Francisco de ASSIS Almeida BRASIL

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(1932). Quarto e Atual Ocupante da Cadeira nº 36 da APL. 

Romancista, cronista, crítico literário e jornalista, nascido na cidade de Parnaíba, Estado do Piauí, em 1932. Teve e tem uma intensa participação na imprensa nacional. Crítico Literário do Jornal do Brasil, 1956-1961; Colunista Literário do Caderno B do Jornal do Brasil 1963-64; Crítico Literário do Diário de Notícias, Rio, 1962- 63; Crítico Literário do Correio da Manhã (Revista Singra e Suplemento Literário), Rio, 1962 e 1972; Crítico Literário de O Globo (Arte e Crítica), 1969-1970; Colunista Literário da Revista O Cruzeiro, Rio, 1965-1976; Crítico Literário do Jornal de Letras, 1964-1989; artigos e ensaios nos seguintes órgãos culturais: Senhor, Mundo Nuevo, Revista do Livro, Leitura, Enciclopédia Bloch, Usina, suplemento de O Estado de São Paulo, Diário Carioca, Tribuna de Imprensa, Jornal do Comércio, Minas Gerais, Correio do Povo, O Povo. Atualmente (1994) faz crítica literária no Tribuna de Imprensa. Bibliografia. Tem 106 obras publicadas. Romances: Tetralogia Piauiense: Beira Rio, Beira Vida, 1965; A Filha do Meio Quilo, 1966; O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão; Ciclo do Terror: Os que Bebem como os Cães e outros. Romances Históricos: Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos e Bandeirantes os comandos da morte, etc. Contos: Contos do Cotidiano Triste, História do Rio Encantado e outros. Ensaios: Faulkner e a Técnica do Romance. Assis Brasil é considerado hoje uma das mais cintilantes culturas do país. O Jornal de Letras do Rio de Janeiro, em sua edição de dezembro de 1998, traz o romance Beira Rio, Beira Vida, entre os cem melhores do gênero já publicados no país. Pertence à Academia Piauiense de Letras.

Excerto extraído do livro Bandeirantes: os comandos da morte.

VESPÚCIO OU CABRAL?

Acreditamos, em contrapartida, que foi Américo Vespúcio quem
descobriu, com plena consciência e absoluta lucidez intelectual,
um novo continente autônomo, demonstrando sua existência.

Riccardo Fontana

O historiador italiano acha, “em contrapartida”, que Colombo e Cabral apenas se “depararam” com as terras novas e pensaram que se tratava de parte da Ásia, “isto é, da Índia, a ponto de chamarem de índios seus estranhos, imprevistos e imprevisíveis habitante”. Vespúcio, por via de interesses políticos e econômicos da Espanha Portugal, teria sofrido toda sorte de “calúnias e traição”, passando para o lado obscuro da história oficial daqueles países. Salva-o, no entanto, as inúmeras cartas que deixou, algumas “apócrifas”.

Os eruditos têm trabalhado sobre elas, não para desmoralizar Pedro Álvares Cabral, mas para repor a história nos seus devidos lugares, destacando Américo Vespúcio, entre outros italianos, como o cartógrafo e o geógrafo que oficializou, cientificamente, a existência do Brasil. Ele corrigiu mapas, influenciou outros, viajou incansavelmente naquele ocaso e alvorecer dos séculos XV e XVI.

Embora haja referência gráfica nos mapas revisados por Américo Vespúcio, do nome Brasil – “Rio do Brasil” ou “Terra do Brasil”, atribuído o nome, na tradição acadêmica, à madeira cor de brasa das florestas tropicais, foi o cosmógrafo alemão Martin Waldseemuller, em 1507, que, “reconhecendo a extraordinária descoberta da quarta parte do mundo pelo florentino”, quis chamá-la de América. Os historiadores têm engolido os dois termos pacificamente, embora saibamos que as origens toponímicas sejam outras.

Entre as novas descobertas dos historiadores, destaca-se a amizade de Colombo e Vespúcio, desde mesmo 1493, quando aquele navegador voltava da sua histórica viagem “às neodescobertas ilhas do Caribe, pensando ter tocado Catai ou Cipango, ou seja, a China e o Japão”. Colombo, em carta a seu filho Diego, dá conta dessa amizade com o florentino. “Não há dúvida de que os dois protagonistas da descoberta da América, Colombo em nome da Espanha e Vespúcio em nome de Portugal, continuam sendo vítimas de uma série de acusações de traição, espionagem”, “sendo Vespúcio o mais vilipendiado”, observa Riccardo Fontana.

Todo o importante livro de Riccardo Fontana, O Brasil de Américo Vespúcio (1994), gira em torno do restabelecimento da verdade acerca dos contatos do navegador em relação ao Brasil, desde mesmo aquele convite de D. Manuel I para ele capitanear uma frota de reconhecimento das novas terras. Vespúcio aceita o convite, mas logo surgiriam suspeitas de que aceitara tal trabalho a fim de fazer espionagem para a Espanha. “De fato, era da conveniência espanhola ter um informante ou talvez um espião estrangeiro precisamente como protagonista de uma expedição da potência rival”.

Vespúcio comanda frota de três caravelas e vai empreender “a mais prestigiosa de suas viagens”. Era a sua terceira viagem ao Novo Mundo, mas, entre 1499 e 1502, Vespúcio já tinha navegado por toda costa centro-sul americana e costas norte e nordeste do Brasil, “reconhecendo o rio das Amazonas, mas sem a possibilidade de desembarcar”. A data de 7 de agosto de 1501 é importante, pois é Vespúcio quem coloca o primeiro marco de posse dos portugueses nas novas terras. Local: Rio Grande do Norte.

Outros historiadores, que já admitem ter sido Vespúcio o verdadeiro descobridor do Brasil, apontam outro dado positivo em favor do italiano, ou seja, o de ter permanecido por longo tempo neste lado de cá, em contraposição “à forçada e inesperada parada de Cabral, por apenas dez dias, na atual costa sul da Bahia”.

Américo Vespúcio era de fato um aventureiro fanático, um piloto-navegador sem igual, pois até os degredados, abandonados por Cabral em Porto Seguro, ele recolheu, isso na viagem de 1503, quando aqueles homens passaram a lhe servir de intérpretes entre os índios. E que agora o italiano tinha a missão portuguesa de construir feitorias e fortes, e de assentar o marco de mármore, o Marco do Descobrimento, “legalizando” a posse da terra.

Depois da construção de outras feitorias e fortes – como a primeira base comercial em Cabo Frio para o embarque da madeira de tinta – Vespúcio planta o terceiro marco de posse portuguesa, ou seja, o de Cananeia – era o ponto extremo sul do domínio lusitano. Vasculhara, assim, Vespúcio regiões do Rio Grande do Norte a São Paulo, não indo mais adiante com receio de atingir “possessões” espanholas.

A curiosidade é que o nome de América, dado pelo frade e cartógrafo alemão Martin Waldseemuller, foi para a parte onde atuou e explorou Vespúcio, ou seja, o Brasil, em reconhecimento de sua obra, mas acabou identificando o continente ou o país do Norte.

“Uma vez posta em seu devido lugar a participação de Vespúcio e de outros navegadores na descoberta do Brasil” […] Riccardo Fontana cita carta do navegador, da época de sua missão de 1501, quando “faz referência ao desembarque de Cabral na Ilha de Vera Cruz”:

– “[…] desembarcaram numa terra onde encontraram gente branca e nua e é a mesma terra que descobri para o rei de Castela” – diz, referindo se à sua expedição espanhola de 1499 nas costas setentrionais do Brasil – com exceção de que está mais para o Oriente […]”

Comentários 

O processo renovador de Beira Rio, Beira Vida; ancorado na incronologia, revoluciona e simplifica a narrativa, sem prejuízo da essência do enredo. Os elementos tradicionais do romance sôo aqui substituídos por uma técnica que revitaliza a função da literatura. (Herculano Moraes)

Ao lado de Rubem Fonseca e de Ana Miranda, o piauiense Assis Brasil forma a trinca de escritores da atualidade voltados para o romance histórico. Após o sucesso de Nassau, sangue e amor nos trópicos, Assis Brasil lança Villegagnon, paixão e guerra na Guanabara. Autêntico romance de Capa- e-espada, permeado de passagens eruditas sobre política e religião, Villegagnon prende a atenção do leitor da primeira à última página, graças à sua força narrativa. (Mário Margutti-RJ)

Mal chegou nas livrarias e já causou polêmica o novo romance histórico do piauiense Assis Brasil, Tiradentes, poder oculto – o livrou da forca. Com base em depoimentos de historiadores e até mesmo de Machado de Assis, o romancista diz que o líder da Inconfidência Mineira não morreu na forca, como garante nossa História, tendo sido substituído no cadafalso por outra pessoa, graças a uma articulação da Maçonaria. (Danilo Ucha-RS)

Fonte: ASSIS BRASIL O Prestígio do Diabo. 2ª ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2017, Coleção Centenário nº 83.