O jornal Folha de S. Paulo destaca, em sua edição de hoje (18/07) a trajetória de vida e profissional do jurista, professor e acadêmico Celso Barros Coelho, falecido no último dia 10, aos 101 anos de idade.
Na seção obituário, relativa a julho, o jornal apresenta Celso Barros como “Cassado na ditadura” e “o mais respeitado jurista do Piauí”.
Conforme ainda a Folha, “Celso Barros Coelho saiu adolescente do sertão do Maranhão, na década de 1930, para se tornar uma referência no direito brasileiro”.
Eis o texto na íntegra, assinado pelo jornalista Tulio Kruse:
“SÃO PAULO – A travessia pelo rio Parnaíba, aos 16 anos, mudou tudo na vida de Celso Barros Coelho. O ano era 1938 e ele viajava da pequena Pastos Bons, no interior do Maranhão, para Teresina, no Piauí, seguindo o curso do rio que separa os dois estados.
Não fosse aquela viagem, não se tornaria seminarista na capital nem seria professor na Escola Normal Antonino Freire, provavelmente não estudaria na Faculdade de Direito do Piauí e, talvez, não se transformasse no jurista mais ilustre do estado.
Àquela altura, o mais velho de cinco irmãos já era órfão de pai. O convite para estudar em Teresina partiu de uma amiga da família, que quando visitava Pastos Bons encontrava o menino sempre lendo no balcão do comércio em que trabalhava.
Sete anos depois, ao fim do curso no seminário, veio um convite do Vaticano para continuar os estudos religiosos em Roma. Profundamente dividido, acabou recusando a oportunidade. Ele seguiria como professor e advogado, se casaria com a filha do dono da escola e abandonaria a batina.
Nas décadas de 1950 e 1960, os tribunais de júri comoviam a população das cidades e eram transmitidos ao vivo pelo rádio. Barros tornou-se célebre por casos em que atuou como advogado e elegeu-se deputado estadual em 1962.
Quando veio o golpe militar de 1964, a tendência era que ele fosse poupado da cassação. O comandante do Exército em Teresina era seu vizinho, e ele era um bem relacionado presidente da seção estadual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Amigos aconselharam manter silêncio e o mandato.
Barros foi à tribuna e fez um discurso irritado contra os militares. Ele e outros colegas acabaram cassados com um adendo à lista original.
Ele ainda seria deputado federal por dois mandatos no início da abertura política, nas legislaturas de 1974 e 1983. Em 1978, foi o candidato mais votado do Piauí, mas não foi eleito por falta de coeficiente eleitoral. As oito vagas do estado ficaram com o Arena, que dava sustentação ao regime militar.
No Congresso, Barros legislou sobre temas que marcaram transformações no cotidiano brasileiro, como relator das regras do direito de sucessão no Código Civil, a Lei de Execuções Penais e contribuindo para a redação da Lei do Inquilinato e a regulamentação do divórcio.
Permaneceu um leitor compulsivo por toda a vida, acompanhado de livros e jornais enquanto assistia a jogos de futebol na TV ou à mesa durante o almoço.
Nos últimos meses, pensava no pai que morreu aos 34 anos. “Nas nossas últimas conversas ele questionava por que a vida é assim, que alguns duram tanto e outros duram tão pouco. Foi uma pergunta que meu avô não conseguiu responder”, contou Celso Barros Coelho Neto, hoje presidente da OAB-PI.Barros morreu aos 101 anos, no último dia 10, e deixou quatro filhos e 12 netos.”
Reprodução Folha de S. Paulo.