Cineas Santos (*)
Pastos Bons (MA), início da década de 1920. Numa casa humilde, um menino pequeno agoniza no leito de morte. Sem ter a quem recorrer, entre lágrimas e preces, a mãe da criança enferma prepara-lhe a mortalha. De repente, saído não se sabe de onde, aparece um mascate. Ao ver a criança, agonizando, o bufarinheiro aproxima-se do moribundo, toma-lhe o pulso e declara: “Ainda está vivo”. Em seguida, com autorização da mãe, ministra-lhe dose cavalar de um vermífugo eficiente. Reza a lenda que, antes de partir, teria afirmado: “Se não morrer até amanhã, vai viver cem anos”. Errou por muito pouco: Celso Barros Coelho viveu 101 anos.
Essa história, que me impressionou muito, me foi contada pelo professor Celso Barros há mais de 10 dez anos quando o entrevistei no seu local de trabalho. Sabendo do meu apreço por literatura, fez questão de me mostrar sua ampla biblioteca onde, entre milhares de livros de direito, figuravam os clássicos da literatura universal.
Tive a felicidade de ter sido aluno dele na antiga FADI, onde pontificava ao lado de Clemente Fortes. Comentava-se que os dois mestres disputavam, civilizadamente, o título de magister dixit da instituição. Celso era mais eloquente; Clemente, mais didático. Sorte de quem conviveu com os dois.
O que o ambulante de Pastos Bons não poderia imaginar é que aquele menino que ele furtara dos braços da morte viveria o bastante para tornar-se um dos intelectuais mais brilhantes de sua geração. Professor, advogado, jurista e político, Celso Barros Coelho foi, acima de tudo, um entusiasmado, na acepção original do termo. Hoje (10/07/23), a “indesejada das gentes” o calou, mas o seu legado permanecerá iluminando gerações. Assim seja.
(*) Professor e escritor.