Dobal, o poeta ecumêmico, silenciava há 13 anos

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APL lembra H. Dobal
Capa da "Obra Completa - Poesia", de H. Dobal

O silêncio do poeta H. Dobal, ocupante da Cadeira 10, também está sendo lembrado pela Academia Piauiense de Letras nas efemérides de maio.

O poeta nasceu em Teresina, em 17 de outubro de 1927, e faleceu em sua terra natal, em 22 de maio de 2008. Nos últimos anos de sua vida enfrentou o Mal de Parkinson.

Além de poeta, foi cronista e professor. Formou-se na turma de 1952 da Faculdade de Direito do Piauí. Era auditor fiscal do Ministério da Fazenda. Exerceu suas atividades funcionais no Rio de Janeiro e em Brasília. Morou em Londres e Berlim.

Dobal ingressou na atividade cultural como membro do Movimento Meridiano, que se reunia em torno de uma revista literária com o mesmo nome. O grupo era liderado pelo professor M. Paulo Nunes e dele faziam parte ainda O. G. Rego de Carvalho, Eustachio Portella e Vitor Gonçalves Neto, entre outros.

Publicou seu primeiro livro, “O Tempo Consequente”, em 1966 e com a segunda obra, “O Dia Sem Presságios” (1970), conquistou o Prêmio Jorge de Lima, do Instituto Nacional do Livro.

Sobre “O Tempo Consequente”, escreveu Manuel Bandeira: “Poeta ecumênico, chamou Odylo a Dobal no seu tão belo e compreensivo estudo apresentando o novo poeta. Mas eu prefiro dizer o poeta total, o poeta por excelência … Só mesmo um poeta “ecumênico” como Dobal podia fixar a sua província com expressão tão exata, a um tempo tão fresca e tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidades, mas rica do sentimento profundo, visceral da terra.”

Obra completa

A Academia Piauiense de Letras acaba de publicar a Obra Completa de Dobal (Poesia). É volume 104 da Coleção Centenário, a ser lançado em breve.

A obra é composta dos livros “O Tempo Consequente” (1966); “As Formas Incompletas”; ‘O Dia Sem Presságios” (1970); “A Província Deserta”; “A Serra das Confusões” (1978); “A Cidade Substituída”(1978); “Os Signos e as Siglas” (1987) e “Ephemera” (1995).

“A poesia de H. Dobal toca fundo a alma, bate no peito e emociona o olhar. Vai esculpindo a paisagem, mas, ao mesmo tempo, descreve o homem e seu interior, como se descamasse os aspectos da existência humana”, escreve o acadêmico Nelson Nery, na apresentação do livro.

O professor Cineas Santos, editor da primeira edição das Obras Completas de H. Dobal, em 1997, assim lembra o poeta: “Dono de uma voz reconhecível, Dobal permanece vivo na poesia que nos legou”.

RÉQUIEM

Nestes verões jaz o homem

sobre a terra. E a dura terra

sob os pés lhe pesa. E na pele

curtida in vivo arde-lhe o sol

destes outubros. Arde o ar

deste campo maior desta lonjura

onde entanguidos bois pastam a poeira.

E se tem alma não lhe arde o desespero

de ser dono de nada. Tão seco é o homem

nestes verões. E tão curtida é a vida,

tão revertida ao pó nesta paisagem

neste campo de cinza onde se plantam

em meio às obras-de-arte do DNOCS

o homem e os outros bichos esquecidos.

Do livro “O Tempo Consequente” (1966)