ZÓZIMO TAVARES Mendes

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(1962). Quarto e Atual Ocupante da Cadeira nº 34 da APL. 

Nasceu em Novo Oriente-CE, em 4 de abril de 1962. Viveu a sua infância e parte da adolescência em Água Branca, Piauí. É formado em Letras e em Jornalismo. Foi editor-chefe do jornal O Dia, da TV Clube e do jornal Diário do Povo, além de correspondente do Correio Braziliense no Piauí. Presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Piauí. Foi secretário de Comunicação de Teresina e professor da Universidade Federal do Piauí. Integra a equipe de jornalismo do Grupo de Mídia Cidade Verde – TV, Rádio e Portal. Publicou livros de humor, literatura, jornalismo e biografias. Tomou posse na APL em 10 de dezembro de 2002. É o atual presidente da Academia.

Fragmentos do seu discurso de posse na Academia Piauiense de Letras, cadeira nº 34:

A LITERATURA DE CORDEL REPRESENTA A FISIONOMIA CULTURAL DO NORDESTE

Entre os membros desta Casa que se deleitam com o cordel cito os poetas Altevir Alencar, Francisco Miguel de Moura e Lima Cordão e o romancista William Palha Dias.

O cordel é literatura e é o jornalismo. Foi o primeiro jornal do nosso sertão esquecido, antes do aparecimento do jornal impresso, do rádio e da televisão, naquelas regiões abandonadas.

Fiz esta introdução para significar, solenemente, a importância da Literatura de Cordel não apenas em minha alfabetização, mas em minha formação cultural.

O cordel foi minha primeira experiência estética.

No jornalismo 

Nessa minha volta ao passado encontro-me, agora, na redação do jornal O DIA, em 1980, ainda Imberbe. Não havia no Piauí nossa Escola de Comunicação.

Pelas mãos dos jornalistas Francisco Leal e Herculano Moraes fraternos amigos e que à época chefiam a redação, fui lotado no setor de telex, para corrigir o material com as notícias do dia.

Desse noticiário fornecido pelas agências nacionais e internacionais de notícias tirei as matrizes de meus textos jornalísticos.

Entreguei-me de corpo e alma ao jornalismo, para a minha inebriante. Passei para a reportagem. Fiz uma carreira meteórica. Logo ascendi à Secretaria de Redação. Dez anos depois, já havia passado pelos principais postos em jornal, rádio e televisão.

No rádio e, depois, na TV, tive o prazer de trabalhar com dois de meus ídolos na juventude, os jornalistas Carlos Said, Dídimo de Castro, Joel Silva, Arimateia Azevedo, o próprio Herculano Moraes e outros talentosos jornalistas que já cumpriram a sua missão, entre os quais recordo, com saudade, Wilson Fernando, Paulo de Tarso Morais, José Eduardo Pereira e nosso inesquecível Arimateia Tito Filho.

Muito aprendi também com diretores de empresas de comunicação. Destaco, entre eles, o coronel Octávio Miranda, presidente do Jornal O DIA, e o jornalista Paulo Henrique de Araújo Lima, presidente da Rádio Difusora.

Literatura e humor 

Apesar da vida agitada como jornalista, em que me afirmava como analista político, eu sentia um vazio em meu espírito. Era um vazio que – não tardei a descobrir – me instigava a fazer também literatura.

Sem grandes pretensões, publiquei meu primeiro livro, Falem Mal, Mas Falem de Mim, em 1989. Foi um sucesso.

Eu dava aqui, no Piauí, uma versão local às peripécias dos nossos políticos, a exemplo do Barão de Itararé, Stanislaw Ponte Preta, Sebastião Nery e outros jornalistas que se dedicaram ao humor político.

Meu livro ganhou repercussão nacional. Suas histórias foram recontadas na Folha de S. Paulo. Logo ganhou segunda edição. Vieram outros volumes e outros virão, ainda, tratando do mesmo assunto.

E por que a opção pelo humor? Porque o humorista, como o poeta de Fernando Pessoa, também é um fingidor, embora dizer o que seja humor não se apresente como tarefa das demais fáceis.

Cada povo, cada época, coda cultura tem, do humor, uma visão particular, multas vezes intraduzível a outra linguagem que não seja a sua própria.

O humor pode aparentar-se ao cômico, se bem que, nem sempre, persiga o riso e, muitas vezes, mesmo ao fazê lo, ultrapasse esse objetivo e alcance a lágrima. Cervantes, em Dom Quixote de La Mancha, esplende como monumento universal do humorismo, com obra-prima ínsuperada e insuportável do gênero.

O humorista se dá o luxo de rir de si mesmo. Realça as mil e uma contradições humanas e, através da candura, da malícia, da observação rara, do cinismo levado à lucidez, revela as incongruências ou a tragicidade da vida.

Humor é coisa séria. Por isso, torna-se eficientíssima medida da infindável comédia humana.

Comentários 

Agora nos dá ele este livro sério, objetivo, em que a evolução histórica de nosso Piauí, em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos nos é mostrada, através de uma linguagem bem cuidada e aliciante; numa prosa elegante e sóbria que prende o leitor da primeira à última página. Tem ele tal poder de comunicação que fruímos as páginas desse roteiro sentimental, verdadeiro guia histórico de nossa terra, como se estivéssemos a ler um romance; tal o poder de empa tia que suas páginas parecem transmitir-nos. (M. Paulo Nunes, Ex-presidente da Academia Piauiense de Letras, sobre 100 Fatos do Piauí no Século 20.)