Benedito Aurélio de Freitas, por alcunha Baurélio Mangabeira, nasceu às 18:00h do dia 18 de julho de 1884, na fazenda “Pau d’arco”, Município de Piripiri, filho de Aureliano de Freitas e Silva e Izabel Rosa da Silva. Era bisneto do notável padre Domingos de Freitas e Silva, o principal fundador da cidade de Piripiri.
Órfão de mãe desde o nascimento, vez que a genitora morrera no parto, e de pai desde os cinco anos de idade, foi criado sob os cuidados da tia e madrasta Carolina Rosa da Silva, tendo em vista seu pai depois de viúvo ter convolado novas núpcias com uma cunhada, como a anterior sua sobrinha, com quem teve mais três filhos. Sem pai e sem mãe, transcorreu sua meninice sem muito regramento, desde cedo correndo solto nos arredores de Piripiri, banhando em riachos, subindo em árvores, armando arapucas para apanhar aves e fazendo outras estripulias. É quando foi aberta pelo professor Nelson Francisco de Carvalho, uma escola de primeiras letras para alfabetizar as crianças de Piripiri, que até então não existia. O menino Benedito Aurélio foi mandado imediatamente para essa escola, surpreendendo o mestre pelos rasgos de inteligência. Concluída essa etapa, aos 12 anos de idade, foi enviado pelo avô Porfírio de Freitas e Silva para a cidade de Barras, onde concluiu os estudos primários, os únicos cursados em escola regular, prosseguindo como autodidata. Completada a maioridade, muda-se para a cidade de União, “onde começou a trabalhar em misteres humildes e depois como balconista na farmácia Guerreiro, daquela cidade. Daí passou para a farmácia do Sr. Tersandro Paz, em Floriano e Teresina. Nessa última, que então era o melhor estabelecimento no gênero, neste Estado Baurélio habilitou-se como farmacêutico prático e conseguiu juntar um pecúlio regular, com o qual começou a comprar livros. Em seguida surgiu pela imprensa publicando sonetos líricos amorosos, mas que chamavam atenção (…) pela cadência, ritmo e beleza de imaginação”. Em toda a sua vida, foi essa a fase em que esteve mais equilibrado financeiramente. Todavia, “à proporção que ia ingressando no Parnaso e que o estro se desenvolvia calorosamente com aspectos panorâmicos de belezas transcendentais, ia o poeta afrouxando a dedicação ao trabalho quotidiano”, entediando-se até abandoná-lo completamente e entregar-se de vez à boêmia, primeiro em Parnaíba e depois em Teresina e outras localidades, consumindo todas as suas economias. Entregou-se ao vício do alcoolismo e tabagismo. Desde então, passou a viver com dificuldades financeiras.
Na poesia iniciou-se seguindo a tendência naturalista defendida por Mauricio Le Blande e Émmile Zola. Somente depois, impressionado com a leitura das poesias satíricas de Bocage, tornou-se humorístico e causticante. Por esse tempo, publica Sonetos Piauienses(1910), panfleto de versos humorísticos e agressivos. Nessa ocasião, lembra Alarico José da Cunha em seu discurso de posse na Academia Piauiense de Letras, principal fonte dessas notas e autor das citações entre aspas, que “um dos atingidos pelas sátiras do poeta, ameaçou-o de um surra em plena rua de Teresina. Tendo conhecimento da desagradável promessa, Baurélio dirigiu-se ao Chefe de Polícia, (…), solicitando que este providenciasse no sentido do seu agressor adiar a surra por uma semana, pelo menos, a fim de poder ele terminar um serviço que havia começado”. Felizmente, a tal promessa não se concretizou e nosso poeta pôde continuar circulando livremente pelas ruas de Teresina.
Alarico da Cunha, no mesmo discurso lembra também a engenhosa e interessante versão do poeta para o seu pseudônimo. Porque sua desditosa mãe houvera feito uma promessa para São Benedito, santo de sua predileção, mas este o abandonara à própria sorte, desprezou o nome do taumaturgo, mas em reverência à veneração da mãe conservou o B inicial e etimológico que, junto com a palavra Aurélio, parte do nome de seu pai e do grande imperador filósofo Marco Aurélio, deu em resultado a palavra vibrátil, elegante e sonora Baurélio. E porque o sobrenome Freitas pouco lhe dizia, substituiu-o por Mangabeira, nome de uma árvore que por aqueles dias era fonte de riqueza no Piauí, produzindo magnífica borracha. Para ele, Baurélio Mangabeira, significava poder, sabedoria e riqueza – os três principais fatores do progresso e da civilização.
Jornalista andarilho, repentista e tribuno ardoroso, andava com um prelo portátil e em qualquer parte onde estivesse editava seu jornal A Jornada, periódico ambulante que manteve por vários anos, sendo ele sozinho e a um tempo, redator, revisor e tipógrafo. Redigia, compunha, executava clichês de madeira para ilustrar o jornal e, afinal, o imprimia. Modelava também em zinco e era exímio desenhista, pintor, xilógrafo e escultor. Colaborou também na revista Alvorada(1909) e nos jornais A Chaleira, O Porvir, O Norte, O Grito e O Periperi. Consagrado na literatura, em 1917 participou da fundação da Academia Piauiense de Letras, tomando assento na cadeira n.º 6.
Contraiu matrimônio, um tanto retardado, na cidade de Alto Longá, onde exerceu o cargo de juiz distrital, com a senhorita Raimunda de Oliveira Freitas, deixando desse consórcio os seguintes filhos: Francisco de Assis, José Henrique e Maria de Lourdes.
Para Alarico da Cunha, “Baurélio Mangabeira foi sempre um torturado na sua peregrinação terrena e uma vitima da indiferença do meio. Mantinha, entretanto, uma verve chistosa e humorística, com a qual disfarçava gostosamente os seus pesares ou ‘as tormentas da vida’” (CUNHA, Alarico José da. Discurso de Posse. Revista da APL n.º 17. Teresina: Imprensa Oficial, 1938).
Faleceu Baurélio Mangabeira na cidade de Teresina, em 16 de abril de 1937, com quase 53 anos de idade.
Como mostra de sua produção literária, segue o poema Revelações: “Não julgues que, se a sorte não maldigo,/ Seja porque minha alma não sofreu/ Os travos da desgraça – agro castigo,/ Que dizem vir do Inferno ou vir do céu.// Pouco tempo meu pai viveu comigo:/ Cinco rápidos anos e morreu./ E minha mãe, com lágrimas te digo,/ Dentro de algumas horas faleceu.// Escuta lá: Nos cemitérios vastos/ Os ossos de meus pais devem estar gastos/ Pelo tempo que tudo estraga e rói…// Olha: quem nessa estrada cai,/ Sem ter mãe, minha filha, e sem ter pai,/ Há de sentir o quanto a vida dói…”.
Nasceu em Teresina, a 5 de abril de 1894, filho do intelectual Clodoaldo Severo Conrado de Freitas e sua esposa Corina Freitas.
Fez os primeiros estudos no Liceu Piauiense, onde concluiu os Preparatórios. Orientado pelo pai, desde cedo adquiriu sólida cultura humanística. Compôs seus primeiros poemas ainda na adolescência.
Em 1912, aos 18 anos de idade, estreou em livro com Alexandrinos, coletânea de versos, em parceria com o irmão Alcides Freitas. O livro foi bem recebido pela crítica literária, angariando elogios. Por aquele tempo, a casa de seu pai era um dos pontos de encontro da intelectualidade piauiense. Nesse mesmo ano, preocupado com a preservação da memória cultural do Estado, distribuiu questionário aos intelectuais, depois publicando as respostas, com o objetivo de definir, na visão dos mesmos, quem era e quais foram os principais intelectuais do Estado, bem como avaliar o movimento literário local e as expectativas para o futuro (QUEIROZ, Teresinha. Os Literatos e a República. Teresina: FCMC, 1994).
Em 1914, aos 20 anos de idade, seguiu para o Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito. Mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu o curso, bacharelando-se em Direito no ano de 1916. Ainda estudante chegou a ser nomeado promotor público da comarca de Amarante, não tendo assumido efetivamente o cargo.
Durante sua estada no Rio de Janeiro, participa da vida literária, guiado por seus parentes Amélia de Freitas e Clóvis Bevilacqua.
Depois da formatura, retorna para Teresina, onde se demora por pouco tempo. Ainda em 1916, mudou-se para Belém do Pará, onde iniciou intensa atividade profissional. De imediato, passou a militar com destaque na imprensa local. Em 1917, publica Vida Obscura, seu segundo livro de poesia, que adquire grande aceitação no meio literário. Segundo a crítica especializada, Lucídio Freitas se afirmaria como um dos maiores líricos da poesia piauiense, com versos sonoros, rítmicos e perfeitos.
Por concurso público, assumiu a titularidade da cadeira de Teoria e Prática Processual na Faculdade de Direito do Pará. Sua tese foi publicada em 1919, com o título de Direito Processual. Por esse tempo, ingressa na magistratura, sendo nomeado Juiz Substituto da 4ª Vara Criminal de Belém. Portanto, ainda jovem estava com seu nome consolidado no Pará, como poeta, jornalista, magistrado e professor.
Em Belém, casou-se com a jovem paraense Maria Oceanira Amazonas de Figueiredo, de cujo consórcio gerou alguns filhos, entre esses Genuino Amazonas de Figueiredo Neto, residente no Rio de Janeiro.
O poeta Lucídio Freitas foi descrito por seu primo Cristino Castelo Branco, como loiro, bonito, amável, simples, alegre, comunicativo, bem educado, trajando sempre com esmero, causer delicioso, pleno de elegância, de graça, de espírito, de finura e de distinção, parecendo um ser à parte, baixado do Olimpo à terra (CASTELO BRANCO, Cristino. Vida Exemplar. Teresina: APL, 1922).
Todavia, conforme anotou Monsenhor Chaves, “quando tudo na vida lhe sorria, apareceram os primeiros sintomas da pertinaz moléstia que cedo o levaria ao túmulo” (CHAVES, Joaquim. Apontamentos Biográficos e outros).
No final de 1917, doente, veio a Teresina repousar por alguns dias. Entretanto, a atividade literária não permitiu o completo repouso. No início do mês de dezembro, no jardim público da Praça Rio Branco, profere conferência sob o título Elogio do Heroísmo, versando sobre a Guerra Mundial. Reuniu-se com a intelectualidade piauiense por diversas vezes e, em 31 de dezembro, presidiu a reunião fundadora da Academia Piauiense de Letras, passando a ocupar a Cadeira n.º 09, tendo por patrono seu falecido irmão Alcides Freitas. Mais tarde, também ele foi escolhido patrono da Cadeira n.º 23.
Com a saúde abalada pela tuberculose, retornou a Belém, onde continuou a sua atividade profissional. A doença agravou-se, retornando a Teresina por algumas vezes, e onde faleceu a 14 de maio de 1922, aos 28 anos de idade. Pouco antes do óbito, por iniciativa de seu venerando pai, foi publicado seu último livro, Minha Terra.
Essa síntese biográfica deixa transparecer a pujança intelectual de um jovem promissor falecido no alvorecer da vida, quando muito ainda poderia contribuir para o fortalecimento da cultura brasileira. Todavia, mesmo em sua curta existência legou ao povo piauiense a Academia de Letras, como seu principal idealizador. A ele, portanto, rendemos sinceras homenagens.
Enfermo, no leito de morte, com a família sofrendo muito, arrancou do velho pai, que já perdera outro filho, emoções em forma de sonetos: “Dou-te esperanças que não tenho, e ponho/ Nessa doce ilusão minha ventura…/Mártir do amor de pai, quanta amargura/Me punge ao despertar de cada sonho!//Eu nunca me prostei ante os altares/Nem jamais invoquei de Deus o nome;/Vendo entretanto o mal que te consome,/Ergo, contrito, ao céu tristes olhares!//Bem sei que as leis fatais da natureza/Não se amoldam jamais ao nosso pranto,/Não têm jamais da nossa dor piedade!//Na agonia mortal dessa certeza,/Contemplo a definhar, cheio de espanto,/Gênio, glória, beleza e mocidade!”. Também: “A esperança é o pão dos desgraçados…/Dele há muito me venho alimentando!/Onde o coração humano e quando/Golpes tão fundos recebeu dos fados?//Pobre Corina, companheira aflita,/Mais do que eu, talvez, desatinada!/Ai mãe! Triste mulher! Tão malfadada/Foste em tua prole, Niobe bendita!…//Sofro, dobrado, filho, o teu tormento,/Todo o meu ser concentro em tuas dores,/Minha vida, minh’alma e pensamento!// Sofresse o teu sofrer e eu pudesse/Transferir para mim tantos horrores,/Talvez menos horrores padecesse…”
Para finalizar, sobre a própria dor, bradou Lucídio Freitas: “Perscrutadoramente os olhos ponho/No que fui, no que sou, no que hei de ser,/E alucinado dentro do meu sonho/Sinto a inutilidade do nascer.//Nem o Amanhã da Vida me conforta./E eu sigo, enquanto minha estrela foge,/Amparado na minha própria sombra…//Para vencer, em meio à Vida,/Montei, fogoso, o meu corcel./De pluma ao vento, lança erguida,/Sonhando achar, em meio à Vida,/De ouro montanhas a granel…//Ah! Fui vencido em meio do combate/Pela força brutal da Realidade,/…………………………./Os meus sonhos de glória feneceram./E eu fui sempre um sonhador divino./Cedi à leis fatais do meu Destino,/Doença da qual os meus Irmãos morreram…”.
(1947).Terceiroe Atual Ocupante da Cadeira nº 19 daAPL.
Poeta, cronista, ensaísta e professor, nascido em Parnaíba (1947). Bacharel em Direito. Procurador do INSS em Parnaíba. Professor da Universidade Federal do Piauí – Campus Ministro Reis Veloso. Bibliografia. Literatura: Sombra entre ruínas (1975);
Rosas e Pedras (1976); A insônia da cidade (1991); Aspectos da Literatura Piauiense (1993); Literatura Piauiense no Vestibular (1995) e Das formas de influência nacriação poética (1980). Em 1998, lançou um livro de poemas: Memorial dacidade amiga. Pertence à Academia Parnaibana de Letras e à Piauiense de Letras, ocupando, respectivamente, as cadeiras de números 4 e 19.
Poetas dos mais eloquentes, um piauiense da atualidade. Eis uma poesia sua de muita sensibilidade e opulenta criatividade:
VAREIROS DO RIO PARNAÍBA E OUTRAS HISTÓRIAS
senhor prefeito deputados vereadores
professores estudantes escritores
canoeiros pescadores pecadores beatos burgueses barnabés,
vamos todos atrás do vento procurar quatro palavras
que a voragem do vento levou:
– Vareiros do Rio Parnaíba.
se o vento fala o vento ouve,
portanto garganta aberta gritando no ouvido do vento
todos nós a uma só voz:
cadê os Vareiros do Rio Parnaíba? verba volant, scripta monent…
mas cadê os Vareiros do Rio Parnaíba?
se não estão nas garras do vento estarão boiando rio abaixo rio arriba?
neste caso se não os pescarmos
como então recriar
as aventuras do João Ventura
as travessuras do Pesado das Aroeiras
as desventuras de outros tipos mais?
como então recompor a obra maior do jornalista simples
que simplesmente não apostou na posteridade
e que simplesmente voou para o céu?
minha gente do porto das barcas parnaibanos do porto salgado
negros das charqueadas dos Dias da Silva
homens e mulheres da
beira rio beira vida: sousalimamente falando
cadê os Vareiros do Rio Parnaíba?
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Alcenor Candeira Filho é um escritor dos mais completos – poeta, ensaísta, conferencista e historiador da cultura piauiense – possui qualidades que honram qualquer instituição do Estado e do País. No campo profissional, é professor dos mais competentes, com larga folha de serviços prestados à sua terra. É ainda autor de várias obras publicadas, cuja enumeração ultrapassaria o espaço desta nota. (M. Paulo Nunes).
(1928). Quarto e Atual Ocupante da Cadeira nº 29daAPL.
(Porto Alegre, Piauí, hoje Luzilândia, 20.10.1928). Jornalista, cronista, contista e professor. Descendente de uma das mais tradicionais famílias piauienses – Pires de Carvalho. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
Jornalista dos mais conceituados e dinâmicos da imprensa brasileira Teve merecido destaque a sua atuação nos jornais Última Hora, de São Paulo, DiáriodePernambuco e Correio Brasiliense. Professor de introdução à Ciência da Comunicação do Centro Universitário da Universidade de Brasília (CEUB). Obras publicadas: Só esta vez, contos, traduzidos para o espanhol e para o inglês. A Hora Marcada, Tempos de Leônidas Melo e Capitania do Açúcar.
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Tempos de Leônidas Melo abre novos caminhos para um debate sério, capaz de descobrir os mandantes e responsáveis pela fase negra e desumana de nossa história. Indubitavelmente, o resultado há de ser conducente a inocentar o Governador Leônidas Mello que, pela sua conduta retilínea, seu comportamento exemplar e pela sua honestidade, já foi absolvido pelo povo piauiense que o elegeu, depois do governo ditatorial, deputado federal e senador da República.
Fonte: CARVALHO, Afonso Ligório Pires de. Tempos de Leônidas Melo.
CARVALHO, Afonso Ligório Pires de. CapítaniadoAçúcar. 2ª ed. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 2018, Coleção Centenário nº 96.
Aconteceu na noite da última quarta-feira a solenidade que celebrou o Centenário da Academia de Letras do Piauí, movimentando a semana de eventos de Teresina. O Cine Teatro da Assembleia Legislativa foi o ambiente ideal para comemoração, com entrega de medalhas e o lançamento do livro “Centenário da Academia Piauiense”, do desembargador Nildomar de Silveira Soares. O presidente da APL, Nelson Nery, conduziu as cerimônias. Veja os clicks by Inside do evento! Fotos: Tácio Baptista e Magal
O desembargador e imortal Nildomar da Silveira Soares se debruçou sobre os 100 anos da Academia Piauiense de Letras para contar essa história. O Livro do Centenário será lançado em solenidade especial no próximo dia 24, com a presença de intelectuais, autoridades e dos membros da APL, no Cine Teatro da Assembleia Legislativa, às 19h. Durante a solenidade também será entregue a Medalha do Centenário, homenageando nomes diretamente ligados à cultura piauiense.
A data é emblemática. Além de ter sido no dia 24 de janeiro de 1918 a sessão que instalou a Academia Piauiense de Letras, também o dia do Piauí era comemorado nessa data, já que foi em 24 de janeiro de 1823 que o clã Sousa Martins proclamou a independência de Oeiras, ocasionando a reação das tropas de Fidié, culminando com a sangrenta Batalha do Jenipapo.
Assim, a história da Academia Piauiense de Letras se confunde com a própria história do Piauí. Diversos intelectuais, políticos e magistrados foram imortais, pessoas decisivas para o desenvolvimento do Estado e sua cultura.
O Livro do Centenário representa a essência dessa história de bravura na luta pelo desenvolvimento e incentivo à produção literária. “A Academia está em festa desde o mês de dezembro nas comemorações do seu centenário e, durante todo este ano de 2018, estará em curso uma programação para lembrar como foi o seu início e debatermos como será o seu futuro. Essa obra, o Livro do Centenário, é o resgate dessa história que não pode ser esquecida. Nele estão os fundadores, suas motivações, seu trabalho e o de todos que os sucederam. Este ano temos muito que celebrar”, ressalta Nelson Nery Costa, presidente da APL.
Neste primeiro semestre, continua-se a lançar obras da Coleção Centenário e da Coleção Século XXI. Deve ocorrer o lançamento também de série especial chamada Coleção 100 Anos, e outras reedições, como Antologia da Academia Piauiense de Letras, de Wilson Gonçalves, Os Fundadores, e outros inéditos, como História da APL, de Celso Barros, e História Piauiense: aventura, sonho e cultura, da autoria de Nelson Nery Costa, com quase mil páginas.
Ainda este ano, sob a coordenação da imortal Fides Angélica Ommati, acontecerá o seminário Piauí 2.100, que tem a intenção de refletir sobre o Piauí e de como estará o mesmo no final do século XXI, em termos de desenvolvimento econômico e social, de sustentabilidade, de temperatura, e de cultura, que deve contar com palestra de encerramento do Min. João Paulo dos Reis Veloso. A APL também promoverá um concurso literário destinado a estudantes do ensino médio e também para o ensino universitário, em poesia, conto e crônica, com premiação até setembro do próximo ano. Acontecerá ainda em 2018 o Centenário da Revista da Academia Piauiense de Letras
História
A Academia Piauiense de Letras foi criada, efetivamente, por um grupo de intelectuais, no dia 30 de dezembro de 1917, no salão do Conselho Municipal. Inicialmente, a ideia era organizar, como já acontecia em outros centros do país, um grêmio literário, com a finalidade de desenvolver a literatura piauiense.
No grupo, nomes expressivos da intelectualidade na época. A primeira sessão do novo grupo, em que foi escolhida a primeira diretoria, foi liderada por Lucídio Freitas. A diretoria foi formada por Clodoaldo Freitas, presidente; João Pinheiro, secretário geral; Fenelon Castelo Branco, primeiro secretário; Jônathas Baptista, segundo secretário; Antonio Chaves, tesoureiro; Édison Cunha era o bibliotecário. Além destes, estiveram presentes ainda a essa sessão histórica Benedito Aurélio de Freitas, Celso Pinheiro e Higino Cunha.
Pode-se analisar e considerar o jornalismo como uma instituição social formada historicamente para oferecer conteúdos que tenham características de atualidade e de relevância para um público amplo e diferenciado. Tal papel é executado pelo jornalismo que conquistou uma legitimidade social para produzir uma reconstrução discursiva do mundo, com base em um sentido de fidelidade entre o relato jornalístico e as ocorrências cotidianas.
A maior importância do jornalismo é que ele permite efetivamente que as pessoaspossam fazer uma análise de suas ações, para que possam compreender a evolução dos processos sociais marcados por discursos exaltando a liberdade e a democracia da imprensa, demonstrando o papel do jornalismo na construção da identidade nacional. (SIROTSKY, 2006)
Em referência ao fragmento que se cita acima há uma essência de informação e dos aspectos que a singularizam em relação outros elementos, os quais são tratados socialmente, como pontos de vista, que revelam determinadas ocorrências selecionadas do mundo social. A base de critérios e valores operacionais se encarrega de dar sentidos específicos a estas ocorrências selecionadas, ao utilizar linguagens e conteúdos comuns em uma coletividade.
O que se deseja é examinar a característica mais típica de sua produção: a irreverência no trato dos fatos políticos do Piauí. A forma bem humorada, às vezes sarcástica que Zózimo trata as notícias, do meio político e social locais é singular, embora as ocorrências não sejam comuns apenas no Piauí. (CUNHA, 1997, p. 04)
É interessante notar que o jornalismo aberto não possui uma unidade conceitual mínima que possa medi-lo. Zózimo Tavares utiliza-se de um artifício interessante, ele constrói através do “novo”, uma forma de expressar o que pensa, sendo isto, um critério marcante no jornalismo a que ele se propõe fazer. Seguindo ainda essa noção, em sua forma de transmitir a notícia, como o classifica outro expoente do jornalismo piauiense Paulo Cunha, “ressalta-se as diferentes maneiras de expô-la ao público que lê e admira o jornalista que tem de mais útil: a palavra serviço de verdade”.
O estudo está dividido em cinco capítulos, dos quais; o primeiro aborda de forma inicial uma breve definição para humor, aqui analisada, para que se entenda sua importância para o jornalismo; no segundo traça-se um esboço histórico do jornalismo piauiense, na busca de entender como o jornalismo começou no Piauí; no terceiro, buscou-se um aprofundamento teórico acerca do pesquisado como um estudioso do jornalismo e suas concepções; no quarto capítulo, analisa-se os conceitos e considerações sobre o formato do jornalismo de Zózimo Tavares, procurando abordar novos paradigmas e deliberações para a compreensão do tema em foco; no quinto, procura-se entender o humor satírico do jornalista que intitula esta obra, com atenção à realidade das construções críticas que ele elabora no decorrer de seu trabalho, incluindo novas acepções e perspectivas do jornalismo piauiense, elabora-se após estas construções as considerações finais.
CAPÍTULO I -UMA DEFINIÇÃO PARA HUMOR
É engraçada a forma de como ao longo do tempo, o homem vem buscando maneiras para solucionar seus problemas, resolver seus dilemas, indagar sobre suas angustias e fazendo um paralelo com a filosofia grega, “seu mero existir”. Para tanto, historiadores, arqueólogos, antropólogos, dentre outros estudiosos, vêm buscando analisar de forma coesa e prática, questões que pertinem a existência humana, desde a sua formação, e são repassadas de maneira hereditária. Por mais que se tente responder estes questionamentos, ainda carecem de indumentárias mais consistentes e por isto, devem ser discutidos com mais profundidade.
(…)O homem para resolver seus enigmas foi inventando mitos e deuses, filosofias e artes, para expressar suas idéias, sua perplexidade frente à vida. Olhar para poder penetrar os mistérios humanos e naturais. Foram os gregos que na Antigüidade criaram o teatro, a filosofia, a política e a literatura para expressar uma nova fase de descobertas, sobre o “estranho” ser humano, que sabe chorar e rir, que sofre e alegra-se. Nos famosos festivais de teatro na Helade, durante um dia inteiro, toda a população da cidade assistia tragédias e comédias, que eram “as diferentes janelas para a mesma paisagem humana”, escreveu Tchekov (…). (SLAVUTZKY, 2007).
Durante muito tempo a existência do homem foi baseada e norteada pela religião, fosse ela politeísta ou monoteísta e por isto, detinha um caráter extremamente teocrático, sendo tudo o que acontecia de bom ou ruim na vida dos seres humanos, responsabilidade dos Deuses, aos quais os mesmos reverenciavam.
Esta maneira de interpretar os acontecimentos através da fé, era no exemplo citado acima, uma maneira de dar razão ao seu existir e de criar formas de divertir ou mesmo preencher seu tempo repetindo de maneira crítica, às vezes trágica, às vezes cômica, os fatos do seu dia-a-dia. Segundo alguns estudiosos, neste processo de formação psico-social, houve as divisões do que seria triste ou alegre, certo ou errado. Por isto que a reprodução teatral da vida cotidiana possui como se costuma dizer, “uma moral da estória” e a partir destas noções, se repete de forma cognitiva o que se aprendeu.
Por conta destes conhecimentos segundoSlavutzky (2007) nasce o conceito de uma das formas mais sui generis de se interpretar os fatos, o humor. “(…) A palavra é latina, humor “humoris”, é líquido, fluido, humores do corpo humano como o sangue, a linfa, a bílis, enfim as seivas da vida (…)”.
Ao se vislumbrar este conceito, entende-se que a origem e a primeira interpretação da terminologia é médica, e foi aplicada pelos gregos, cujas noções primordiais foram dadas por Hipócrates, este estabeleceu relações entre os temperamentos e reações dos seres humanos ao que ele chamou de humores, que eram os líquidos corporais. Seguindo esta corrente de entendimento, que tem sustentabilidade até o fim da Idade Média, os humores do corpo humano, ou seja, os seus fluídos, influiriam no caráter dos indivíduos, no temperamento e em outras questões pertinentes aos mesmos.
Por volta do século XVII, a palavra Humor começou a ter o significado que conhecemos na atualidade. Para Pablo Neruda, “foi em 1906 que Louis Cazamian,um jovem professor de literatura inglesa e um grande estudioso da literatura, escreveu um artigo cujo título era: Porque não podemos definir o humor”. Este título, portanto, era paradoxal e bem humorado, pois em seguida ele tenta definir o humor a partir de seu mecanismo estético.
O humorismo consiste no sentimento do contrário, provocado pela especial atividade de reflexão que não se esconde, como geralmente na arte, uma forma de sentimento, mas o seu contrário, mesmo seguindo passo a passo o sentimento como a sombra segue o corpo. Para o humorista, as causas na vida, não são nunca tão lógicas, tão ordenadas, como nas nossas obras de arte comuns. Aquele decompõe o caráter em seus elementos, mostrando as suas incongruências. O sentimento do contrário tão bem descrito por Luigi Pirandello (colocar referência) é uma das essências do humor, que permite relativizar tudo e quebra toda seriedade teórica e prática seja do que for. (SLAVUTZKY, 2007)
Considerando que o humor seja um ato de desdobramento e reflexão em um mesmo ato de concepção, e por conta disto, está involuntariamente ligado a todo sentimento, impulso, pensamento e reação que surge no humorista, e assim é descrito através de sua maneira crítica de fazer este humor, que se desdobra em seguida em um caráter contraditório e dúbio no qual, em determinados momentos, todo sim pode virar não e por vezes um não pode assumir o valor de um sim. E por isto, para alguns críticos da arte de fazer humor, esta forma de expressão não leva a sério nada, nem a si mesma.
Crônica do Fome Zero
Quanto ao programa social que é a menina dos olhos do governo Lula, o Fome Zero, tem muita gente falando sobre a fome de barriga cheia. Mas espero que ninguém venha a morrer pela boca, embora o programa precise de mais lingüiça e menos farofa. Se uns acham que ele não vai dar um caldo, outros acham que vai ser sopa.
Como a fome é um osso duro de roer, nessa panela todos querem meter a colher. Mas o governo puxa a brasa para a sua sardinha. E, já que o caldo está engrossando e esquentando, começa comendo pelas beiradas. É importante não morder a língua.
De qualquer forma, o Fome Zero é uma salada. Uma salada ideológica sem sal, para uns, e apimentada, para outros. Enquanto uns querem metê-lo de goela abaixo, outros não querem engoli-lo sem mastigar. Nem sei para quê tanta polêmica, se todos concordam que o programa é de fácil digestão.
Mas que o governo Lula não seja apenas um governo feijão com arroz! E que o Fome Zero, o filé do governo, não acabe em pizza! (TAVARES, 2007, Jornal Diário do Povo)
Vê-se no fragmento supracitado, que o autor do mesmo enfatiza um programa criado pelo governo e analisa a situação política de forma irônica, um tanto sarcástica e ao mesmo tempo crítica. Temos assim um exemplo palpável, do que se busca identificar no que seja o humor e algumas de suas ferramentas. Enfim, o que se pode denominar como semelhanças e diferenças entre os conceitos, ferramentas e quais as suas aplicações?
Ao tentar caracterizar o humor, são geradas diversas indagações e dúvidas sobre as relações deste com a comédia, com o cômico, com o riso, com a piada, dentre outros elementos que compõe o que alguns estudiosos chamam de “forma alternativa de ver a sociedade e suas relações”. Por conta destas noções, o humor é dividido por muitos dos que o utilizam, em diversas e inúmeras classificações, as quais se fossem citadas, tenderiam a uma exaustiva análise, o neste contexto não se faz necessário. Abre-se aqui, apenas uma pequena interlocução entre os elementos deste segmento.
Realmente estabelecer diferenças precisas não é fácil e às vezes pode até ser inútil. O cômico como fenômeno antropológico responde ao instinto do jogo, do lúdico, ao gosto do homem pela brincadeira e pelo riso, a sua faculdade de perceber aspectos insólitos e ridículos da realidade física e social. (SLAVUTZKY, 2007)
O cômico possui como principal noção a liberdade, ajuda a liberar as tensões e fazer as pessoas se olharem de forma diferente, algumas vezes, o cômico se utiliza do humor como ferramenta e instrumento para denotar nas pessoas tais sensações e sentimentos. Mas isso não implica dizer que ambos sejam iguais, logo, segundo Slavutzky (2007) “(…) O cômico expõe uma contradição engraçada e o humor cria uma reflexão, portanto o seu riso é filosófico”.
Historiadores afirmam que a comédia vem do grego Komedia, “Komos era uma canção ritual, parte de um desfile em homenagem a Dionísio, Deus do vinho, da alegria e da orgia”. Segundo esta linha de estudo, para os gregos, haviam três critérios os quais formam uma espécie de composição contrária a tragédia, uma oposição a mesma na qual: “os personagens eram em sua maioria de classe inferior, o desenrolar da narração é feliz, o que consiste em provocar o riso do espectador”. Sobre isto, entende-se
“(…) a comédia é uma imitação de homens inferiores. O riso do público é de cumplicidade e de concordância, o que protege quem os provoca, da angústia trágica de sua realidade, dando-lhe um sentimento de superioridade ante os mecanismos de exagero escreveu Aristóteles”. (PILETTI, 2006, p. 184)
O humor como tudo o que foi criado pelo raciocínio e pela lógica humana possui uma história, mas não se sabe, de forma exata, especificar como e quando ele começou. No entanto, é deveras mais fácil e possível avaliar o humor de um povo, a partir de sua literatura, manifestação esta que deve ser vista como principal na cultura de um povo, independente de quem sejam os personagens ou mesmo de quem a narre. Sem a literatura e suas diversas formas, seria impossível diferenciar os povos, suas sociedades e com elas sua evolução.
Por conta danecessidade de impressão do que é dito, o humor oral nem sempre é acessível e passível de entendimento. Cita-se como exemplo, as manifestações humorísticas e até mesmo lingüísticas, de algumas tribos indígenas americanas, africanas ou de qualquer continente, nas quais, de maneira quase que óbvia sabe-se que o humor e suas vertentes devem existir, mas que sem uma escrita e uma análise da mesma, torna-se muito difícil avaliar e estudar tais manifestações.
O que se entende com este breve estudo é que com o humor e suas formas, o homem aprende a viver com uma nova liberdade trazida pelo riso, e também com uma dita forma filosófica e inteligente, permissiva, na qual, através dele o ser humano ria de si mesmo e dos seus semelhantes, dos problemas e dilemas. Por isto, o humor cresceu nos últimos séculos, conquistando espaços a ponto de ir ocupando cenários e locais cada vez mais destacados nos meios de comunicação e formação de opinião, como no jornalismo e na propaganda.
CAPÍTULO II – UM BREVE ESBOÇO HISTÓRICO DO JORNALISMO NO PIAUÍ
Durante um bom tempo, no período colonial, pouco se tinha noção do que era imprensa oujornalismo no Piauí. Os jornais que se tinha acesso aqui na província eram advindos de outros estados, como Pernambuco, Ceará e claro, das províncias do sul. Haviam aqui apenas manuscritos, relatos e obras literárias do gênero, narrando ou abordando fatos pitorescos da cultura e da sociedade local da época.
Só no ano de 1832, surgiu o primeiro jornaldo Piauí, “O Piauiense” por iniciativa do Poder Público, em nome do governo da província, que na época estava sob responsabilidade de Manoel de Sousa Martins, que soube de maneira informal que o Padre Antônio Fernandes da Silveira, era tipógrafo e possuía uma máquina de tipografia. Segundo alguns relatos da época, padre Antônio, treinou dois seminaristas, que mais tarde foram ordenados padres e também se tornaram os primeiros redatores oficiais da província, os Padres Amaro Gomes dos Santos e Antônio Pereira Pinto do Lago.
Passados cerca de três anos, foi criada a Assembléia Legislativa Provincial, composta por influentes fidalgos e fazendeiros locais, e que inaugura no ano de 1835, o jornal “O Correio”, responsável pelas edições dos discursos e das pautas oficiais de discussões que ocorriam na Assembléia Legislativa Provincial do Piauí, possuindo também um caráter oficial. Mais tarde surge também sob a direção e financiamento do Barão da Parnaíba, o jornal “O Telégrafo”, que tinha como principal objetivo expor e instigar na opinião pública, de que o então Visconde da Parnaíba era a favor da conjuntura da Balaiada.
Foi em 1853 que surgiu o jornal “A Ordem”, criado pelo então Governador Antonino Freire, que também através de um decreto executivo, formulou e apoiou a criação de uma Imprensa Oficial, que tinha como função imprimir e fazer circular as opiniões do governo da época. Na cidade de Teresina foi criado O Dia, fundado no dia 1º de fevereiro de 1951, sendo ele o jornal impresso mais antigo do estado e que ainda permanece atuante e em circulação.
A luta política, nunca arrefecida, fez proliferar em Teresina o Jornalismo. Não havia na imprensa neutralidade política: escrevia-se a favor do governo ou contra ele. (…) Houve mesmo um louvável esforço de fixação de aspectos de nossa história, Miguel Borges Leal Castelo Branco, por exemplo, deve-se uma série de artigos, verdadeiras biografias de piauienses ilustres, que muito auxiliarão os estudiosos de hoje na reconstituição histórica do passado. (CHAVES, 2005, p. 50)
No fragmento que se cita acima, percebe-se uma característica, até hoje auferida e atrelada aos meios de comunicação do estado do Piauí, principalmente no jornalismo impresso, os quais, de alguma forma sempre estão a serviço de determinado grupo político. Razão pela qual, a maioria destes grupos sempre financiou ou é proprietária de um destes meios de comunicação, o que acaba por interferir em seu padrão de neutralidade e às vezes até de credibilidade.
Este estigma permanece e se prolifera desde a formação dos primeiros jornais que circularam no Estado e por isto, são determinantes até hoje, para a manutenção de alguns grupos políticos no poder. Na maioria dos casos, estes jornais utilizam-se de uma linguagem que pode ser denominada de fanática e apaixonada em defesa de seus interesses e também de seus jargões políticos, podendo por vezes, utilizar-se de abordagens um tanto ofensivas para replicar e combater aos opositores.
No Piauí, a imprensa insere-se no campo da política de tal maneira que essa incorporação não significa apenas o vínculo ao partido como também a apresentação em público através de textos que circulam no meio intelectual e da elite social. O conteúdo publicado nos jornais piauienses era intimamente marcado pelos interesses políticos dos partidos o que causava sérios danos à imparcialidade jornalística. (CHAVES, 2005, p. 98)
Sempre houve no Piauí uma defesa fervorosa e acirrada de teses de algumas facções políticas, por algum profissional da área jornalística, fosse ele simpático personalmente a causa ou por barganha de alguma vantagem, o que a seguir, acabava assimilando em suas produções o conteúdo por eles expressos. Criava-se com isto, um círculo de informações onde na maioria das vezes, gerava vínculos com determinadas siglas o que culminou redundantemente na filiação partidária de muitos jornalistas, que posteriormente tornaram-se políticos, para continuar mantendo suas idéias e jargões.
Nos séculos XIX e XX, a imprensa constitui instrumento importante para a legitimação de conservadores e liberais, a exemplo de outras capitais brasileiras, todos estes jornais, patrocinados por famílias, debatem questões ligadas à política. Seus proprietários e redatores têm sua origem nos núcleos familiares dominantes, divididos em correntes distintas. (RÊGO, 2001, p. 08)
Em maio de 1940, foi inaugurada a primeira emissora de radiodifusão do Piauí, a Rádio Educadora de Parnaíba, em uma grande solenidade e ato festivo do qual participaram muitas autoridades locais e estaduais. Já em Teresina, a primeira emissora de rádio: a Difusora de Teresina foi inaugurada em julho de 1948, e tinha na família Pacheco sua direção, sendo ela a principal proprietária.
Possuía a rádio Difusora de Teresina um grande alcance e interesse social, dentre outros aspectos, pelo poder de formar opinião. A Difusora como era chamada na época, depois passou a fazer parte e a integrar a grande cadeia de emissoras espalhadas por todo o país. Só na década de 80, foi que a rádio foi vendida, passando com isto, ao domínio de grupos empresariais locais.
A hoje conhecida e aclamada Rádio/TV Clube foi inaugurada em 1960, pelo professor Walter Alencar tendo como outro grande sócio e acionista o governador Chagas Rodrigues. Passados alguns anos, a família Alencar comprou a outra parte da antigasociedade e atualmente a emissora pertence apenas ao grupo Alencar. Foi em 1962 que o saudoso Dom Avelar Brandão Vilela, fez surgir outra emissora, a Rádio Pioneira, que na época possuía apenas uma programação mais evangelizadora e educativa, contendo também noticiários locais.
Foi só na década de 70 que o Piauí teve acesso ao meio de comunicação que revolucionaria a sociedade contemporânea, a Televisão. A primeira transmissão televisiva do Estado ocorreu pelas mãos do saudoso professor e visionário Walter Alencar, que ao fundar a TV/Rádio Clube, com o slogan de “A Força de Um Ideal”, mudaria os rumos da comunicação Piauiense. Desde a sua fundação, a TV Clube, consolidou uma parceria com a Rede Globo de Comunicação, retransmitindo através de seu sinal a programação diária da TV Carioca.
Mais tarde foram surgindo novas emissoras de televisão, que também foram criadas por grupos empresariais e com certo envolvimento circunstancial político, no intuito de consolidar suas ideologias e também de formar opinião de massa, devido ao grande alcance deste meio de comunicação, se implantaram em Teresina:
§A antiga TV PIONEIRA, hoje TV CIDADE VERDE, foi criada em março de 1986, atualmente transmitindo a programação do Sistema Brasileiro de Televisão – SBT, pertencente no Estado ao Grupo JELTA;
§TV ANTARES, fundada em agosto de 1987, pelo então governador Alberto Silva, a antiga TVE-PI, transmite atualmente o sinal da TV Cultura, e continua pertencendo hoje ao governo do Estado, sob a direção de Rodrigo Ferraz.
§TV ANTENA 10, fundada em 19 de dezembro de 1988, hoje é responsável pela programação da TV Record no Piauí e também é de propriedade do Grupo JET;
§TV MEIO NORTE, respondendo pelo sinal da TV Bandeirantes no Estado, esta emissora foi criada em 1995 e pertence ao Grupo Paulo Guimarães.
§TV ASSEMBLÉIA, fundada em 2007, sendo a mais nova emissora criada no Estado, tem uma total inserção e identificação política.
Está ultima emissora, citada acima, é responsável pela informação e cobertura de todos os fatos políticos e pitorescos, acontecidos nos plenários da Câmara Estadual e também por matérias e reportagens sobre o que ocorre na Câmara Federal, no intuito de manter a população informada e atenta em seus representantes. Também ainda fazem parte de sua transmissão, programas diários sobre diversos outros temas educativos e ainda jornais informativos.
No jornalismo, podem surgir variadas formas de abordagens, isto por existirem vários tipos de corrente de pensamento e tradições teóricas, que de acordo com a ideologia ou o comportamento dos políticos pertencentes a algumas siglas, estas abordagens podem conter variados tipos de análises, dando às vezes tons críticos, irônicos, sarcásticos ou até mesmo de concordância, dependendo com isto, da forma como se interpreta as correntes conceituais divergentes.
Alguns dos conceitos fundamentais do jornalismo, “como a neutralidade, a objetividade, a imparcialidade e a atualidade, diferenciam-se no modo como são considerados não passando, com isto, por vezes, de uma desconstrução conceitual a uma desconsideração como objeto teórico relevante para que se atinja defesa acrítica como princípio ideal” (FRANCISCATO, 2006). Num trabalho apresentado no VI Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom,uma das participantes do mesmo fala que:
“Jornalismo que cobre a área de notícias culturais, como por exemplo, filmes, peças de teatro, música etc.”, mas, essencialmente, mostra quão árdua é a tarefa de o jornalismo cobrir universo cultural tão amplo como o brasileiro(apud. CASTELO BRANCO, 2007,visitado em 30 de novembro)
O que se percebe com o fragmento citado acima é que em pleno século XXI, o jornalismo piauiense ainda tem pretensões e pendências para o domínio do colunismo social, sendo mais restrito ainda, por resumir-se ao colunismo local. De certa forma esse jornalismo possui uma abordagem interessante, com uma linguagem atual e dinâmica, mas que, sobretudo, não valoriza de forma eficaz a notícia, por ainda prevalecer o velho jogo de vaidades e interesses pessoais, como em coberturas de eventos sociais. Pensamentos como o de Zózimo Tavares acrescenta sobre o assunto:
(…) hoje o que se vê é que o suplemento cultural da maioria dos grandes jornais foi transformado em cadernos de variedades. Com o passar do tempo, as reportagens, perfis, entrevistas, resenhas críticas e polêmicas que diferenciavam o jornalismo cultural como uma prática saudável e inteligente foram substituídas por material que chega “pronto” às redações, despejado a mão cheia pelas assessorias de imprensa de artistas, editoras, produtoras, TVs, bandas musicais etc., com apelo crescente para o besteirol.( apud. CASTELO BRANCO, 2007,visitado em 30 de novembro)
Através desta citação, percebe-se como é caracterizado pelo patrono deste trabalho o jornalismo, que com seus 27 anos de carreira, corrobora com as idéias interpostas anteriormente e mais, são por ele reiteradas, quando Zózimo fala em entrevista concedida:
O nosso jornalismo tem as mesmas virtudes e fraquezas do jornalismo praticado em qualquer estado brasileiro. Temos muita coisa medíocre. Mas temos muita coisa boa. Temos um diferencial: não há uma só empresa de comunicação do Piauí nas mãos de grupos políticos. Há alinhamentos circunstanciais com o governo, com qualquer governo, de qualquer partido, mas mesmo essa relação vem mudando. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida.)
A partir da citação anterior, deve-se também salientar, as relações temporais presentes em algumas matérias e conteúdos jornalísticos, as quais, variam conforme o grau de contextualização e alinhamento dos profissionais que as elaboram. Por conta disto, conforme as relações estabelecidas pelos produtores entre estes conteúdos e situações ou temas vistos de uma perspectiva temporal mais ampliada, o que no jornalismo piauiense começa a ser aplicado e proposto.
Diferentes gêneros jornalísticos possuem variações de tratamento e amplitude da perspectiva de atualidade (ou de potencial desatualização) exemplo disto, é o jornalismo feito pelo homenageado nesta obra, o qual aborda a política de forma crítica e humorística e vice-versa. E como divide um dos grandes estudiosos da teoria jornalística, “(…). Os gêneros são formas assimiladas pelo hábito, formas que se pode ensinar e aprender” (GOMIS, 1991: p. 44).
CAPÍTULO III – UM ESCRITOR JORNALISTA
Zózimo Tavares Mendes foi o primeiro dos filhos do poeta e escritor João Tavares do Nascimento e da dona de casa, mas extremamente culta e inteligente dona Maria Helena Mendes do Nascimento. O reverenciado jornalista nasceu no dia 04 de abril de 1962, em Novo Oriente, estado do Ceará.
Na verdade eu só nasci no Ceará. A minha vivência toda está no Piauí, a minha infância e adolescência estão incorporadas em Água Branca e o período da maturidade e o profissional já em Teresina, mas sendo sincero, eu me considero um piauiense nato. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida.)
Zózimo teve grande parte de sua criação, infância e a adolescência na cidade de Água Branca (PI), que está situada a cerca de 100 quilômetros da capital Teresina, onde o jornalista firmou residência e domicílio desde 1978. Teve aos 7 anos, o início de sua jornada educacional e começou a receber instrução formal, no Grupo Escolar Dom Avelar Brandão Vilela, ainda em Água Branca, mas o mesmo pelo incentivo e cuidados de sua mãe já entrou na escola sabendo ler e escrever.
Fui alfabetizado, em casa, pela mamãe, Maria Helena Mendes do Nascimento, pela tradicional “Carta de ABC”. E com papai, que era o poeta e popular, João Tavares, aprendi nessa época a fazer versos, que como ele dizia eram de “pé-quebrado”. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida.)
Cursando primário, antigo (Ensino Fundamental Menor – de 1ª a 4ª séries) na Unidade Escolar Monsenhor Bóson, que pertence à rede estadual de ensino, Zózimo já se destacava pelas boas notas e facilidade em aprender. No Ginásio Dom Severino, fez o curso ginasial (Ensino Fundamental Maior – de 5ª a 8ª séries). Em janeiro 1978, Zózimo mudou-se para Teresina, em busca de dar prosseguimento aosseus estudos se matriculou na antiga Escola Técnica Federal do Piauí (hoje CEFET – Centro Federal de Ensino Tecnológico)de onde saiu e posteriormente profissionalizou-se, como jornalista.
Com menos de 15 anos, o jovem Zózimo ganhou destaque e conquistou respeito na profissão de jornalista. Ainda muito novo, conseguiu por competência alcançar alguns dos principais cargos do jornalismo piauiense, nos quais, ele desempenhou funções nos diversos meios e âmbitos profissionais como: rádio, jornal, televisão e assessoria de comunicação, provando uma grande versatilidade e credibilidade.
Em 1980, quando Zózimo iniciou sua carreira jornalística, o Estado do Piauínão possuía em nenhuma de suas instituições de ensino o curso de Comunicação Social. No entanto, em 1983, o Sindicato dos Jornalistas do Piauí, organizou e palestrou um curso intensivo de Comunicação Social, do qual, seletos 45 jornalistas e radialistas participaram, entre os quais, o jovem Zózimo se fez presente.
Outro fato marcante na trajetória e carreira do jovem Zózimo foi à visita do então líder sindical Luís Inácio da Silva, o Lula, à cidade de Água Branca, em 1980. O líder sindical, que posteriormente chegaria à presidência da república, esteve no Piauí e em outros estados do nordeste, com intuito de fundar e instalar bases do Partido dos Trabalhadores nas cidades por onde passava.Segundo relatos do próprio Zózimo:
(…) Lula conversou com os jovens sobre o momento político nacional – o começo do fim da ditadura militar – e os encorajou a prosseguirem na luta de conscientização da comunidade e no importante papel de mudar a atual situação política da época. (TAVARES, 204, p. 86)
Apesar da repercussão e das semelhanças com suas crenças e formas de analisar a conjuntura política da época, Zózimo já possuía de certa forma, algumas opiniões e convicções próprias, sobre alguns dos temas abordados na palestra de Lula. O jornalista corroborava com algumas de suas idéias e noções de mundo abordadas por aquele que 20 anos mais tarde, viria a se tornar presidente. Mas sempre se manteve neutro na política, característica essencial para quem quer ser um bom “jornalista” e ter “imparcialidade”, segundo o próprio Zózimo.
Só em 1984,que a Universidade Federal do Piauí implantou em seus cronogramas o curso de Bacharelado em Jornalismo, pelo qual o reverenciado jornalista não despertou interesse em graduar-se, já que em sua concepção, era necessária uma melhor estruturação e organização para o curso. “Eu achava que não ia aprender muita coisa lá, nós jornalistas, temos mesmo um defeito muito grave, de ‘nos acharmos’ muito auto-suficientes”.
Aos 37 anos, já conhecido, com um trabalho muito intenso no jornalismo piauiense e com grande experiência literária e social, Zózimo Tavares resolveu ingressar na universidade. Por gostar muito e ser um estudioso da língua Portuguesa, possuindo por isto, uma boa base teórica e uma constante curiosidade pelos conhecimentos gerais, o jornalista prestou vestibular e foi aprovado para o curso de Letras/Português na Universidade Estadual do Piauí – UESPI, no qual, graduou-se em 2002.
Após sua graduação, o jornalista concluiu uma pós-graduação lato senso, na área em que se tornou ícone e atua por tantas décadas que é Comunicação e Marketing, especialização feita pela Universidade Federal do Piauí, em 2005. O tema abordado em sua monografia foi um trabalho sobre a política de comunicação no primeiro mandato do governador hoje deputado Alberto Silva (1971-75). No ano de 2007, o incansável Zózimo concluiu outra especialização, esta em Lingüística, pela Faculdade Santo Agostinho.
Durante um bom tempo, Zózimo Tavares presidiu o Sindicato dos Jornalistas e exerceu diversas funções nos vários nichos do jornalismo, atividades como repórter e redator da Rádio Difusora de Teresina e mais recentemente editor-chefe no Jornal Diário do Povo. Além dos meios de comunicação do Estado, o jornalista piauiense também foi correspondente do Jornal Correio Brasiliense no Piauí, durante cinco anos, e ainda foi. Secretário de Comunicação do Município de Teresina, de janeiro de 1993 a março de 1999, nas gestões dos prefeitos, Wall Ferraz, Francisco Gerardo e Firmino Filho.
Após este período de formação, no qual adquiriu muita experiência e conhecimento como jornalista, Zózimo foi convidado a fazer parte do corpo de docentes da Universidade Federal do Piauí, no qual, já ministrou diversas disciplinas, principalmente as do curso de Comunicação Social, sua maior área de domínio e conhecimento, sendo reconhecido pelos alunos como um competente professor.
Zózimo Tavares sempre fez muitas coisas ao mesmo tempo, mantém suas atividades como jornalista trabalhando e produzindo textos diários e factuais. Dentro desta rotina diária, ele nunca deixou de escrever e elaborar suas crônicas e continua escrevendo outros textos quando chega em casa, sendo por muitos considerado um bom literato e poeta, obras estas que posteriormente foram publicadas e que fizeram do jornalista um grande escritor e imortal da APL (Academia Piauiense de Letras). Publicou vários livros e títulos, os quais os mais conhecidos são os sobre humor, política e literatura de cordel, cita-se abaixo alguns deles:
§Vote Lá Que Eu Voto Cá (1986);
§Falem Mal, Mas Falem de Mim (1989);
§Céu da Terra – roteiro turístico do Piauí em versos (1990 – em português; 1997 – em espanhol);
§Pra Seu Governo (1991);
§O Pulo do Gato (1994);
§O Voto é Inseticida Contra Praga de Ladrão – guia eleitoral (1994);
§O Atentado a Nossa Senhora Aparecida (1995);
§Zé da Prata, Poeta da Sátira (1995);
§Sonetos de Cantadores (1996);
§Meus Senhores, Minhas Senhoras (1997);
§Filosofia Barata (1999);
§100 fatos do Piauí no Século 20 (2000);
§O Velho Jequitibá (2002);
§Sociedade dos Poetas Trágicos (2006).
Ao assumir um dos assentos da APL – (Academia Piauiense de Letras), o imortal iniciou e encabeçou um movimento de valorização da literatura piauiense, contribuindo com o lançamento, do livro Sociedade dos Poetas Trágicos em 2006. Segundo o próprio escritor:
O livro é uma tentativa de resgate através de dez grandes vultos literários piauienses, reverenciando, com isto, suas memórias ao retirar do anonimato, grandes nomes da literatura e poesia que caíram no esquecimento, com o objetivo de fazer com que sobrevivam na lembrança e na admiração dos leitores. (TAVARES, 2006. p. 09)
Em suas obras literárias e textos publicados, Zózimo trata em sua maioria de fatos históricos e políticos, como por exemplo, a conhecida obra “100 fatos do Piauí no século 20”, na qual, o escritor conta fatos e acontecimentos do Estado, de forma fulgaz e por vezes expositivas, sem a necessidade de aplicar ou exprimir, sua conhecida opinião crítica e às vezes satírica, utilizando-se de uma linguagem didática e extremamente narrativa.
Zózimo Tavares é um jornalista conhecido pelo estilo elegante com que escreve os mais diferentes assuntos da crítica amais severa aos assuntos mais engraçadas, ele passei com desenvoltura pelo reino das palavras, ora suaves, ora desconcertantes.
Com este novo livro, ele aguça nossos sentidos, mais uma vez, por meio de um relato objetivo dos fatos que marcaram a história do Piauí ao longo do século. Não é um livro com pretensões históricas, (…), muitas vezes mais interessantes que o próprio assunto principal.
Sempre pautado pela ética, o Zózimo escritor volta à cena com um livro que serve como referência e pesquisa pelos próximos cem anos. É ler e conferir. (TAVARES, 2000, apud Cláudia Brandão)
Em geral na extensão de toda a sua obra, Zózimo não exibe construções lingüísticas estilosas e com fins acadêmicos, nem tão pouco se aprofunda em aplicar em seus trabalhos uma linguagem rebuscada que considera para alguns, “inacessível”. Propõe-se como jornalista, a ter o que para ele deve ser a principal das qualidades de um bom jornalista, “a imparcialidade”, é interessante ressaltar que o papel de um bom jornalista é simples, ele deve apenas narrar fatos importantes para que estes sobrevivam na memória do povo piauiense.
Em uma homenagem prestada a Zózimo pelo amigo e ex-presidente da Assembléia Legislativa do Piauí,o ex-deputado analisa o folclore político do Estado e a forma irreverente no qual o jornalista utiliza para abordar aspectos pitorescos da política piauiense, o ex-deputado diz que:
Zózimo Tavares escreve sobre o folclore político agradável sob todos os aspectos. Embora contando fatos, jamais tem a pretensão de atingir pessoas ou aviltar situações. (TAVARES, 2002, apud. Jesualdo Cavalcanti)
Pelo que se explicita o jornalista Zózimo Tavares, ao longo de seus 45 anos, construiu uma considerável biografia e bibliografia que abrange desde temas sobre episódios engraçados acerca dos políticos, jornalistas, etc. à literatura de cordel. Com um grande número de obras escritas, cerca de treze livros, sendo que apenas nove delas já foram publicadas. Zózimo afirma ainda, “(…) sei que já dei uma grande contribuição do ponto de vista político, histórico e literário, mas minha vida assim como a política, é uma continuasucessão de fatos, que precisam ser registrados e que enquanto eu puder,hei de continuar minha jornada”.
CAPÍTULO IV – O JORNALISMO DE ZÓZIMO TAVARES
A trajetória de Zózimo Tavares no jornalismo piauiense começou de forma inusitada e como classificam outros colegas de profissão “pré-matura”. Ainda adolescente, o futuro jornalista, já possuía uma escrita muito eloqüente e ao participar de um grupo de jovens na cidade em que residia, foi um dos fundadores de um jornalzinho mimeografado denominado de “O Águia”, o qual foi decisivo ao influenciar a escolha de sua profissão como jornalista e também, ajudou a desenvolver sua criticidade e objetividade, noções estas que passaram a ser suas principais marcas.
O “informativo” como o próprio Zózimo o caracteriza, conseguiu grande repercussão na cidade de Água Branca, principalmente após o prefeito José Ferreira Soares, “o Dedino” que era filiado ao Arena-PDS, ao se sentir agravado, com as denuncias que foram feitas à sua administração, decretar através de uma medida executiva o seu fechamento. Vários jovens não concordavam com o entendimento político e o jeito de administrar do então prefeito, por conta disto, rejeitaram o mandado e resistiram ao fechamento.
Tal ato de coragem trouxe ao jornalista muito reconhecimento na capital Teresina, onde ele já possuía um ciclo de amizades cativadas, por correspondência, com alguns dos principais profissionais de imprensa da época. Zózimo devido ao seu senso crítico e seu gosto pela política, principalmente em relação a alguns aspectos, dantes pouco conhecidos, como a transparência e responsabilidade administrativa, sempre denunciou irregularidades e formas burocráticas, as quais os políticos da época estavam muito acostumados. Convicções estas, que permeiam até hoje sua forma de entender as conjecturas partidárias e que também o influenciaram na forma de como ele escreve e descreve fatos políticos em seu jornalismo.
A presença de Zózimo Tavares no jornalismo piauiense é, com certeza, um marco preciso de uma experiência resultante em uma imensa busca pela liberdade de imprensa, onde se ressalta marcas de um sábio profissional que através do humor transmite seu jornalismo irreverente e satírico. ( ADRIÃO, 2005, Usina de Letras)
Zózimo é um profissional extremamente versátil e polivalente, afirma de forma categórica que “(…) satisfaço-me com meu trabalho, fazendo-o em qualquer dos meios onde me comunico desde a imprensa escrita até televisão”. Segundo Zózimo, a natureza do meio de comunicação é tão importante quanto o público e o formato da atividade que ele possa vir a desempenhar, o que mais o atrai é modo de como são encaminhadas as informações,declarando ainda que:
Cada veículo tem a sua natureza e a sua importância. Eu me realizo em todos eles. Quando eu trabalhava na rádio, eu gostava daquela comunicação instantânea, porque a rádio tem essa característica em sua comunicação e uma interatividade que a TV não possui. Na TV, você está sempre sendo visto, isso é bom. Já o jornal, dá muita relevância ao que escrevemos, pelo registro que fica. (TAVARES, 2004, Entrevista Concedida)
O jornalismo de Zózimo Tavares possui como uma de suas principais características a utilização de uma linguagem factual, escrevendo de forma atual e dinâmica, na qual, a notícia é tratada no intuito de informar. De maneira geral, pode-se dizer que este jornalismo aplicado segundo alguns teóricos do tema, “é um recorte no espaço e no tempo em relação a processos sociais mais amplos, e os limites deste recorte são, em parte, estabelecidos por critérios de noticiabilidade”. Estes limites são mutáveis, mas variam dentro de marcos culturais:
Se os jornalistas não dispusessem – mesmo de forma rotineira – de “mapas” culturais do mundo social, não poderiam “dar sentido” aos acontecimentos invulgares, inesperados e imprevisíveis que constituem o conteúdo básico do que é noticiável. (HALL, 1993, p. 226).
Ao se analisar a abordagem feita por Zózimo Tavares em suas reportagens e textos, torna-se visível que ele é um escritor com aptidão ao jornalismo, sendo perceptível que ele revela através de sua forma própria de fazer jornalismo, a presença marcante de uma linguagem inovadora, incisiva, que vai direto ao ponto, e como diriam alguns de seus ilustres admiradores, sem muitos “rodeios”.
É esta forma diferente e própria, às vezes irreverente e subjetiva, outras vezes incisiva e crítica, que fazem de Zózimo um profissional completo, na sua forma de retratar vários assuntos como à política, o meio social e a história do Piauí. Outra questão relevante é que como jornalista político, Zózimo não aborda em suas interlocuções apenas a simples transmissão dos fatos, através do jornalismo simplório, ele é analítico por usar o humor como argumento filosófico, repassando com sua forma de escrever um lado, diga-se de passagem, crítico dos fatos e acontecimentos do dia-a-dia.
Vale à pena ressaltar a grande importância e notoriedade das obras e textos deste jornalista. Noticia-se que algumas de suas histórias e livros foram traduzidas em vários idiomas, como para o inglês e o espanhol, sendo publicadas em revistas importantes como na revista bilíngüe “Líder Magazine”, que é publicação da empresa Líder Táxi Aéreo. Cita-se ainda, que o autor promoveu um lançamento de seus trabalhos em várias capitais e em junho de 1997 levou sua cultura e talento até Havana – Cuba.
De forma geral a obra de Zózimo está subdividida e pode ser classificada em crônicas políticas, obras de humor, literatura de cordel, jornalismo e obras literárias de outros gêneros. Na maioria de seus livros, se não em todos, a característica mais marcante e que predomina no trabalho do escritor é uma linguagem simples, cujas interpretações são claras e fáceis, como as de um contador de histórias e causos.
Mesmo tendo uma vida um pouco conturbada e com uma agenda cheia de compromissos como jornalista, na qual ele se classifica como analista político, Zózimo sempre foi atuante presença em grupos de defesa de Direitos Humanos e afins. Ainda possui em sua vasta grade de aptidões a função de pesquisador e divulgador da poesia popular, sendo também um grande cordelista, de vasta e reconhecida produção, com muitos trabalhos publicados e alguns inéditos.
Alguns de seus versos receberam o endosso e foram reconhecidos pelo grande poeta Patativa do Assaré. Em uma de suas muitas correspondências trocadas, o poeta em versos refere-se a Zózimo, com muito carinho, Patativa avalia:
(…) Se você no Piauí;
Vive a fazer reportagem;
De vantagem e desvantagem;
Que acontece por aí,
Mando lhe dizer daqui;
Que isto você aprendeu;
Muito leu, muito escreveu;
Porém, se verseja bem;
É porque nasceu também;
Com o dom que Deus lhe deu(…). (ASSARÉ, carta pessoal)
Avalia Zózimo Tavares, que “o exercício de reproduzir a cultura do folclore popular existe como característica essencial”. A interação e convivência da literatura com o jornalismo é de suma importância, tendo em vista, que ambas as formas de abordagem são complementares, seja no meio acadêmico, seja no meio social ou político. Por isto, esta visão privilegiada tornou possível que o jornalista pudesse vivenciar seu atual momento de esplendor e notoriedade.
Passou a aplicar tais noções e idéias, no exercício diário de sua profissão, utilizando-se do domínio lógico e apropriado da palavra, com muita desenvoltura e liberdade que em outros tempos não eram permitidos. Domínio este, que de acordo com o próprio Zózimo, torna-se cada vez mais indispensável e marcante em sua forma de escrever, “hoje se tem mais liberdade de expressão do que na época da ditadura, mas ainda há muitas limitações na manifestação do pensamento”.
Para Zózimo ainda persistem algumas limitações na imprensa, na maioria dos casos, está ligada ao fato de que no Piauí ainda se vive em uma província. Na qual, todas as pessoas possuem algum laço de parentesco, todos se conhecem, ou possuem grupos em comum e esta rede de ligação se estende em todos os ramos e lugares, até mesmo onde não existe uma relação de interdependência política ou econômica. Segundo ele, isto afeta de forma trágica e danosa os meios de comunicação no Piauí:
(…) na sua maioria, são propriedades de grupos empresariais, ou seja, tratam-se investimentos privados. Esse fato dá ao jornalista certa margem de liberdade na execução de seus trabalhos. Ao contrário de outros estados, como Maranhão e Ceará, onde a imprensa sofre fortes influências de políticos. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida).
Seguindo a linha de raciocino entendida por Zózimo, Celso Pinheiro Filho, em um de seus livros, em especial na obra sobre História da imprensa no Piauí, faz referência à desvinculação da liberdade de expressão:
(…) o problema da liberdade de imprensa dificilmente será desvinculado da necessidade de controle pelo poder político, qualquer que seja o regime governamental. Este controle, ora mais severo, ora mais suave, pode ficar situado entre os chamados males necessários. (PINHEIRO, 1997, p. 149)
Indagando-se Zózimo sobre sua relação direta com a política, ele afirma não ter filiação partidária e na visão dele, nenhum jornalista que queira manter uma postura profissional deve assim proceder. Diz-se ainda de certa forma, amigo de alguns políticos independente de sigla, mas que mantêm com a maioria deles laços e relações apenas superficiais.
Vendo-se desta posição percebe-se em Zózimo, um seguidor do pensamento de Machado de Assis, que escreveu: “quando a gente entra na política, a primeira coisa que perdemos é a liberdade”. Zózimo tem nesta liberdade de expressar o que pensa e entende a característica que mais aprecia e lhe dá prazer no exercício de seu papel como jornalista, apesar das limitações impostas por alguns dirigentes e mentores da imprensa piauiense.
Para se envolver com a política, o profissional do jornalismo deve possuir certo cuidado e saber administrar suas condutas, o que gera muitas responsabilidades a estes profissionais que trabalham com informações. Quando alguém se coloca a disposição da sociedade como seu representante, cabe a esta pessoa uma grande disponibilidade para atender os anseios da população e isso exige muito do legislador.
Mui Amigos
Para que ninguém julgue ou insinue que o presente trabalho seja um despeito contra os políticos, abro a série de crônicas que fazem este livro com um caso em que o personagem principal sou eu.
Em 1982, aos 20 anos e empolgado com a estima popular conseguida em minha cidade adotiva, Água Branca, decidi disputar o mandato de vereador. Estava certo da eleição, pois me subiu a cabeça à popularidade obtida dois anos antes por minha atuação à frente dos movimentos culturais, artísticos e filantrópicos dos grupos de jovens local e – mais ainda – pela fundação e publicação do jornalzinho mimeógrafo “O ÁGUIA”, que muita dor de cabeça deu ao prefeito José Ferreira Soares, o “Dedino”.
Na época eu já residia em Teresina. Era a campanha eleitoral lá e que cá. Nas poucas vezes em que me dispus a participar de comícios, meus companheiros de partidos me atalharam:
“Você não precisa fazer campanha. Já está eleito”. Na verdade, eu não tinha nenhum motivo para duvidar disso. Nas ruas da cidade, na casa de meus pais, não eram poucas as promessas espontâneas de apoio. E atravessei a campanha sem pedir um voto sequer.
Da cabeça aos pés, dominado pela ingenuidade, nem suspeitava de que, no corpo-a-corpo, os que disputavam comigo o mesmo cargo me jogaram às feras, quando um eleitor se manifestava simpático ao meu nome:
“Não vote em Zózimo. Ele já está eleito. Assim, ele vai acabar ficando com toda a votação de vereador e nós não teremos maioria na Câmara Municipal.”
Abertas as urnas, veio a surpresa: esbarrei na terceira suplência. Ali mesmo aprendi a lição: em política, quem tem determinados correligionários nem precisa de adversários. (TAVARES, 1989, p. 11)
Quando se perguntou a Zózimo sobre que medidas tomaria, se um dia chegasse a ser governante de estado, ele foi bem categórico ao afirmar que nunca se imaginaria neste papel. “Ele nunca freqüentou meus sonhos nem minhas ambições. No entanto, não posso deixar de dizer como eleitor, que bastaria deixar de fazer o que o atual governador vem fazendo”. Como incansável e atuante formador de opinião, Zózimo aproveita o momento para mostrar um de seus textos no qual faz uma crítica ao governo atual:
E o que fez depois? Juntou os cacos das forças do atraso em seu palanque, na busca desesperada da reeleição. Resultado: teve que ratear todo o governo e o Piauí hoje está praticamente parado, sem nada de novo. O Piauí está desperdiçando uma chance de ouro de dar a volta por cima. Quando o Piauí contou com um governador com prestígio pessoal com o presidente da República? E qual é o partido que nosso Estado tem tirado disso? Que obra estruturante foi construída nestes cinco anos? Que grande empresa ou grande projeto veio para cá, para gerar emprego e renda? O Piauí tem hoje um dos governos mais medíocres de sua história, que sobrevive da cooptação das lideranças políticas, dos sindicatos, da exploração da miséria e da ignorância e da propaganda enganosa. Faz tudo o que condenava. E com menos competência. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida).
Para Zózimo o novo governador foi eleito através do voto da mudança, da esperança, da reformulação e da limpeza política. Foi esta a missão confiada pela população que já estava cansada e mazelada, cheia de desilusões, descrente na que para alguns, era a antiga forma de fazer governo e foi por esta razão que esta população se mobilizou e desmontou nas urnas, um esquema político antigo e tido como imbatível. Coisa que, no entanto, mais tarde com o abrir das cortinas do novo governo, não se mostrou tão moderno quanto se prometia e nem tão honesto, quanto se esperava.
CAPÍTULO V – O HUMOR SATÍRICO DE ZÓZIMO TAVARES
Uma das grandes sacadas de Zózimo Tavares foi explorar o que para alguns, se pode dizer que é um veio inesgotável e inspirador para um humorista: o folclore político. Mas por vezes, sempre aconteceram fatos os quais o próprio jornalista, não poderia abordar de forma mais sutil, e que por isto, aquilo às vezes nem sempre poderia ser exatamente publicado no meio jornalístico informativo, por variadas razões.
Quando por ventura alguma personalidade cometia uma grande gafe, ou mesmo, ocorria algum fato pitoresco e engraçado nos bastidores ou na vida política de uma autoridade, Zózimo não poderia deixar de fazer algo cômico. Esta situação ocorria por conta de sua tão aclamada imparcialidade e credibilidade jornalística, por ele não poder criticar ou analisar na imprensa aberta, ele os transcrevia com sua criatividade e depois os colocava em seus livros, utilizando-se muitas vezes da sua conhecida ironia, sátira e sarcasmo.
Sempre notado pelo refinado humor, passou a retratar os políticos em seus momentos caricaturais, cômicos, pitorescos, sem descer ao escrachado ou apelativo. Seu sucesso foi instantâneo e imediato, em pouco tempo os livros atravessaram as fronteiras do Piauí. Na maioria de suas obras ele se utiliza da ironia e do sarcasmo, sendo que estas são características inerentes ao seu humor, das quais o escritor Zózimo faz uso de suas particularidades, em sua forma única de abordagem dos temas em seus artigos e crônicas.
Cita-se aqui o exemplo de um dos seus textos mais conhecidos e que foi lido pelo então senador Mão Santa, na tribuna do Senado Federal, texto o qual traz em seu conteúdo, um repúdio extremamente objetivo e duro. O texto foi uma ironia baseada no resultado de uma pesquisa sobre o Produto Interno Bruto – PIB:
Que PIB que nada! É feliz quem vive aqui!
Que números do Produto Interno Bruto que nada! Se eles mostram que o PIB do Piauí agora é o menor do Brasil, azar do Maranhão, que era o Estado que segurava a lanterna! Esse pibezinho do Piauí não é nada! Nós temos é a Serra da Capivara, o berço do homem americano; o Delta do Parnaíba, o único das Américas a mar aberto, e a última fronteira agrícola do Brasil, nos cerrados!
Nós temos também um projeto de biodiesel que vai ser o maior sucesso nacional! É verdade que ele é da iniciativa privada. Hoje é uma rocinha pequena, mas temos potencial para produzir mamona no Sul do Piauí até dizer chega! E se juntar isso ao mel, à castanha e ao camarão que produzimos não se espante se o Piauí liderar a pauta das exportações brasileiras!
Nosso ímpeto desenvolvimentista é tão forte que o “Programa Luz Para Todos” não foi adiante porque a Cepisa não tinha condição de garantir uma sobrecarga de energia tão grande de uma hora para outra. Então, o jeito foi pisar no freio e esperar que, primeiro, a Cepisa se prepare para a nova demanda de energia elétrica.
Ah! Tem mais: desde julho de 2006, o programa Bolsa Família foi universalizado no Estado, superando a marca de 260 mil famílias atendidas. Atualmente, o programa chega a 375.702 lares piauienses. Foi por isso que o Governo do Piauí não quis brigar para levar assistência aos flagelados da seca no semi-árido.
O ensino público do Piauí foi reprovado pelo MEC, mas isso não há de ser nada, também. O importante é que nossa auto-estima é elevada e vamos dar a volta por cima. A saúde pública também vai bem, graças a Deus! O atendimento nos hospitais é vapt-vupt. Não há fila de espera para cirurgias. Nem falta remédio. E a segurança? Ora, essa é que está boa mesmo!
É pouco? Pois fique sabendo que também temos o “Governo do Desenvolvimento”, aprovado por mais de 70 por cento dos piauienses. E por quê? Ora, simplesmente porque ele está empenhado em implementar políticas e ações públicas que estão levando à geração de emprego e renda e ao desenvolvimento do Piauí.
Nunca, na história deste Estado, se fez tanto em tão pouco tempo! É feliz quem vive aqui! (TAVARES, 2007, 180graus)
A repercussão deste texto foimuito maior do que o próprio jornalista pensava, visto que, ele é uma crítica ferrenha ao governo do Estado. Mas ela se expande a todos os dirigentes políticos, atacando sem distinções todas as esferas de poder, inclusive ao legislativo, esfera onde se encontra quem divulgou o texto e ao executivo, que de certa forma foi o mais afetado e atingido com tais críticas.
Em outro de seus livros de grande repercussão Falem Mal, Mas Falem de Mim, que foi publicado em 1989, Zózimo conseguiu alcançar muita visibilidade e um reconhecimento privilegiado da imprensa nacional, principalmente de um dos veículos escritos mais respeitados do Brasil que é o jornal Folha de S. Paulo. A folha, como é conhecida, sempre abriu espaço em suas publicações para as historietas do folclore político, feitas pelo jornalista piauiense na seção Contraponto, da prestigiada coluna Painel.
O livro, que alcançou um sucesso, teve duas edições e foi bastante vendido. Esta obra apresenta uma linguagem extremamente fluente e com muitos colóquios, mas também é um de seus livros mais sérios e importantes, principalmente por que narra uma versão popular da História do povo piauiense. Através de seus feitos,faz-se possível perceber que as estórias vão mudando na boca do povo, como diria Sebastião Nery, “como nuvens na boca do vento que sopra na janela do amanhã”.
Pelo conteúdo da maioria de suas obras e pelo teor de crítica a figuras que estavam ou ainda estão no poder, Zózimo Tavares tem muita sorte de poder publicar o folclore político do Piauí em tempos de plena liberdade. É perceptível e óbvio que sempre aparecerão pessoas que se sintam atingidas ou laceradas com alguma das histórias, ficando irritados com as anedotas do livro Falem Mal, Mas Falem de Mim.
Mas mesmo com essa possibilidade, de uma coisa pode-se ter certeza, segundo os comentários de um grande amigo e também conceituado jornalista, Sebastião Nery: “caiu na boca do povo, é patrimônio público”. “As esquinas não pagam alvará”. O estilo de escrever de Zózimo às vezes curto e seco, direto e claro, dá uma sabor a mais para o leitor, que mesmo partidário ou fora da discussão política, sorri do cômico escrito, através da lição de um texto enxuto e iluminado, que é livre de amarras e rico em informações históricas abordadas da forma mais instigante que se conhece: o humor.De acordo com sua opinião:
O humor é um dos traços marcantes da política definida por Aristóteles como a arte do possível. E ai dos políticos se não soubessem quebrar com a graça a tensão que trás o exercício desta fascinante atividade. (TAVARES, 1989, prefácio)
Percebe-se com isto que em seus livros, o escritor-jornalista utilizando uma linguagem simples e direta, límpida e bem humorada desempenha com maestria seu papel de formador de opinião e homem de responsabilidade pública. No entanto, aparentemente, escrever com humor e sátira para Zózimo, nem sempre lhe parece uma atividade lúdica e dedivertimento, porém, o próprio autor dá outras interpretações a sua forma de escrever quando revela que, “a intenção vai, além disso.”
Alguém já disse que a história é como uma procissão: vê-se o cortejo(e suas conseqüências) conforme a posição do observador. No caso da história piauiense, podemos dizer que Zózimo Tavares tem posição privilegiada. Como jornalista atento ao seu tempo, anda atracado ao andor, participante dos fatos, vivenciando cada momento fundamental; como cidadão consciente de cada passo de um povo na construção do seu destino. Zózimo é um arguto, observador, postado no alto da colina, capaz da análise fria só possível aos que enxergam de fora. Fenelon Rocha, Jornalista e professor do curso de Comunicação Social da UFPI. (TAVARES, apud CASTELO BRANCO, 2000, p. 11)
É possível se perceber a partir da interpretação do fragmento acima o quantoZózimo é arrojado e instintivo, mostrando-se extremamente antenado com os acontecimentos do meio político, retratando através de uma aguçada sensibilidade e grande relevância a história do Piauí. Em sua jornada de pesquisas, ele sempre busca manter-se atento aos eventos e aos fatos correntes, na busca de nunca perder o fio de continuidade e repercussão das notícias, prezando claro, pela ética profissional e pela moral jornalística.
Em um contexto tão rico e inspirador, Zózimo alça novos ares, enxergando neles a oportunidade de tecer suas produções. Através do humor o jornalista transfere aos seus leitores o seu entendimento e às vezes visão pessoal, das discussões políticas que estão sendo travadas naquele momento de construção histórica, sendo o humor também utilizado por ele como forma de denunciar os fatos que estão ocorrendo na política.
O interesse de Zózimo pelo humor, diga-se de passagem, começou muito cedo, ainda na infância. Em uma de suas entrevistas concedidas informalmente, o jornalista relata:
(…) acho que foi vendo o palhaço do circo, quando eu era criança lá em Água Branca. “Para mim, o palhaço era melhor parte do espetáculo”. O gosto adquirido foi estimulado com leituras posteriores acerca do assunto, (…)depois saí por aí lendo sobre o assunto, desde os gregos clássicos com suas comédias até os nossos contemporâneos. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida).
Ao indagar-se Zózimo sobre suas noções de jornalismo e qual o motivo de ele traçar um elo com outras formas de fazer jornalismo, questionou-se o porquê de sua opção pelo humor? O jornalista argumentou de forma exímia, repetindo partes de seu discurso de posse na Academia Piauiense de Letras, que em uma delas, ele justifica a sua opção pelo humor como uma das melhores formas de linguagem e expressão, opção essa que de tão bem escolhida, acarretou na publicação da maioria de seus trabalhos.
Porque o humorista, como o poeta Fernando Pessoa, também é um fingidor, embora se diga que o humor não se apresente como tarefa das mais fáceis. Cada povo, cada época, cada cultura tem, do humor, uma visão particular, muitas vezes intraduzível a outra linguagem que não seja a sua própria.
O humor pode aparentar-se ao cômico, se bem que, nem sempre, persiga o riso e, muitas vezes, mesmo ao fazê-lo, ultrapasse esse objetivo e alcance a lágrima. Cervantes, em Dom Quixote de La Mancha, esplende como monumento universal do humorismo, com sua obra-prima insuperada e insuperável do gênero.
O humorista se dá ao luxo de rir de si mesmo. Realça as mil e uma contradições humanas e, através da candura, da malícia, da observação rara, do cinismo levado à lucidez, revela as incongruências ou a tragicidade da vida. Humor é coisa séria. Por isso, torna-se eficientíssima medida da infinita e infindável comédia humana. (TAVARES, 2002, p. 03).
No fragmento acima se percebe que o jornalista tem o intuito de complementar e arrematar seu raciocínio, ao responder o questionamento anterior. Zózimo, como bom leitor e grande conhecedor de literatura, traça uma analogia de seu pensamento com o do poeta mor da língua portuguesa Fernando Pessoa, ao fazer a referência de que ser humorista também é ser um fingidor, logo, como já se comentou anteriormente neste trabalho, na visão do jornalista “(…) fazer humor nem sempre se apresenta como tarefa das mais fáceis”.
Ainda no livro Falem Mal, Mas Falem de Mim, Zózimo reuniu anedotas conhecidas, de diferentes épocas e fases da política piauiense, transcrevendo-as com seu grande talento e apenas uma pitada de seu tão reverenciado humor. A realidade desta obra, no entanto, não possui a pretensão de ironizar ou tecer uma crítica aberta, a nenhum dos políticos ou ao meio eleitoral, com essas Crônicas.
Para olhos e mentes mais cultas, ao se ler o livro, a principal idéia que se percebe nas entrelinhas é a de que o escritor-jornalista quer apenas revelar a astúcia, esperteza e algumas das artimanhas utilizadas pela maioria das figuras políticas do estado do Piauí. Este livro mesmo tendo um cunho mais literário, não deixa de ser um referencial sobre alguns dos casos que marcam o cenário da história política local.
Em um artigo que alcançou grande repercussão e foi publicado no dia 03/12/2007, no site 180 graus em uma coluna para a qual Zózimo escreve, o jornalista se utiliza de um humor discreto e digressivo, no intuito de enfatizar o futuro político do Vice-Governador, passados alguns meses de sua vitória nas eleições 2006, que só foi possível pela aliança feita com o partido do então Governador de estado, Wellington Dias:
Wilson Ganha Espaço
Em seu estilo obstinado, o vice-governador Wilson Martins ganha espaço político no governo. Todos sabem que ele entrou atravessado na chapa petista encabeçada pelo governador Wellington Dias. Foi assim: em 2006, o PMDB governista perdeu a convenção para o senador Mão Santa e o PT tinha que emplacar imediatamente um vice, para não dar sinal de abatimento com a derrota dos aliados.
Com a vitória do PMDB chapa-branca na convenção de junho do ano passado, tudo estaria resolvido: o candidato a vice seria naturalmente o deputado Kleber Eulálio. Mas os peemedebistas foram derrotados e perderam a vez de indicar o companheiro de chapa de Wellington. Foi aí que Wilson Martins entrou em cena e se deu bem.
O deputado estava montando o PSB, viu a brecha da candidatura a vice-governador, mexeu-se e entrou na chapa. Muitos petistas fizeram beicinho. Mas não havia tempo. A campanha estava em cima. Era pegar ou largar. E foi assim que, quase na última hora, Wilson Martins, cujo perfil ideológico não se encaixava nas exigências e especificações dos petistas, se tornou candidato a vice-governador.
Com a vitória do governo, Wilson, já empossado vice-governador, recebeu de Wellington Dias a missão de coordenar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no Piauí. Por enquanto, ele está como trovão: muito barulho e pouca chuva. Mas tem sabido tirar proveito da situação. Em política, é o que importa. Se receber mais um “C”, o PAC vira o Programa de Aceleração do Crescimento de sua Candidatura.
Hoje Wilson transita com desenvoltura em várias correntes do PT, principalmente naquelas que acreditam na saída do governador Wellington Dias para disputar o Senado, em 2010. Nesse caso, Wilson ficará com a caneta, a vontade de ser governador a partir de 2011 e todos os DAS’s. Ele é pragmático. Então, ai de quem não rezar em sua cartilha! Por isso, os petistas estão deixando o orgulho de lado e se aproximando, cada vez mais, do vice. (TAVARES, 2007, 180graus)
Zózimo através deste artigo aborda, com sua ironia e sarcasmo, deixando explícito que o Vice-Governador, na época apenas candidato, abraçou a causa do Governo Federal e complementou a chapa que concorria ao Governo do Estado, apenas para satisfazer seus próprios interesses. Utilizando-se de uma conjuntura política desfavorável e desarrumada dos aliados do governo, ele funda e passa a dirigir um novo partido no Estado, completa a chapa como vice e tira com isto, proveito para si.
Como sua visão política é muito apurada, a idéia que alguns dos seus leitores e críticos passam a ter, é a de que Zózimo possui poderes paranormais, como premunição e leitura de mentes. Nota-se de assalto, que é como se o jornalista pudesse prevê a verdadeira intenção até considerando-a oportunista, em razão da situação do político citado. O jornalista ainda ironiza, enfatizando a forma de trabalho do atual Vice-Governador, isto fica perceptível quando Zózimo complementa que o programa coordenado pelo Vice, “PAC”, deveria ser acrescentado mais uma letra “C” à sigla, se referendo a sua candidatura no pleito seguinte.
Vale a pena ainda citar aqui o prefácio do livro Filosofia Barata, no qual o cartunista Paulo Moura, um dos responsáveis pela abertura do livro, diz que “(…) em tempos de crise, a primeira coisa que fica em baixa é o humor”. A preocupação constante com tudo ao seu redor faz referência à idéia de Zózimo ao criar, “(…) é que o maior barato é fazer comédia das tragédias da vida”. Entende-se com isto, que o cronista político Zózimo Tavares ao criar e lançar frases com tanto efeito, faz o leitor relaxar e refletir sobre as “fatalidades da vida”.
Deu no jornal: “Governo substitui leite em pó dos flagelados da seca por farinha”. Ou seja: o governo acha que leite em pó e farinha são farinha do mesmo saco(…).(TAVARES, 1999, p. 11).
É com este nível de ironia e sarcasmo jornalísticos, presente no fragmento acima, que o grande escritor-jornalista anima a manhã dos seus leitores e os faz refletir, sobre as tendências e decisões políticas, que interferem diretamente na vida de cada indivíduo componente da sociedade e também em seus grupos de atuação. Demonstra ainda, com sua forma direta e incisiva o quanto é importante se ter consciência política, no intuito maior de mostrar que sem ela, ninguém pode considerar-se cidadão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo que se estudou e entendeu sobre o jornalista Zózimo Tavares, percebe-se que ele em muitas matérias, artigos e obras, demonstra muito conhecimento e consciência da conjuntura política do Estado do Piauí. Tais requisitos são primordiais e por conta deles, ele conseguiu sempre estar à frente de muitos de seus colegas e por isto, deu muitos “furos” e antecipou muitos acontecimentos políticos relevantes.
Em sua extensa e invejável biografia, o escritor-jornalista já entrevistou muitos políticos, alguns deles de grande e relevante projeção nacional como Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, Carlos Prestes, FHC, etc. Ainda também foi pioneiro e conseguiu entrevistas de muitos intelectuais e influentes figuras, do meio literário, como Antônio Houaiss, José de Nicola e Paulo Cunha,intelectuais estes que como ele, também o admiram e respeitam.
Também já se exauriu, de forma extrema, a sua opinião de que “envolver-se com a política requer certo cuidado por parte do profissional que trabalha com o jornalismo”. “Ao se colocar à disposição da população como seu representante, exige do legislador uma disponibilidade para atender os anseios das pessoas”. Provando que para Zózimo, manter vínculos com as pessoas dedicadas à carreira política, é de suma importância para a atualização de informações, mas que a distância, também é necessária para se conseguir a imparcialidade e credibilidade características fundamentais a um bom jornalista.
Indagado sobre o que ainda lhe falta como literato e jornalista, Zózimo afirma que pretende compilar em um livro, os fatos ocorridos nos últimos dez anos na política piauiense e ainda diz que:
Estou reunindo esse material em um livro a ser lançado brevemente. Por exemplo, em 1994, nós tivemos uma agitação muito grande na política do Piauí, a eleição do Mão Santa que era uma coisa impossível, tivemos depois a queda dele, também foi uma coisa inimaginável, tivemos ainda a eleição do Wellington, uma coisa muito fora de cogitação. Eu estou fazendo uma seleção das matérias e dos artigos que eu fiz nesse período para que fiquem como registro dessa época. (TAVARES, 2004, Entrevista Concedida).
Com este fragmento, percebe-se outra de suas características, também já citadas e que é muito particular em sua forma de escrever, o jornalista-escritor está sempre antenadoe observando os acontecimentos políticos, sejam eles de qualquer importância, a fim de traçar elos entre as posturas eventuais dos políticos que fazem a história do Piauí. Todo esse trabalho é necessário, para que ele mantenha seus leitores informados dos eventos cotidianos, evitando a descontinuidade das notícias, sempre com imparcialidade e ética profissional.
Zózimo mesmo sendo uma pessoa muito culta e de extremo racionalismo, ainda carrega consigo mensagens bíblicas inspiradoras que para ele, são norteadoras e conduzem sua vida pessoal e profissional. “Acho que a principal delas é a de Jesus Cristo. Somente a verdade é quem nos torna livre”. Ávido leitor, Zózimo cativa um grande respeito e uma admiração maior, por vários autores como Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis e José Lins do Rego, todos como ele, expoentes literários e grandes jornalistas.
Ainda adentrando-se em sua opinião sobre mais ícones e pessoas que ele considera como exemplos de profissão e vida, Zózimo destaca que mantém um apreço pessoal e um respeito profissional por outros jornalistas de seu tempo, como Carlos Castelo Branco, Bóris Casoy e Gilberto Dimenstein. Estes para ele são destaque no jornalismo brasileiro, por demonstrar muito profissionalismo e credibilidade nas informações e na formação de opiniões sobre os mais diversos assuntos. Este apreço e admiração é estendido a jornalistas locais como Arimatéia Azevedo, Cláudia Brandão, Mussoline Guedes e Durvalino Leal.
O maior intuito e função deste trabalho monográfico é ajudar aos estudiosos da comunicação, e também a todas as pessoas interessadas em conhecer um pouco mais sobre a trajetória e o estilo irreverente, de Zózimo Tavares. Esta obra não esgota o que se tem a dizer e analisar sobre a relevância e a contribuição deste jornalista. Logo, está-se falando de um jornalista que não para nem no tempo e nem no espaço.
Todos os dias, Zózimo relata e escreve, sobre os fatos que estão em pauta na opinião pública e no meio político. Utiliza-se como principais argumentos, a realidade e a analise imparcial, com o máximo de veracidade e uma linguagem direta, que não enfada e nem enjoa a quem lê, pelo contrário, entrete e diverte informando. Zózimo pode ser considerado privilegiado e esperto em ter optado por pincelar e enriquecer seus textos com seu humor, algo que está quase esquecido, mas se faz necessário na vida do homem ultimamente. Em um último questionamento que foi realizado, Zózimo diz:
Olha, o humor é uma coisa imprescindível na vida da gente, sobretudo nesses hábitos pós-modernos estressantes, o que é preciso é achar a medida entre o humor e o deboche. Muita gente se perde aí. (TAVARES, 2007, Entrevista Concedida).
Ao se entender a importância destas críticas sociais, percebe-se no humor crônico de Zózimo Tavares a nivelação do jornalismo com a qualidade, onde a notícia é recebida com um novo formato, levando o leitor a ter uma curiosidade de saber do que se trata a reportagem, ao ver a crítica acerca da temática que ele escolhe. Analisando-se este formato, as notícias jornalísticas são tratadas como uma mensagem operativa, na construção do conteúdohistórico vendo-se através da junção delas, a formação no leitor de uma consciência crítica mais que factual.
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_________________. O pulo do gato. 1. ª edição. Teresina: Editora Júnior, 1994.
_________________. 100 fatos do Piauí no século XX. 1.ª edição. Teresina: Halley, 2002.
VICENTINO, Cláudio. História Geral: ed. Atual. e Ampl., São Paulo: Scipione, 2002.
ANEXOS
ANEXO I
Entrevista Realizada com Zózimo Tavares Para Este Trabalho em 03/10/2007.
1. Qual a importância do profissional de jornalismo que leva o humor para a vida das pessoas?
Olha, o humor é uma coisa imprescindível na vida da gente, sobretudo nesses hábitos pós-modernos estressantes. O que é preciso é achar a medida entre o humor e o deboche, muita gente se perde aí.
2. Quando começou seu interesse pelo humor?
Acho que foi vendo o palhaço do circo, quando eu era criança lá em Água Branca. Pra mim, o palhaço era melhor parte do espetáculo. Depois saí por aí lendo sobre o assunto, desde os gregos clássicos com suas comédias até os nossos contemporâneos.
3. O que o jornalismo piauiense tem de bom e de ruim?
O nosso jornalismo tem as mesmas virtudes e fraquezas do jornalismo praticado em qualquer estado brasileiro. Temos muita coisa medíocre. Mas temos muita coisa boa. e temos um diferencial: não há uma só empresa de comunicação do Piauí nas mãos de grupos políticos. Há alinhamentos circunstanciais com o governo, com qualquer governo, de qualquer partido, mas mesmo essa relação vem mudando.
4. Cabe ao jornalismo informar os fatos. Em sua opinião, quanto o papel de agir ou ajudar nas denúncias de grandes escândalos?
O papel do jornalismo é buscar a verdade. Se, nesse processo, a verdade aparece como escândalo, o que se há de fazer? Mesmo essa coisa de escândalo cansa, porque mal acaba um surge outro.
5. Você considera o humor uma das suas maiores descobertas?
É um diferencial. O Carlos Castello Branco, que foi nosso maior analista político da segunda metade do século 20, não pôs humor em seus textos, mas eles eram irretocáveis. O Machado de Assis, que também foi um cronista político, no Império, já foi diferente: escreveu com humor. e seu texto era também irretocável. O Sebastião Nery, que é hoje o decano do jornalismo político brasileiro, também escreve com humor. olhe, uma frase de humor bem feita, dita na hora certa, é avassaladora. É como um beijo bem dado: ninguém esquece.
6. Você já declarou que é mais útil à sociedade como jornalista do que como político. Por quê?
Quando fiz esta declaração, a situação política do Piauí não era tão grave quanto agora. Então, sem falsa modéstia, hoje me considero ainda mais importante como jornalista. O governo do Estado é hoje um rolo compressor, passando por cima de tudo e de todos. É preciso que alguém sem afetação, sem amarras com grupos políticos, possa fazer uma crítica a esse estado de coisas. E, dentro de minhas limitações, sem ser oposição, tenho procurado cumprir meu papel.
Quando fiz aquela declaração, meu objetivo foi o de dizer que fiz do jornalismo minha profissão de fé. Já tem político por aí saindo pelo ladrão. Eu não acrescentaria nada. Mas ta faltando na praça jornalista com preparo intelectual, desafetação ideológica, independência e ousadia. Então, tenho me esforçado para ser um deles. Se ainda não cheguei lá, não foi por falta de tentativa. Eu tento isso todos os dias.
7. Diante da situação deletéria que se encontra o Piauí se fosse político quais as principais medidas que vc tomaria (como governador)?
Sinceramente, nunca me vi em tal papel. Ele nunca freqüentou meus sonhos nem minhas ambições. Mas entendo que bastaria deixar de fazer o que o atual governador vem fazendo. O governador se elegeu com o voto da mudança e da esperança. Ele desmontou nas urnas um esquema político tido como imbatível. E o que fez depois? Juntou os cacos das forças do atraso em seu palanque, na busca desesperada da reeleição. Resultado: teve que ratear todo o governo e o Piauí hoje está praticamente parado, sem nada de novo. O Piauí está desperdiçando uma chance de ouro de dar a volta por cima. Quando o Piauí contou com um governador com prestígio pessoal com o presidente da República? E qual é o partido que nosso Estado tem tirado disso? Que obra estruturante foi construída nestes 5 anos? Que grande empresa ou grande projeto veio para cá, para gerar emprego e renda? O Piauí tem hoje um dos governos mais medíocres de sua história, que sobrevive da cooptação das lideranças políticas, dos sindicatos, da exploração da miséria e da ignorância e da propaganda enganosa. Faz tudo o que condenava. E com menos competência.
8. Durante os seus 27 anos de carreira, qual o texto ou publicação que mais repercutiu?
Não posso avaliar isso. Muitos deles tiveram seu momento. Mas, sem dúvida, entre os mais recentes, um dos que alcançaram maior repercussão foi o que escrevi sobre o drama de um filho meu envolvido com drogas. Mas aí escrevi como pai, não como jornalista.
9. O que você faria para mudar o estigma de o Piauí ser “um cemitério de obras inacabadas”?
Era acabar, concluir, as obras que aí estão abandonadas, por falta de recursos que não representam nada para o Governo Federal. O governador é aliado do presidente da República e de vários ministros do PT, que são os mais fortes. A bancada federal do Piauí, com exceção dos senadores Mão Santa e Heráclito Fortes, é toda governista. E por que esse dinheiro não vem? Falta empenho da bancada, falta força. Pelo visto, nossos parlamentares federais só pensam em cargos.
10. O que vc acha da denominação dada por Mão Santa a você:”o novo Castelinho do Piauí? Você acha que em seu texto existe semelhança com os escritos de Castelinho?
Olhe o senador Mão Santa é chegado a arroubos de oratória. É por isso que vem me chamando de Castelinho. O Carlos Castello Branco não teve par. Foi ele quem ensinou a fazer jornalismo político sem engajamento partidário ou ideológico. Foi um intelectual admirável e um brasileiro exemplar. Eu sou um mero repórter de província.
11. Paulo José no prefacio de “Meus senhores e minhas senhoras” lhe chamou de carequinha, tem algum apelido atribuído a vc que o incomoda?
Não! De jeito nenhum! Mas, sobre o fato de eu ser careca, tenho uma frustração: é que, quando vou ao salão cortar o cabelo, pago inteira. Devia pagar meia, né?
12. Depois de um ano do fato envolvendo o seu filho, a violência urbana continua avançando. Pra vc qual(is) o(s) grande(s) vilão(ões) que agrava(m) essa realidade?
Bem, são muitos. E o pior é que ainda não passamos pelo pior. O poder público tem sido incompetente no combate ao tráfico de drogas. E a droga não tem barreira, não tem limite. Tem muita gente lucrando com o comércio da droga. Gente sobre a qual não lançamos a menor suspeita. Mas a polícia sabe quem é. As famílias são despreparadas para prevenir e enfrentar o problema. O Estado também não tem políticas públicas eficazes de prevenção e recuperação dos dependentes químicos. As drogas estão fora de controle e só temos a visão criminal e penal do problema. Mas a que pode ajudar a resolver é a social. Já soube, com tristeza, que alguns dos que não entenderam o drama de minha família e me atiraram pedras também se descobriram com problemas idênticos. Alguns até mais graves. E só faz um ano! Meu filho está no CEM (Centro Educacional Masculino), cumprindo pena e tentando se recuperar. Já caiu, se levantou e caiu de novo várias vezes. Mas o nosso dever é tentar, tentar e tentar.
“A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás de uma porta. Ignoro onde o vi, e se uma parte do caso remoto não desaguasse noutro posterior, julgá-lo-ia sonho. Talvez nem me recorde bem do vaso: é possível que a imagem, brilhante e esguia, permaneça por eu ter comunicado a pessoas que a confirmaram. Assim, não conservo a lembrança de uma alfaia esquisita, mas a reprodução dela, corroborada por indivíduos que lhe fixaram o conteúdo e a forma. De qualquer modo, a aparição deve ter sido real. Inculcaram-me nesse tempo a noção de pitombas – e as pitombas me serviram para designar todos os objetos esféricos. Depois me explicaram que a generalização era um erro, e isto me perturbou”.
Assim se inicia Infância, narrativa memorialista de Graciliano Ramos, que, ao reconstruir os anos de meninice no interior do Nordeste, serve-nos para iniciar esta autorreflexão incompleta e transitória sobre as veredas largas e múltiplas da linguagem literária em nossa obra, em construção. Servem-nos as palavras de Graciliano para referendar a consciência de que, em nós, a literatura é memórias, sensações e imagens.
Ela funciona como uma memória cujo fluxo transita para a despersonalização, a partir da qual o eu cede lugar ao outro e a interlocução se estabelece por meio de sensações e jogos semântico-imagéticos em que o individual e o coletivo se confundem e se interseccionam. Na literatura, digo literatura de razoável teor estético, o que buscamos alcançar, é que essa fusão encontra campo mais perfeito, porque, mesmo em obras marcadamente ideológicas, como bem explicou Maingueneau “o sentido da obra não é estável e fechado sobre si, constrói-se no hiato entre posições do autor e do receptor” ( p21).
A esse propósito, lembra Augusto Ponzio, fundamentado nas contribuições de Bakthin, ao vasculhar especificidades do discurso literário:
“Como escritor, o autor não possui mais uma palavra própria, não fala de maneira direta, como o faz, ao contrário, o Dostoieviski jornalista, e quando eu, este eu está separado dele. Não se encontra aí a consciência monologicamente compreensiva, mas uma pluralidade de vozes, de pontos de vistas, e todo discurso é construído de modo a tornar a discordância ideológica irremediável. A palavra do autor, dialogizada nas vozes das personagens, situa-se um diálogo interminável, que não se refere a problemas solucionáveis no âmbito de uma época a ela relativos, mas a questões últimas, consideradas a partir de situações excepcionais, que possam permitir uma experimentação sem limites de diferentes pontos de vista. Isto confere ao texto o caráter de obra” (p.222)
Em Infância, o vaso a que se refere Graciliano vai além da representação mais exata possível do que seja um vaso. Passa a ser, segundo as palavras do próprio escritor, um conteúdo e uma forma determinada em seu pensamento pela voz de outros enunciadores. Passa a ser a capacidade de percepção do mundo interior em objeto para o qual convergem a busca de sentidos com os elementos do mundo do real, presentes ao seu redor, e a cadeia de novas e renovadas representações mentais, capazes de inseri-lo no mundo da cultura.
Fixam-se, assim, os sentidos pelo diálogo sinestésico que alimenta as matrizes do pensamento, ou pelo diálogo de vozes, que moldam em nós um significado e que nos encaminham para a verbalização de variadas formações discursivas. Desse modo se dá, em nós, também o processo de criação. Consiste, antes de tudo, numa forma de entender o mundo, de interagir com ele, de compreender e interpretar sua realidade e, principalmente, de transformar, ao nosso modo, as vivências que dele nascem. Nossa voz é um diálogo de vozes que surgem de uma sensação indefinível ou de vivências e observações, às vezes, absolutamente divergentes de nosso próprio pensar.
Assim, se para Graciliano, as pitombas designam, por analogia, todos os objetos esféricos. Em nós, está, por exemplo, a lembrança dos movimentos circulares na pequena praça da cidade natal; ou as correntezas das águas do rio da aldeia, transformadas entre o estio e o inverno; ou o amargor de uma situação indesejada ou a repugnância a ela; ou os sabores, cheiros e cores, que nos saltam sem controle do fundo longínquo de lugares indefinidos, ou etc. Seja escrevendo poesia, seja escrevendo prosa, a leitura literária, e o seu fazer, revela-se a mais aberta possível, para tomar aqui expressão de que se vale Umberto Eco. A linguagem, e sobretudo em sua forma literária – a da diversidade de significados reinstalados a cada leitura – é, no fundo, no fundo, um grande conceito. Afinal, como acertadamente concluíram George Lakoff e Mark Johnson: “a metáfora está infiltrada na vida cotidiana, não somente na linguagem, mas também no pensamento e na ação. Nosso sistema conceptual ordinário, em termos do qual não só pensamos, mas também agimos, é fundamentalmente metafórico por natureza” (p.45).
A base de nossa criação literária fundamenta-se, portanto, na tentativa de fundir memória, imagem e sensação, partindo da preocupação de pôr a linguagem em primeira instância, o que não significa dizê-la necessariamente hermética em essência, mas burilá-la para que funcione como “gancho frio” e fisgue o leitor para dentro do texto em busca de suas próprias respostas.
A literatura é, afinal, uma grande resposta que nos leva a uma certeza: além, muito além das montanhas das letras e de sua vegetação de símbolos e sentidos, há sempre o que perguntar.
Dílson Lages Monteiro é professor, romancista e membro da Academia Piauiense de Letras.
Uma das maiores expressões da poesia popular nordestina foi Hermínio de Paula Castelo Branco, piauiense, nascido em vinte de maio de 1851, na fazenda Chapada da Limpeza, naquele tempo pertencente ao Município de Barras, hoje de Esperantina. Descendente de tradicional família piauiense era filho do tenente-coronel Miguel de Carvalho e Silva Castelo Branco, professor de português e retórica no antigo “Liceu Piauiense” e D. Maria Leonor Castelo Branco.
Embora descendente de família originalmente abastada, o poeta popular Hermínio Castelo Branco, não desfrutou de riqueza, vez que a fortuna de seus antepassados desapareceu com as gerações que o antecederam, sobretudo com seu avô Leonardo de Carvalho Castelo Branco, também poeta de muito valor e figura contestadora, envolvendo-se na Guerra da Independência, na Confederação do Equador e na Balaiada, sendo que, durante o primeiro episódio foi preso e enviado para a cadeia do Limoeiro, em Portugal, de onde retornou algum tempo depois. Então, levando vida mais despojada, foi criado em meio aos vaqueiros e lavradores das fazendas de seus familiares, participando desde a meninice das caçadas, farinhadas, vaquejadas, festas, pelejas e cantorias populares. Aliás, nesse último aspecto cedo ganhou fama, vencendo grandes cantadores sertanejos. É que embora só tendo recebido a instrução primária ensinada pelo pai, era vivaz e inteligente, assimilando como ninguém a linguagem, crenças, costumes e hábitos sertanejos, traduzindo-os em sua criação literária. Daí a popularidade de sua obra. Com grande percepção e poder de síntese, era fiel e econômico nas palavras ao descrever vaquejadas, caçadas, festas populares, crendices, folclore e o ambiente sertanejo, fazendo com que o caboclo se sentisse retratado em sua obra. Cita-se como exemplo o poema “O vaqueiro do Piauí”, belo canto de exaltação à vide rude do sertanejo, descrevendo em pormenores o cotidiano da vaqueirice piauiense; só mesmo o contato permanente com a gente simples do sertão, para captar os mínimos lances na composição do poema “Um ajuste de casamento num sertão de farinhada”; as festas, crendices, desafios em torno da viola, estão presentes em “São Gonçalo nos sertões”; “O drama do eleitor” é crítica profunda à corrupção e ao falho sistema eleitoral brasileiro, que, infelizmente ainda grassam nos dias de hoje; também, as viagens ao sertão, as caçadas, inclusive ao lado do tio Theodoro Castelo Branco, “o poeta caçador”, são pontos culminantes de sua obra, toda ela reunida na Lira Sertaneja, único livro do autor, lançado em junho de 1881, com o título de Ecos do coração. Dada à popularidade que angariou, tornou-se o livro mais reeditado da literatura piauiense, alcançando sete edições em vida do autor, sendo a última em 1887, quando sofreu a mudança de título indicada. A 8ª ed., primeira após a morte do autor, deu-se em 1906, pelo Livreiro Quaresma, do Rio de Janeiro; daí para cá foi reeditado mais três vezes, já se encontrando na 11ª edição. Hermínio Castelo Branco deixou mais alguns poemas esparsos em jornais da época, dez deles recuperados por Celso Pinheiro Filho e incluídos na 10ª edição de Lira Sertaneja.
No entanto, antes de toda essa produção literária, quando ainda vivia em meio às brincadeiras sertanejas, irrompeu a Guerra do Paraguai, quando muitos de seus parentes e amigos, inclusive o tio Theodoro Castelo Branco, seguiram para o campo de batalha. E Hermínio, que permanecera no Piauí, mal completara dezoito anos de idade, abandona o sertão do Longá, e alista-se no Exército em 15.01.1869, seguindo para o campo de batalha, na defesa da Pátria. É promovido a 1º Cadete em quinze de agosto do mesmo ano. Terminada a guerra, informa Celso Pinheiro Filho, “permaneceu no Exército, sendo comissionado alferes (2º tenente) e incorporado ao 1º de Infantaria, em 31.01.1872. Em junho do mesmo ano, foi confirmado no posto”. Serviu, sucessivamente, nas guarnições de Uruguaiana, Rio de Janeiro e Amazonas, retornando ao Piauí em março de 1880, depois de onze anos de ausência, sentando praça na Companhia de Linha do Piauí, onde logo mais foi reformado. Frise-se que havia retornado ligeiramente ao Piauí, no ano de 1871, para casar-se com Clarinda Benvinda de Castelo Branco.
Entre 1881 e 1884, já com seu livro publicado, passou uma temporada em Barras, na companhia do tio Theodoro Castelo Branco, trabalhando e divertindo-se em caçadas, de que resultaram alguns belos poemas incluídos em seu referido livro. Foi nesse tempo que recolheu os originais e editou em S. Luís do Maranhão, o livro Harpa do Caçador(1884), daquele poeta, tirando-o do limbo.
De retorno a Teresina, envolveu-se na política, filiando-se ao Partido Liberal, de que lhe resultaram alguns dissabores. Nesse mesmo tempo militou nos jornais O Semanário, O telefone eA Época. Com seu partido em queda, perseguido e sem oportunidade, mudou-se com a família para Manaus, no Amazonas, em 1886, onde foi bem recebido no meio literário. Apaixonado pelo Piauí, retorna em princípio de 1887, passando quase todo aquele ano, só retornando depois de meses. Todavia, adoecendo, retornou definitivamente para Teresina, em junho de 1889, onde faleceu, vítima de congestão cerebral, em dezoito de dezembro do mesmo ano. Tinha apenas 38 anos de idade o indigitado vate. Em 1917, com a fundação da Academia Piauiense de Letras, teve seu mérito reconhecido, sendo escolhido patrono da Cadeira n.º 02.
Embora sendo obrigado a viver grande parte de sua curta vida fora do Piauí, Hermínio Castelo Branco foi, entre nós, o mais fiel intérprete da alma nordestina, descrevendo com rara competência e exatidão o modus vivendi sertanejo, pintando quadros com a precisão de um grande artista do verso. A forma simples, popular, quase coloquial, ao sabor romântico como pintou esses quadros, retratando a natureza e a vida sertaneja, foi facilmente assimilada por pessoas do povo, que decoravam e declamavam seus poemas mesmo sem saberem ler, divulgando-os por todos os cantos. Foi essa a razão de ser da imensa popularidade que angariou.
(Artigo publicado no jornal Meio Norte, coluna Presença da Academia, edições de 10.11 e 17.11.2006).
O presidente da Academia Piauiense de Letras (APL), Nelson Nery Costa e o presidente do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense, professor Fonseca Neto, estiveram reunidos na segunda-feira, 08 de janeiro, com o governador Wellington Dias no Palácio de Karnak. Na ocasião, os líderes convidaram o Chefe do Poder Executivo Estadual para participar das comemorações de 100 anos das instituições e trataram da criação de um Centro de Referência em Informações sobre a História do Piauí. O projeto ficaria localizado na Rua Álvaro Mendes, na região central de Teresina. “Nós viemos destacar um projeto em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico para a gente participar dessa recuperação do Centro de Teresina, o município está fazendo muito esforço, o próprio Estado através da Secretaria de Cultura está buscando recuperar muitos espaços no Centro, o próprio prédio da Secult, o museu da imagem e do som, e a Academia junto com o Instituto gostaria de participar desse projeto”, apontou Nelson Nery.
O projeto ousado propõe um resgate histórico no Piauí, difundindo as informações para toda a sociedade. A ação foi bem recebida pelo governador, que buscará viabilizar a concessão do espaço para a implantação do Centro de Referência. O presidente da Academia Piauiense de Letras, Nelson Nery Costa, indicou que a intenção é contribuir no processo de recuperação do centro da capital piauiense. Diante disso, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense, Fonseca Neto, reiterou a importância do novo projeto para a propagação da pesquisa histórica local e a otimização dos espaços no centro da cidade. “Nós temos uma proposta concreta de dotar o centro de Teresina com mais um equipamento cultural, num desses prédios antigos do Centro da cidade que são propriedade do próprio Estado, nós entendemos que alguns prédios antigos devem ser ‘refuncionalizados’ para que o Centro histórico tenha vida, um deles é o antigo prédio onde funcionou o Tribunal de Contas do Estado, na Álvaro Mendes”, disse.
Fonseca Neto também sinalizou que o Centro de Referência marcaria os 300 anos da criação da capitania do Piauí. “Esse prédio é muito bonito e nesse momento está sem função, então estamos pedindo ao governador que nos autorize a ocupar esse espaço, criando um Centro de Referência em Informações sobre a História do Piauí aproveitando esses 300 anos da criação capitania do Piauí e que ali seja mais um ponto de referência de difusão da pesquisa histórica do Estado, de expansão das literaturas, um centro cultural que possa chamar outras instituições culturais para animar o centro de Teresina”, finalizou.