(1931). Terceiro e Atual Ocupante da Cadeira nº 17 da APL.
Economista e professor. Nasceu em Parnaíba, em 1931. Formado pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Rio de Janeiro; pós- graduado pelo Conselho Nacional de Economia (1961); Master em Economia pela Universidade de Yale (EUA), recebendo o diploma Ph.D e granjeando o primeiro lugar; membro da Academia Piauiense de Letras, cadeira nº 17. Cargos e funções exercidas: professor de Pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas. Participante do projeto da criação do Instituto Nacional do Cinema e do Museu de Arte Moderna. Assessoria do Ministro Roberto Campos, tendo, juntamente com Mário Henrique Simonsen, elaborado o projeto de criação do IPEA – Instituto de Planejamento Econômico em 1969. Ministro-chefe da Secretaria de Planejamento da Presidência da República.
Transcrevemos, a seguir, um trecho da obra Brasil: a solução positiva.
CAPITULO I
O CRESCIMENTO COMO FENÔMENO HUMANO
Antes de considerar a questão da sociedade que estamos construindo, é conveniente começar por colocação mais limitada, sobre a natureza do processo de crescimento.
O crescimento econômico, tomado, para simplificação da análise, apenas como o aumento continuado da renda per capita, não depende de fatores predominantemente econômicos.
Trata-se de um fenômeno humano por excelência ligado a atitudes e instituições sociais.
Pode-se considerá-lo um processo eminentemente cultural – no sentido sociológico – e político.
Político, porque é importante a vontade política da nação, de mobilizar-se para o esforço, as dificuldades, os desajustamentos, o sentido de realização, os benefícios inerentes ao desenvolvimento.
Cultural, porque diz respeito, principalmente, ao modo de ser da sociedade. Cultura, aqui, “é o conjunto das tradições em que naturalmente uma sociedade vive, e que se modifica com a história mas permanece sempre fiel a certos elementos originais”.
Evidentemente, no crescimento, os fatores climáticos e os recursos naturais têm importância, no sentido de que podem facilitar ou dificultar a expansão econômica, abrir ou limitar oportunidades de investimento.
Não é à toa que os países de clima temperado se têm desenvolvido com facilidade relativamente maior, e não há forma mais simples de desenvolver uma economia primitiva do que pela exploração de seus recursos naturais. Mas mesmo esse fato óbvio deve ser qualificado.
Um estudo do Banco Mundial sobre Os Trópicos e o Desenvolvimento Econômico chegou a duas conclusões principais.
Primeiro, é inegável que as condições vigentes nos trópicos colocam limitações ao crescimento agrícola, pecuário e mineral dos países ali situados. Tais dificuldades não podem ser superadas por uma simples transferência da tecnologia existente nos países ricos, de zonas temperadas. Faz-se mister, por isso, adaptar e desenvolver tecnologia, para atender às condições especiais dos trópicos, naqueles setores.
Segundo, é possível que quando, eventualmente, as limitações dos trópicos forem superadas, tais países subdesenvolvidos passem a contar com vantagens na sua agropecuária, representadas pela luz solar, o calor e a quase infinita variedade da vida tropical.
No processo de crescimento, também são relevantes os fatores nitidamente econômicos, como a dimensão do mercado e a acumulação de capital físico, resultante da taxa de investimento.
Sem embargo, os fatores humanos são capazes de superar os demais condicionantes do processo.
O Japão mostrou ser possível construir uma potência econômica praticamente sem recursos naturais, e quase sem espaço geográfico. A dimensão do mercado e a acumulação de capital, em grande medida, podem ser condicionadas pelos fatores humanos.
E quais são esses fatores humanos?
Talvez a melhor análise do problema ainda seja a de Arthur Lewis, quando considera que as causas próximas do crescimento econômico são o engajamento na atividade econômica (ou seja, em fazer coisas com mais eficiência, obtendo maior resultado com certo uso de fatores produtivos, ou o mesmo resultado com menor uso dos fatores), a aplicação do conhecimento à solução de problemas econômicos (a inovação tecnológica), e o aumento do estoque de capital físico (investimento). Indo às causas das causas, ou seja, indagando quais os elementos que determinam o maior ou menor engajamento dos grupos sociais na atividade econômica, na exploração de oportunidades econômicas, Lewis destaca as atitudes sociais, originárias de crenças e escalas de valores, e as instituições sociais.
Como observa: “O crescimento econômico depende de atitudes em relação ao trabalho, à riqueza, à poupança, a ter filhos, à inovação, a coisas novas, à aventura, e assim por diante; e todas essas atitudes provêm de fontes profundas da mente humana”.
Entre as atitudes sociais que condicionam o comportamento econômico estão o desejo de possuir bens, ou seja, a atitude em relação ao bem-estar material; e o custo psicológico e físico do esforço para obter tal aumento de renda real.
Entre as instituições sociais benéficas à atividade econômica incluem-se: a recompensa pelo esforço feito, em termos pecuniários e sociais; a existência de estruturas favorecendo a especialização de atividades e a comercialização; e o grau de liberdade econômica, para a empresa e o indivíduo.
São, pois, fatores desse tipo que devem ser analisados, se desejamos entender as experiências de maior ou menor sucesso de diferentes nações, em diferentes épocas.
Note-se que tais tendências, favoráveis ou desfavoráveis, em maior ou menor escala, existem em todos os países, consoante a sua cultura. E estão sujeitas a evolução movida por fatores políticos, econômicos, sociais, históricos, espirituais – internos e internacionais. Da relativa preponderância de uns e outros fatores vai depender a aceleração ou desaceleração do processo de crescimento, em cada País, a médio e a longo prazo”.