a morrer.

Numa época de dificuldades econômico-financeiras como a que atravessamos, é um milagre tanto estímulo para escrever, para publicar, e existir quem dispense tanta atenção como Assis Brasil dispensa à literatura e aos demais colegas, embora reconheça que muitos “coleguinhas” têm ciúme do seu sucesso e porque publica muito. Ora, ora, vão-se às capembas!

Não posso mencionar todos os livros que escreveu. Quanto a “Bandeirantes”, aviso que a introdução de ensaios didáticos, necessários, é bem elaborada. Tendo paciência, aprende-se. É neste ponto que lembramos de “Os Sertões”, com seus capítulos iniciais de geografia, geologia e ciências sociais, antes de entrar propriamente na epopéia de Canudos. E o livro Euclides da Cunha é padrão em nossa literatura.  Também não custa referir-me a uma obra internacional, “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera, que possui longa introdução teórico-filosófica. É a tendência universal, pós-moderna, do romance. Os romances históricos de Assis Brasil são assim, muito especialmente “Bandeirantes”.

Com base em historiadores de peso, uns mais criativos e outros mais anotativos, a Assis Brasil não lhe faltam boa matéria e imaginação. O imaginário para o romance histórico americano começa quando se sabe que não se sabe nada da origem dos povos primitivos da América, especialmente os do Brasil. Mas Assis Brasil investiga minuciosamente e coloca muitas perguntas de pé: se somos descendentes de asiáticos, dos atlantis, dos víquingues, dos fenícios, dos árabes ou autóctones. No final do capítulo introdutório, o Autor chega a uma conclusão. É quando escreve que “Ninguém, na realidade, sabe de onde viemos ou de onde se originaram os tupinambás (…)  …mas é simpático e curioso sabermos – talvez pelos desvãos mitológicos da História – que tupis e guaranis, em algum momento teriam exercido o papel de guarda-costeira dos vikings, do rio da Prata ao Amazonas e delta do Parnaíba. Na cidadezinha de Pedra do Sal, no Piauí, existiria um túnel viking, construído para a defesa da colônia e acesso a regiões mais seguras. Cremos que um dia será encontrado. No entanto, é estimulante para o romancista, cuja matéria prima é a imaginação, compartilhar da opinião de alguns pesquisadores que têm ligado a Àsia às Américas e seguido as pegadas dos enigmáticos migrantes, primeiro até a região central dos Estados Unidos, e depois até Monte Alegre, no Pará. Poderiam ter sido duas ‘pinças’ que, afinal, se encontraram. Mas, para os arqueólogos detalhistas, há diferença cultural entre os dois grupos a partir mesmo da ponta das flechas… Admitindo ainda os estudiosos do passado americano e brasileiro que poderiam existir outros povos nesse cadinho de especulação científica e histórica, resta saber quem eram os ‘intermediários’ entre os amazonenses e os norte-americanos.”

Por curiosidade, vão mais estas passagens, diante do que a gente se espanta com a crueldade daqueles homens, colonizadores e bandeirantes: a) –  Que Domingos Jorge Velho “recebeu francos elogios do arcebispo da Bahia por ter trazido, numa de suas entradas, 260 pares de orelhas de índios”;  b)  – que “os homens santos (jesuítas), em 1549, assistiram à cruel demonstração de força do comandante português (Governador Geral, Tomé de Sousa), ao estraçalhar, na boca dos canhões, o corpo de alguns índios velhos… e rebeldes”;  c) –  que “os membros da Companhia de Jesus, como José de Anchieta, diziam coisas tais como estas:  Para este gênero de gentes (os índios) não há melhor pregação do que espada e vara de ferro” .

“Bandeirantes”, de Assis Brasil, é um livro caleidoscópico no sentido próprio e no figurado, pois que apresenta seus personagens no presente, em ação.  Claro que se trata de  uma paráfrase, mas justo onde desponta a criatividade que falta à História, presa a documentos muitas vezes fictícios, forjados, apócrifos – especialmente a nossa. É justamente isto que se admira em Assis Brasil: não repetir-se na estruturação, enquanto escreve tanto, usando da técnica estilística da repetição. Forma, fórmula e fôrma. Assis é adepto da forma, abjura as fórmulas porque é criador, e da fôrma, nem falar, visto que quem a usa é o artesão. Primeiramente, como referi, vêm os ensaios. O romance começa mesmo lá pela pag. 71, com personagens da História que se transformam em personagens de romance, de drama, de tragédia. São eles João Ramalho, Borba Gato, Garcia Pais, Raposo Tavares, Fernão Dias Pais, Maria Betim, Maria Leite, Bartyra, Tanyyá, Tibiriçá, Brás Cubas e outros, em episódios diversos, sendo principais a fundação de São Paulo de Piratininga e Ipiroig.   Mas aí já é a estória da História, a qual nenhum bom apresentador  conta, quando muito aponta,  para que os leitores fiquem de água na boca.

Assis Brasil é um bandeirante das letras, no melhor sentido, enquanto caçador de pedras preciosas, com aquele ímpeto e a coragem indomável de quem sabe que busca o caminho da verdade, da beleza e das virtudes mais humanas.

Finalizando, refiro-me a um pequeno e comovedor episódio de “Bandeirantes”,  do capítulo “Estranho Leilão”.  O capitão Matias Cardoso e Fernão Dias Pais se encontram, descem de seus cavalos, abraçam-se e conversam sobre os entreveros com os índios mapaxós. Fernão Dias preocupa-se com os filhos José Dias e Garcia Pais e por um instante fica pensativo, coça a longa barba branca e diz que o primeiro “é veterano no combate e no matar”, mas Garcia Pais, embora animado, é inexperiente. Terá coragem de matar no fragor da batalha, mas, a sangue frio, que acontecerá? E se, chegado o momento, ele fracassar?

Matias Cardoso, entretanto, lhe assegura que Garcia Pais matará, “se é que já não matou”.  E acrescenta que o menino traz essa vocação no sangue.

Mas, inconformado, Fernão Dias contrapõe: – “Sei que não é hora nem tempo para tal assunto, primo Matias. Nunca conversaria sobre isso com Borba Gato ou com José Dias. Eles já estão macerados pelo que viveram e presenciaram de violência e de matança. O meu jovem Garcia Pais, sei, tem algo que os outros não têm… ou que já tiveram. É o lado bom da mãe dele. Não, não gostaria de vê-lo perder a face de misericórdia e de perdão. Tampouco posso dizer isso para Garcia Pais. Tenho me feito durão, frio, calculista perante ele. É que já fui como meu filho…”

Para os que acham que a arte não tem nada a ver com a moral,  o episódio do romance de Assis Brasil sirva de lição. Até àqueles homens turbulentos, cruéis, assassinos, o remorso chega pela pena do romancista:  é uma luz na escuridão dos  espíritos.

Esta foi a minha leitura, vocês farão outras, certamente. A literatura é o reino da liberdade. E o romance é o melhor gênero para exercê-la. Leiam o romance de Assis Brasil, é a melhor homenagem que podemos prestar a um autor.

____________

* Francisco Miguel de Moura é escritor e membro da APL. Apresentação de “Bandeirantes” na Academia Piauiense de Letras.

Acadêmicos lamentam a partida de Assis Brasil

Escritor Assis Brasil: mais de 100 livros publicados.

O falecimento do jornalista e escritor Assis Brasil foi lamentado por membros da Academia Piauiense de Letras, onde ele ocupava a Cadeira 36 e desfrutava da amizade e da admiração dos confrades.

Em mensagens no Grupo de WhatsApp da APL, os colegas manifestaram seu pesar pela perda do escritor.

Para o acadêmico e desembargador Oton Lustosa, “perdemos um ficcionista de grande valor no cenário da literatura brasileira, com vários livros publicados”.

O acadêmico, historiador e deputado Wilson Brandão destacou que Assis Brasil como “um grande brasileiro!”

A acadêmica Socorro Rios Magalhães, professora de Literatura, afirmou que o falecimento do escritor significa “Uma grande perda para a literatura brasileira”.

O médico e acadêmico Luiz Ayrton Santos Júnior esteve na casa do escritor ajudando o editor Leonardo Dias a providenciar o velório. E disse que Assis Brasil “estava com um semblante de paz”.

Para o acadêmico Magno Pires, “o falecimento de Assis Brasil emudece, em parte, a literatura brasileira e a piauiense, porquanto autor de mais de 100 obras; entretanto, essas obras representam o seu grandioso legado à sociedade nacional. Falece o escritor, porém, as obras permanecerão divulgando o escritor brasieleiro Assis Brasil”.

O acadêmico Nelso Nery, também presidente do Conselho Estadual de Cultura, escreveu que “o Brasil perdeu um grande escritor”.

O velório será na Pax União e o sepultamento está marcado para as 16h, no Jardim da Ressureição.

A APL divulgou Nota de Pesar ontem à noite:

APL doa livros para a Biblioteca Assis Brasil

A Academia Piauiense de Letras dou mais de 200 livros para o acervo da Biblioteca Assis Brasil, que está sendo instalada no Museu do Mar, em Parnaíba.

As obras foram selecionadas das Coleções Centenário e Século 21. Entre elas, está o romance “O Prestígio do Diabo”, do próprio Assis Brasil, homenageado com o nome da biblioteca.

Os romances “Teodoro Bicanca” e “A Civilização do Couro”, do parnaibano Renato Castelo Branco, também constam da relação dos livros doados pela APL.

A inauguração do novo espaço cultural está prevista para este semestre, conforme a Secretaria de Cultura.

Projeto de Leitura

A APL participou, no ano passado, do Projeto Te Aquieta e Lê, lançado e executado pela Secretaria Estadual de Cultura para incentivar a leitura durante o isolamento social da pandemia da Covid-19.

Ao longo do ano, foram distribuídos gratuitamente mais de 7 mil livros para leitores de mais de 100 municípios piauienses.

A Academia sugeriu à Secretaria de Cultura que esse projeto seja executado de forma permanente.