Bonum certamen certavi (Combati o bom combate)

Jonathas Nunes (*)

Teresina amanheceu diferente. Prenúncio de maus presságios. Ontem a noite, antes que os primeiros sinais do quatorze outubriano aparecessem, me veio à mente, música repassada de saudade que a religiosidade de minha mãe repetia entre as paredes do vetusto casarão florianense: “…Desce a noite, foge a luz!…Quero agora despedir-me, boa noite meu Jesus!”

A ausência prolongada me levou, com rapidez instantânea, a ver que aquela poderia talvez ser a última noite entre nós do Mestre Paulo Nunes. E a cristandade que me perdoe, mas transformei o final da canção na pré-despedida do amigo de tantas jornadas: “……boa noite… Comandante Paulo  Nunes”.

Conheci este notável cultor do idioma pátrio, ainda nos idos de sessenta. Em meio à vaga nacionalista que varria o Brasil daqueles dias, sempre nas férias escolares me encontrava com Paulo Nunes em Teresina. Este era então assunto recorrente. Quase sempre na praça Pedro II e suas imediações.

Na ativa do exército, Paulo Nunes terá sido das primeiras pessoas a me falar em Nacionalismo e na Defesa intransigente da Petrobrás. A convite dele, ministrei, como tenente,  palestra na então Faculdade de Direito do Piauí, sobre os chamados “Acordos de Roboré”, à época considerados lesivos ao país.

Tempos depois vi e acompanhei, à distância, sem nada poder fazer, a luta incansável do educador Paulo Nunes pela permanência da Faculdade de Direito do Piauí na estrutura da novel Universidade Federal mafrense. Suas ideias avançadas na defesa da educação humanística e científica o afastaram da escolha para ser o primeiro Reitor da Universidade Federal do Piauí. Sentinelas avançadas do obscurantismo político  no meio educativo e cultural daqueles anos, mantiveram o ícone da crítica literária piauiense sempre sob reserva.

Tempos após, através de Paulo Nunes, a UESPI, quando era Reitor, pôde celebrar convênio de cooperação com a APL, e mensalmente tínhamos reuniões regulares no espaço acadêmico uespiano com os confrades da APL.

Certa feita, relembro agora, com saudade, na Reitoria da UESPI, perguntei a Paulo Nunes se ele achava que eu deveria pleitear uma vaga na APL. Respondeu-me de forma mansa e educada, como era de seu feitio: “Jonathas, acho que você deve pleitear uma vaga; conheço alguns de seus trabalhos no Congresso Nacional. Mas, eu lhe daria o seguinte conselho: antes de se candidatar, procure reunir, em livro, os seus trabalhos no Congresso.” Entendi tudo.

A intervenção do grande Mestre nas reuniões semanais da Academia tinha sempre para todos nós, acadêmicos, o tom elevado da Eneida de Virgílio : “conticuere omnes, intentique ora tenebant”. “Prendia a atenção de todos, e, em silêncio, todos se mantinham”. 

A Ditadura Militar de 1964 foi instaurada no Brasil precisamente para tentar impedir que luminares das Letras e da Cultura como Paulo Nunes pudessem servir de farol e guia das novas gerações de brasileiros. Tentaram empurrar Paulo Nunes para o fosso do anonimato.  Seu livro, Geração Perdida, retrata com maestria, a grandeza de espírito daquele jovem “Manoel,” filho do povo humilde da terra mafrense. Jovem Manoel que ao longo da vida  se transformaria no Paulo Nunes, ícone da Crítica Literária  lusófona. Mais que isso, no Paulo Nunes,  bandeirante dos novos horizontes da Literatura piauiense.

Sei ser difícil doravante, imaginar: a  APL  sem  Paulo  Nunes, e  Paulo Nunes sem a  APL.

Se tivéssemos, no entanto,  o condão de imaginar as últimas palavras de PAULO NUNES antes da partida, certamente bem poderiam ser essas:

“…. Colegas, ao longo da vida fui crítico literário.

– Se quiserem honrar minha memória, nos próximos cem anos da APL,  peço incluir a obrigatoriedade de que seja procedida apresentação e prévia votação de resumo crítico-literário da obra que venha a ser apresentada  para efeito de concurso para vaga aberta na APL. Se não for pedir muito, gostaria que meu substituto na APL passasse por esse tipo de crivo. Estarei me remexendo de alegria, no túmulo, se este pedido for acatado.”

Colegas Acadêmicos, ao fim e ao cabo, revendo e relendo esta passagem de dois anos atrás, vejo como nossa APL foi feliz ao cumprir na íntegra, o pedido de PAULO NUNES, ao eleger este Acadêmico de escol, CRÍTICO LITERÁRIO  de alto nível, CARLOS EVANDRO EULÁLIO. Companheiro presente em todos os momentos deste Sodalício, que tendo o nome de ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS – APL, poderia também ser batizado com o nome de – ACADEMIA DE PAULO NUNES – APN.

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(*) Membro da APL, onde ocupa a Cadeira 2.

Academia celebra o Dia do Professor

“Educação e Cidadania” foi o tema da palestra proferida, neste sábado (15/09), na Academia Piauiense de Letras, pelo sociólogo Antônio José Medeiros, professor aposentado da Universidade Federal do Piauí.

O palestrante foi apresentado pelo acadêmico Antônio Soares Batista (Padre Tony Batista). A palestra está disponibilizada no Canal da APL no YouTube.

O evento marcou a passagem do Dia do Professor em uma instituição cultural que, conforme o seu presidente, Zózimo Tavares, tem entre seus ocupantes um grande número de professores.

“Foi um momento de celebração, pela contribuição dos profissionais ao magistério, e também de reflexão sobre a evolução do processo educacional, com suas conquistas e imensos desafios”, assinalou o presidente da APL.

Além de convidados, participaram da sessão os acadêmicos Carlos Evandro, Dilson Lages, Fides Angélica, Elmar Carvalho, Felipe Mendes, Fonseca Neto, Itamar Costa, Jonathas Nunes, Humberto Guimarães, Magno Pires, Pedro S. Ribeiro, Plínio da Silva Macêdo, Oton Lustosa e  Socorro Rios Magalhães.

O palestrante

Antônio José Medeiros é sociólogo, professor adjunto aposentado da UFPI. Licenciado em Filosofia pela UFPI e Mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP.

Foi professor de História no Colégio Diocesano, em 1968, e de Português e Literatura nos colégios estaduais Helvídio Nunes e Álvaro Ferreira, em 1971, em Teresina.

Professor de Problemas Filosóficos e Teológicos e de Sociologia da Educação em 1973 e 1974, na Universidade Santa Úrsula, e de Filosofia e Sociologia da Educação na Universidade do Estado da Guanabara (atual UUERJ), em 1973 e 1974, no Rio de Janeiro.

Professor concursado da UFPI, onde trabalhou de 1981 a 2007, nos Departamentos de Filosofia e de Ciências Sociais.

Fundador e da Coordenação do Centro Piauiense de Ação Cultural (CEPAC), de 1980 a 1995, em Teresina.

Secretário Estadual de Educação do Piauí, de 2003 a 2010. Diretor de Cooperação Federativa e Planos de Educação da SASE/MEC, em Brasília, em 2011 e 2012.

Fundador e da Coordenação do Instituto Presente, de 2012 a 2022, em Teresina.

Presidente da Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – CEPRO, de 2016 a 2018.

Conselheiro do Conselho Estadual de Educação, de 2019 a 2022.

Na Política e na Literatura

Participou da fundação nacional e estadual do Partido dos Trabalhadores, em 1980.

Vereador de Teresina (1989-1992), Deputado Estadual (2003-2006) e Deputado Federal (2007-2010) pelo Partido dos Trabalhadores (PT/PI).

Autor dos livros: Movimentos Sociais e Participação Política (1996); Ideias e Práticas da Cidadania (2002); Piauí: Avanços na Inclusão Social e Desafios da Integração Econômica (2014); 1968 – Uma Geração contra a Ditadura (2014).

Co-autor dos livros: Piauí: Evolução, Realidade e Desenvolvimento (1979 e 2010), CEPRO; Piauí: Formação, Desenvolvimento, Perspectivas (1995), FUNDAPI; Políticas Públicas de Educação na América Latina: Lições Aprendidas (2011), UNESCO; O Plano Nacional de Educação – Instrumento de Desenvolvimento do Brasil (2014), EDUFPI.

Autor de artigos sobre planejamento na revista Carta CEPRO (2016-2020). Organizador das obras completas de Raimundo N. M, de Santana pelo convênio SEPLAN-PI e Academia Piauiense de Letras (APL).