Artigo de Cineas Santos sobre Assis Brasil

Escritor  e acadêmico Assis Brasil, um dos grandes nomes da moderna Literatura Brasileira

Cineas Santos (*)

Saiu de cena hoje (28/11/ ) Francisco de ASSIS Almeida BRASIL ( 92 anos de idade), um dos grandes nomes da moderna literatura brasileira. Certa feita Assis afirmou: “Eu não vivi; tive apenas vida literária”. Não era força de expressão: o autor de Beira Rio Beira Vida escreveu mais de cem obras, de literatura infanto-juvenil a ensaios filosóficos.

Piauiense, de Parnaíba, Assis Brasil viveu quase sempre distante do Piauí. Jornalista, professor, ficcionista e crítico literário, tornou-se conhecido a partir de 1965 quando publicou Beira rio beira vida, romance que lhe rendeu o Prêmio WALMAP, obra integra a Tetralogia Piauiense, que se completa com A Filha do meio quiloO salto do cavalo cobridor e Pacamão. Dez anos depois, voltaria a ganhar o mesmo prêmio com Os que bebem como os cães.

Quando H. Dobal foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras (2002), na companhia de alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro com o poeta. Já no final da homenagem, apareceu Assis Brasil escorando-se nas paredes do auditório. Com voz sumida, explicou: “Estou saindo de uma depressão terrível” e mais não disse. Cumprimentou o Dobal e desapareceu.

Em 2006, os organizadores do SALIPI resolvemos homenageá-lo. Coube a mim a incumbência de convidá-lo. Assis Brasil agradeceu a homenagem, mas afirmou que, por problemas de saúde, não poderia vir a Teresina. Recorremos à professora Francigelda Ribeiro, amiga do escritor, para tentar convencê-lo a vir. Depois de demorada negociação, Assis afirmou que viria, mas, em hipótese alguma, falaria ao público. Contrafeito, veio.

Às 19 h, Assis Brasil adentrou o auditório do Centro de Convenções de Teresina para a abertura da 4ª edição do SALIPI. Ao ser anunciado, as 700 pessoas que lotavam o espaço levantaram-se e o aplaudiram por mais de dez minutos. Aturdido, emocionado e feliz, Assis agarrou o microfone e falou mais de 40 minutos. Afável e cordial, respondeu às perguntas, distribuiu autógrafos, ressuscitou… Emocionado, não me contive e repeti G. García Márquez:” O que a felicidade não curar nada cura”. No ano seguinte, Assis Brasil mudou-se de mala e cuia para Teresina onde, festejado pelo público e sob o guarda-chuva do afeto de Leonardo Dias, escreveu mais uns dez livros.

Seu silêncio deixa-nos mais pobres e mais tristes. De qualquer forma, sua obra permanecerá viva.

(*) Professor, escritor, editor e membro do Conselho Estadual de Cultura

Lançamento traz estudo sobre a obra de Clodoaldo Freitas

A capa do novo livro de Socorro Rios Magalhães

“O folhetim de Clodoaldo Freitas” é o título do novo livro da professora e acadêmica Socorro Rios Magalhães, a ser lançado no início do próximo ano.

O livro traz um estudo sobre a obra ficcional de Clodoaldo Freitas, um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Piauiense de Letras.

Na apresentação do livro, o professor Pedro Vilarinho Castelo Branco, da Universidade Federal do Piauí, acentua que a obra ficcional de Clodaldo Freitas, pela peculiaridade de ter sido publicada em forma de folhetins, passou muitas décadas desconhecida do público leitor e dos pesquisadores interessados em literatura.

Documento

Ele destaca ainda que, “este livro de Socorro Magalhães, elaborado com a sagacidade analítica que é peculiar na sua escrita, é parte do esforço de um grupo de pesquisadores das áreas de história e literatura que nas últimas décadas utilizam os folhetins de Clodoaldo Freitas como fontes documentais e como meio de acessar sociabilidades, universo político, os valores, os afetos e as tensões que marcaram a sociedade brasileira no final do século XIX e o início do século XX”.

A obra é prefaciada pela professora, historiadora e acadêmica Teresinha Queiroz.

O sumário do livro sobre Clodoaldo Freitas

Acadêmica Socorro Rios Magalhães.

Sai a programação completa do Salipi 2021

A 18ª e 19ª  edição do Salão do Livro do Piauí (Salipi) se aproxima e a Fundação Quixote e a Universidade Federal do Piauí (UFPI) já fecharam a programação. Serão 7 dias de atividades intensas. Na programação, palestras com escritores nacionais e locais, bate-papo literário com diversos lançamentos de livros, apresentações musicais, feira de livros e muito mais.

Nomes consagrados da literatura nacional estarão presentes no evento como o escritor do Rio Grande do Sul, Fabrício Carpinejar, a paulista Aline Bei autora do livro “O peso do pássaro morto”, a cearense Socorro Acioly, vencedora do prêmio jabuti de literatura e participando do bate-papo literário Zeca Baleiro e Salgado Maranhão no dia 17. Em seguida, Zeca Baleiro fará um Poket Show no palco “Marcos Peixoto” que está sendo montado para o evento.

O Salão do livro do Piauí- SALIPI será  realizado de 13 a 19 de dezembro  no Complexo Rosa dos Ventos na UFPI. Com o tema “Onde houver trevas, que eu leve livros” o evento vai homenagear os escritores piauienses Graça Vilhena e Climério Ferreira.

Para quem deseja participar das palestras as inscrições devem ser feitas pelo site www.salipi.com.br

@fundacaoquixote

Segue a programação completa

SEMINÁRIO LÍNGUA VIVA

ESTAÇÃO LETRAS E EXPRESSÕES

BATE-PAPO LITERÁRIO

PALCO MARCOS PEIXOTO

 

SALIPI volta este mês com duas edições

Imagens: Ascom/APL

Professores Jasmine Malta e Kássio Gomes, da Coordenação do Salpi, na APL

O Salão do Livro do Piauí (SALIPI) está de volta, e em dose dupla.

Duas edições do SALIPI serão realizadas no período de 13 a 19 deste mês, no Espaço Cultural Rosa dos Ventos, na Universidade Federal do Piauí.

A 18ª edição do SALIPI homenageia a poetisa Graça Vilhena. A 19ª. presta homenagem ao poeta Climério Ferreira.

Os dois eventos serão realizados nos formatos híbrido e virtual.

A coordenação do SALIPI esteve na Academia Piauiense de Letras apresentando as duas versões do evento e convidando a APL a se fazer presente.

Os professores foram recebidos na APL pelos acadêmicos Zózimo Tavares (presidente), Magno Pires (vice-presidente) e Fonseca Neto (1º secretário).

O evento não foi realizado em 2020 por causa da pandemia da Covid-19.

Acadêmico recebe a Medalha Conselheiro Saraiva

 

 

Acadêmico Dilson Lages recebe a Medalha Conselheiro Saraiva

 

O professor, escritor e acadêmico Dilson Lages Monteiro foi agraciado com a Medalha do Mérito Conselheiro José Antônio Saraiva, a mais importante comenda do Município de Teresina, pelos relevantes serviços prestados à cultura.

A solenidade de entrega da honraria, presidida pelo prefeito José Pessoa Leal (Dr. Pessoa), foi realizada na noite de quinta-feira (02/12) no Teatro do Centro Cultural Sesc Cajuína.

As indicações dos agraciados são feitas pelo Conselho Deliberativo da Comenda, composto por membros da Prefeitura de Teresina e representantes da sociedade civil.

Participaram da cerimônia os acadêmicos Valdeci Cavalcante (presidente do SESC-Piauí), Zózimo Tavares (presidente da APL), Reginaldo Miranda (representante da Academia Piauiense de Letras no Conselho), Fonseca Neto (presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e membro do Conselho da Comenda) e Elmar Carvalho.

Conferências Regionais de Cultura reúnem mais de 250 inscritos

Conferências Regionais de Cultura, em Teresina: mais de 250 participantes.

 

O Conselho Estadual de Cultura, em conjunto com a Secretaria de Cultura e a Associação Piauiense dos Municípios (APPM), realizou nesta sexta-feira (03/12), em Teresina, as Conferências Regionais de Cultura, englobando os 12 territórios do Piauí e com a participação de mais de 250 inscritos.

O presidente do Conselho Estadual de Cultura, acadêmico Nelson Nery Costa, informou que as Conferências Regionais dão prosseguimento às contribuições ancoradas nas etapas Municipais, a cargo de cada município.

Os gestores também poderão oportunizar o financiamento para as ações culturais no município, a exemplo da tramitação de novos incentivos, como a Lei Paulo Gustavo, que prevê R$ 4,3 bilhões até o final de 2022, tal como a expectativa pela aprovação de uma nova dotação orçamentária para a Lei Aldir Blanc.

Nesse sentido, explicou Nelson Nery, os atores culturais, gestores e sociedade civil, poderão auxiliar na construção do Plano Estadual de Cultura, elencando os principais pilares para o desenvolvimento do setor e atração de projetos.

Com as Conferências Regionais, o Conselho Estadual de Cultura vê uma oportunidade de intercâmbio entre os atores culturais, causando o envolvimento das mais distintas esferas numa construção conjunta de ações que possam pautar o desenvolvimento artístico e cultural do nosso Estado, enaltecendo nossas raízes, tradições e também com um olhar para o futuro.

O foco do CEC é a construção, aprovação e implementação do Plano Estadual de Cultura, que será consolidado em janeiro, com a realização da Conferência Estadual.

Um romance de Assis Brasil

Capa do romance “O Prestígio do Diabo”, edição da APL (2017).
Rogel Samuel  (*)
Em ”O prestígio do diabo” (São Paulo, Melhoramentos, 1988) Assis Brasil apresenta o panorama da vida da pequena classe média daquela época com maestria, pois o personagem Lázaro é escriturário, bem comportado, humilde, correto, calmo, preocupado com as aparências (“o que vão pensar?”, “começaram a olhar”, “podiam pensar que fosse um ladrão”), cuidadoso com a mãe e a irmã, tímido (nunca se declarou para Cacilda) e de repente, depois de algumas “quedas” (em que sentia que algo o empurrava ao chão) perde o emprego e começa a mudar. A alteração é lenta, quase imperceptível, mas vai assim até o seu surpreendente fim. O livro é muito bem construído, como todos os de Assis Brasil, e exibe a sociedade carioca das décadas de 60/70, o clima, o cotidiano, o centro da cidade, o subúrbio, no caráter humilde e bem comportado do jovem Lázaro (cujo nome é significativo). Sua mudança lenta e terrível, assim como foi a transformação moral da sociedade carioca. Há no livro um velado questionamento da luta do Bem contra o Mal, onde o “prestígio” do Mal vence.
O principal personagem, porém, é a sociedade carioca, a classe média pobre do Rio de Janeiro, a rua, a decadência das ruas, a vida, a corrupção do meio urbano. O romance é pessimista. Descreve com sutileza a loucura das grandes cidades. Abre a vida sem sentido, o aviltamento da moral brasileira, não só dos políticos ou da classe dominante, mas da sociedade como um todo, e principalmente a perda dos valores morais da classe média, o desvalorizar generalizado da vida privada, a sua favelização. O que está em jogo não é só vida pública, mas a contaminação do familiar, pois o mundo somos nós. O mestre Assis Brasil desse modo se faz herdeiro do romance machadiano.
(*) Escritor e crítico literário. Texto publicado originalmente em 29/11/21, na página do autor do Facebook. Uma nova edição da obra analisada saiu em 2017, através da Coleção Centenário, da APL. 

Calou-se um homem de letras

Escritor  e acadêmico Assis Brasil, um dos grandes nomes da moderna Literatura Brasileira

Cineas Santos (*)

Saiu de cena hoje (28/11/ ) Francisco de ASSIS Almeida BRASIL ( 92 anos de idade), um dos grandes nomes da moderna literatura brasileira. Certa feita Assis afirmou: “Eu não vivi; tive apenas vida literária”. Não era força de expressão: o autor de Beira Rio Beira Vida escreveu mais de cem obras, de literatura infanto-juvenil a ensaios filosóficos.

Piauiense, de Parnaíba, Assis Brasil viveu quase sempre distante do Piauí. Jornalista, professor, ficcionista e crítico literário, tornou-se conhecido a partir de 1965 quando publicou Beira rio beira vida, romance que lhe rendeu o Prêmio WALMAP, obra integra a Tetralogia Piauiense, que se completa com A Filha do meio quilo, O salto do cavalo cobridor e Pacamão. Dez anos depois, voltaria a ganhar o mesmo prêmio com Os que bebem como os cães.

Quando H. Dobal foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras (2002), na companhia de alguns amigos, fui ao Rio de Janeiro com o poeta. Já no final da homenagem, apareceu Assis Brasil escorando-se nas paredes do auditório. Com voz sumida, explicou: “Estou saindo de uma depressão terrível” e mais não disse. Cumprimentou o Dobal e desapareceu.

Em 2006, os organizadores do SALIPI resolvemos homenageá-lo. Coube a mim a incumbência de convidá-lo. Assis Brasil agradeceu a homenagem, mas afirmou que, por problemas de saúde, não poderia vir a Teresina. Recorremos à professora Francigelda Ribeiro, amiga do escritor, para tentar convencê-lo a vir. Depois de demorada negociação, Assis afirmou que viria, mas, em hipótese alguma, falaria ao público. Contrafeito, veio.

Às 19 h, Assis Brasil adentrou o auditório do Centro de Convenções de Teresina para a abertura da 4ª edição do SALIPI. Ao ser anunciado, as 700 pessoas que lotavam o espaço levantaram-se e o aplaudiram por mais de dez minutos. Aturdido, emocionado e feliz, Assis agarrou o microfone e falou mais de 40 minutos. Afável e cordial, respondeu às perguntas, distribuiu autógrafos, ressuscitou… Emocionado, não me contive e repeti G. García Márquez:” O que a felicidade não curar nada cura”. No ano seguinte, Assis Brasil mudou-se de mala e cuia para Teresina onde, festejado pelo público e sob o guarda-chuva do afeto de Leonardo Dias, escreveu mais uns dez livros.

Seu silêncio deixa-nos mais pobres e mais tristes. De qualquer forma, sua obra permanecerá viva.

(*) Professor, escritor, editor e membro do Conselho Estadual de Cultura.