Wilson Brandão, ícone do direito, do magistério, das letras e da política

O acadêmico Wilson de Andrade Brandão, primeira personalidade homenageada através do Projeto Parlamento e Cultura, foi um dos principais expoentes do direito, do magistério, da política e das letras no Piauí.

Ele nasceu em 14 de outubro de 1922, em Pedro II, e faleceu em Teresina, em 25 de abril de 2001, aos 78 anos.

O Seminário Parlamento e Cultura, que será realizado hoje (17) e amanhã (18), a partir das 19h, no Salão Nobre da Assembleia Legislativa, encerra as celebrações de seu centenário, abertas em outubro do ano passado, na OAB-PI.

O evento é uma iniciativa da Assembleia Legislativa, através da Escola do Legislativo, juntamente com a Academia Piauiense de Letras, a Academia Piauiense de Letras Jurídicas e o Instituto Presente.

O homenageado

Wilson Brandão formou-se aos 24 anos, na Faculdade Federal de Direito do Piauí, onde logo depois se tornaria professor.

Foi eleito deputado estadual em 1965, exerceu o mandato por seis legislaturas consecutivas, ocupando o cargo de líder do Governo.

Ele foi também secretário de Cultura no primeiro governo Alberto Silva e no governo Lucídio Portela.

Em seu último mandato, integrou a Assembleia Estadual Constituinte de 1989 e deu sua contribuição como jurista à Comissão de Justiça.

Conhecido e respeitado como um grande humanista e civilista, escreveu obras como “Divórcio e Separação Judicial” e “Lesão e Contrato no Direito Brasileiro”.

Autor também de um dos clássicos da História do Piauí, o livro “História da Independência no Piauí”.

Escreveu livros não só no campo jurídico, mas em outras áreas do conhecimento, como Filosofia, Sociologia, História e Literatura.

Presidiu a Academia Piauiense de Letras e foi membro do Instituto dos Advogados do Piauí e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

Oeiras festeja centenário de Amália Campos

A Academia Piauiense de Letras incorporou-se às comemorações dos 100 anos de vida da professora Amália Campos, sobrinha do poeta Nogueira Tapety, da primeira geração da APL.

As celebrações foram realizadas em Oeiras, terra natal da homenageada, sendo organizadas pela família e a Fundação Nogueira Tapety.

O presidente da Academia, Zózimo Tavares, e o acadêmico Elmar Carvalho estiveram presentes às festividades.

A homenageada recebeu mensagens de parabéns dos acadêmicos Dagoberto Carvalho Júnior, Moisés Reis e Wellington Dias. Os três foram seus alunos.

Oeirenses residentes em diversas partes do país viajaram a Oeiras especialmente para participar do evento, como Antônio Madeira, vindo de Curitiba; e Luís Carlos Sobreira, de São Paulo.

O programa

O programa de cinco eventos foi aberto na quinta-feira (07/09), com a Aula da Esperança – um encontro com os educadores da cidade, no Centro Diocesano Dom Expedito Lopes.

Na cerimônia, foi lançado pela FNT o livro ”Centenário da Esperança – Amália Campos”, alusivo à efeméride, com prefácio do diácono Gutemberg Rocha, dados biográficos, crônicas, depoimentos, poemas e caderno fotográfico referentes à homenageada.

No segundo dia de comemorações, houve uma Recreação Infantil, na Casa do Canela, a antiga fazenda onde viveu sua infância.

A aniversariante recebeu uma tela do arquiteto e pintor Sóter Carreiro e a criançada brincou, cantou os parabéns e assistiu o tetro de bonecos de Chagas Vale.

O terceiro dia foi marcado pela recepção festiva, no clube Oeiras Hall, e abertura da exposição sobre os 100 anos da aniversariante.

Também houve a entrega solene da biografia do poeta Nogueira Tapety, pelos acadêmicos Zózimo Tavares e Elmar Carvalho.

A festa foi encerrada com jantar e o show “Sol e Mar”, com Soraia Castelo Branco e Flávio Moura, e participação especial de Vavá Ribeiro.

Uma missa em ação de graças, no domingo (10/09), na matriz de Nossa Senhora da Vitória, marcou o quarto dia de festividades.

Em seguida, houve almoço em família e, no final da tarde, encerrando o programa, foi inaugurada a Vila Bebém (espaço recreativo para crianças).

Neste evento, houve o plantio de uma goiabeira no quintal da casa da aniversariante, seguido de momento artístico e cultural, com declamações, músicas e apresentação de palhaços.

Perfil biográfico

Amália do Espírito Santo Campos nasceu em 10 de setembro de 1923, em Oeiras. É a primogênita de uma prole de dez filhos, entre eles o poeta Gérson Campos, precocemente falecido no início da década de 1970.

Fez o curso primário no Grupo Escolar Costa Alvarenga, em sua terra natal, entre 1931 e 1935.

Estudou o curso ginasial no Colégio Sagrado Coração de Jesus (Colégio das Irmãs), em Teresina, no período de 1939 a 1942, em regime de internato.

Ingressou na Escola Normal Oficial de Teresina em 1942, concluindo o Curso Pedagógico em 1944. Também estudou música.

No ano seguinte, retornou a Oeiras, onde foi nomeada professora primária.

Daí para frente dedicou-se inteiramente ao magistério, sendo responsável pela formação de várias gerações.

Aposentou-se em 1981, sendo reconhecida como uma das grandes educadoras do sertão.

APL encerra Centenário Fontes Ibiapina

A Academia Piauiense de Letras encerra nesta quinta-feira (30/06) as comemorações do Centenário Fontes Ibiapina.

O programa foi iniciado no último dia 20, com a abertura de exposição sobre a vida e a obra do escritor, na sede da APL.

Durante dez dias, foram realizadas na Academia várias palestras sobre Fontes Ibiapina, a cargo de estudiosos de sua obra, como a professora Raimunda Celestina, o professor Lueldo Teixeira Bezerra e o professor Ernani Getirana .

Houve também a apresentação de peça teatral “Casamento da Pafúncia”, escrita pelo homenageado.

Três livros de Fonte Ibiapina foram lançados durante o centenário do escritor: “Dicionário de Brasileirismos no Piauí”; “Terreiro de Fazenda” e “Paremiologia Nordestina”.

Fontes Ibiapina, escritor e magistrado, foi membro da Academia Piauiense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura.

Obras de Fontes Ibiapina lançadas durante o centenário.
Objetos pessoais do escritor

Academia celebra o Centenário de Fontes Ibiapina

A Academia Piauiense de Letras abre, nesta segunda-feira (20/06), às 10 horas, o programa do Centenário de Fontes Ibiapina, ocupante da Cadeira 9.

A abertura será feita pelo presidente da APL, Zózimo Tavares, que anunciará o evento e convidará para a visita à exposição sobre a trajetória de vida e literária do escritor homenageado.

O programa comemorativo do centenário de Fontes Ibiapina foi definido pela Academia com a participação de sua neta Laila Fontes Caddah e da artista plástica Mundica Fontes, sua prima e ilustradora das capas de seus livros.

 

Programação do Centenário

 

  1. Exposição: vida e obra de Fontes Ibiapina

(Sala do Escritor/Acadêmico e Galeria)

Aberta à visitação de 20 a 30 junho,  8 às 12h, na APL

 

  1. Palestras sobre Fontes Ibiapina

 

Auditório (9 às 12h)

 

Quarta (22/06) Realidade e ficção na obra de FI

 

Quinta (23/06)

O acervo de FI: Fontes inesgotáveis de pesquisa

 

Sexta (24/06)

Um folclorista na Academia de Letras

 

  1. Livros para aquisição

 

– Dicionário de Brasileirismos no Piauí

 

– Terreiro de Fazenda

 

– Paremiologia Nordestina

 

  1. Chá das 5

Evento on line, APL

(Quinta-feira às 17h)

 

O homenageado

João Nonon de Moura FONTES IBIAPINA foi magistrado, cronista, romancista e folclorista. Nasceu em Picos (1921) e faleceu em Parnaíba (1986).

Escreveu os romances Sambaíba (1961), Palha de Arroz (1968), Tombador (1971) e Vida Gemida em Samambaia (1986).

Entre seus livros de contos, estão Chão de Meu Deus (1958); Brocotós (1961), Pedra Bruta (1964); Congresso de Duendes (1969); Mentiras grossas de Zé Ratinho e Quero, Posso e Mando.

No campo do folclore, publicou Paremiologia Nordestina, 1975; e Passarela de marmotas.

No teatro, escreveu a peça O Casório de Pafunça.

Deixou várias obras inéditas.

(Fonte: Antologia da Academia Piauiense de Letras, de Wilson Carvalho Gonçalves)

Celso Barros e sua lição de vida, na celebração dos 100 anos

Hoje, ao completar 100 anos, lembro das palavras do filósofo inglês Bertrand Russell, ao falar que a velhice nos dá sábias lições de vida.

Indica ele que uma existência humana individual deveria ser como um rio pequeno – a princípio, estreitamente contido dentro de suas margens, a correr impetuosament5e sobre seixos e cascatas.

Aos poucos, o rio torna-se mais largo, as margens recuam, as águas fluem mais tranquilamente e, no fim, sem qualquer interrupção visível, funde-se no mar, perdendo o seu sofrimento e o seu ser individual.

O homem que na velhice pode encarar sua vida dessa maneira não sofrerá o medo da morte, pois que as coisas que lhe são caras continuarão.

Ante esse quadro, o meu sonho é que desejarei morrer trabalhando, sabendo que outros continuarão o que não posso mais fazer, satisfeito com a ideia de que o que era possível foi feito.

Se esse não é um sonho, é uma aspiração e nela vejo uma forma de continuar vivendo com dignidade”.

Este é um dos trechos do discurso que o advogado, professor e acadêmico Celso Barros escreveu para agradecer a homenagem recebida nas comemorações de seus 100 anos de vida.

A homenagem foi prestada no início da noite de sexta-feira (20/05), no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Piauiense, por oito instituições, à frente a própria OAB e a Academia Piauiense de Letras.

Viver e envelhecer

Em seu discurso, lido no final da Sessão Solene conjunta da OAB e da APL pela sua filha Karina Barros, advogada, o homenageado citou também versos do poeta Olavo Bilac, em resposta às pessoas que lhe perguntam o que faz para ter tão longa vida:

 

Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Celso Barros, que fez 100 anos no último dia 11, ensinou, ainda: “Devemos gostar do nosso trabalho, senão se torna um peso enfadonho e nos rouba a vivacidade.

Mas também é preciso que levemos uma vida tranquila, sem ódio, sem intrigas, procurando fazer o bem aos outros, fugindo ao egoísmo e adormecendo com a consciência limpa”.

A homenagem

Os discursos em homenagem a Celso Barros foram pronunciados pelo presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares; pelo presidente do Instituto dos Advogados Piauienses, Álvaro Mota, e pelo presidente da OAB-PI, Celso Barros Neto.

Também participaram da homenagem a Academia Piauiense de Letras Jurídicas; Academia de História, Letras e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons; Academia Passagense de Letras e Artes; Assembleia Legislativa do Piauí, Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e Universidade Federal do Piauí.

Presenças

Além de parentes, acadêmicos, advogados, magistrados, ex-alunos e outros convidados, várias autoridades participaram da solenidade, como os prefeito de Teresina, José Pessoa Leal, e de Campo Maior, Joãozinho Félix, além do presidente da APPM, Paulo César Moraes.

A mesa de honra foi composta ainda pela senadora Eliane Nogueira, o deputado federal Paes Landim, o deputado Wilson Brandão, representando a Assembleia Legislativa, e o reitor em exercício da UFPI, Viriato Campelo.

Uma delegação de Pastos Bons, cidade natal de Celso Barros, também se fez presente à homenagem ao filho ilustre, à frente o prefeito Enoque Mota, o deputado federal Elizabeth Gonçalo e membros da Academia de Letras.

Da APL se fizeram presentes os acadêmicos Anfrísio Lobão, Carlos Evandro, Fides Angélica, Fonseca Neto, Itamar Costa, Luiz Ayrton Santos Junior, Magno Pires, Moises Reis, Nelson Nery Costa, Oton Lustosa, Plinio Macedo, Reginaldo Miranda, Socorro Rios Magalhães, Wilson Brandão, Valdeci Cavalcante e Zózimo Tavares.

Celso Barros Coelho

Reginaldo Miranda[1]

Quando nasceu Celso Barros Coelho, em 11 de maio de 1922, o Brasil vivia o agitado clima político da disputa eleitoral pela presidência da República. Disputavam o comando da Nação Artur Bernardes, ex-governador de Minas Gerais e Nilo Peçanha, ex-governador do Rio e ex-presidente da República. O primeiro foi apoiado pelas oligarquias de São Paulo e Minas, seguindo a rígida cartilha da política café com leite. A ele, atribuíram-se cartas falsas que atacavam o marechal e ex-presidente da República Hermes da Fonseca, fato que desgastou o relacionamento deste com os militares. O segundo possuía o apoio das oligarquias do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia, cuja candidatura, lançada pelo movimento denominado “Reação Republicana”, procurou conquistar o voto das classes médias urbanas.

Eleito, Bernardes enfrentou forte oposição dos militares. Teve de governar em constante estado de sítio, cuja situação agravou-se com o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca. O governo enfrentou problemas sucessórios em diversos estados, sendo gravíssima a situação no Maranhão, onde foi deposto o governador Raul Machado, em 25 de fevereiro daquele ano. O clima de discórdia e contestação dentro do Exército, culminou com a “Revolta dos 18 do Forte de Copacabana”, em 5 de julho do mesmo ano, visando impedir a posse do presidente eleito. Os revoltosos foram atacados pelos legalistas escapando com vida apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. No Rio Grande do Sul, em 1923, dois candidatos declararam-se eleitos; reconheceu-se como governador Borges de Medeiros, depois de acirrada guerra civil. O clima de insatisfação desembocou no movimento tenentista de 1924, cujo desfecho no ano seguinte, foi a formação da Coluna Prestes, com a célebre marcha que varou o país, inclusive os sertões do Piauí e Maranhão. Reivindicavam voto secreto, liberdade de imprensa, independência do Judiciário e ampliação do poder do Estado.  Por fim, veio a “Revolução de 30” e as reformas que criaram a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral, com as leis trabalhistas, o Código Eleitoral e a extensão de voto às mulheres.

No campo cultural, manifestações artístico-culturais realizadas no Teatro Municipal de São Paulo, entre 13 a 18 de fevereiro de 1922, denominadas Semana de Arte Moderna, lançaram definitivamente o Modernismo no Brasil, cuja essência já se desenhava nas artes plásticas na década anterior. Rompia-se com as escolas realista, parnasiana e romântica. Esse movimento favoreceu o aparecimento do romance moderno, inclusive de caráter regionalista mostrando nosso sertão como nunca antes. No Piauí, criara-se, cinco anos antes, a Academia Piauiense de Letras, em 1917; nessa ambiência, surgia também a Faculdade de Direito, em 1931, e a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, em 1932.

Nesse ambiente político e cultural, Celso Barros Coelho viu a luz do sol pela primeira vez, na pequena e antiga vila de Pastos Bons, Sudeste do Maranhão. Era filho de Francisco Coelho de Sousa e Alcina Barros Coelho, tendo perdido o genitor ainda na meninice.

Iniciou as primeiras letras na terra natal, sob orientação da tia Maria de Lourdes Coelho, que o alfabetizou. Em 1931, frequentou as aulas da professora Heloísa de Gusmão Castelo Branco, que ali chegou oriunda de São Luís, provocando profunda impressão naquele “menino humilde e sonhador, nos seus nove anos”[2] de idade.

Não demorou, porém, a passar ao Piauí, primeiro para a vizinha cidade de Uruçuí, encostada no rio Parnaíba, onde em companhia de parentes prosseguiu nos estudos. Em 1938, mudou-se para a cidade de Teresina, dando vazão à sede de conhecimento que invadia sua alma e ao consequente aprimoramento intelectual. Matriculou-se no Seminário Menor, onde cursou o ensino ginasial, concluindo-o no Liceu Piauiense, em 1945. Cursaria o clássico no Colégio Diocesano São Francisco de Sales. Essa fase no Seminário foi importante para imiscuir-se na língua latina e no estudo dos clássicos. Desde então, passou a ler com certo método os principais autores de língua portuguesa, sem esquecer Camões e as traduções de Cervantes e Shakespeare, assim como importantes obras de Filosofia e os grandes pensadores do Brasil.

Com vocação para os estudos jurídicos, ingressou em 1949, na Faculdade de Direito do Piauí, alcançando o grau de bacharel no final de 1952, com pouco mais de 30 anos de idade. Em pouco tempo, por via de concurso público, emprega-se no cargo de procurador autárquico do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), hoje Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), no qual alcançou a aposentadoria. Desde então, inscreve-se na OAB, iniciando sua longa carreira de advogado. Porém, também seria aprovado em concursos públicos para os cargos de Juiz de Direito, Promotor de Justiça e Auditor Federal, os quais não chegou a assumir.

Desde 1945, para manter-se nos estudos, ingressou no magistério como professor do Colégio “Demóstenes Avelino”, levado pelo jovem mestre Amandino Teixeira Nunes, que ali lecionava. Naquele ano, também ali ingressou, como professor de Português, o professor M. Paulo Nunes, seu contemporâneo no Colégio Diocesano, fortalecendo uma amizade que durou por toda a vida. Naquela escola de ensino secundário, Celso Barros Coelho não demorou a enamorar-se da jovem Maria de Lourdes Freitas, filha do diretor-proprietário Felismino de Freitas Weser, com quem contraiu matrimônio, gerando três filhos, hoje todos bem situados na vida profissional[3]. Permanecendo no magistério, em 1958, vai lecionar a disciplina de Latim na Escola Normal “Antonino Freire”, vencendo o certame com a tese Da poesia latina na época de Augusto. Nesse tempo, assume as cátedras de Literatura Latina e Literatura Portuguesa na recém-fundada Faculdade de Filosofia do Piauí.

Em 1967, depois de lograr êxito em concurso público, assume a cátedra de Direito Civil da Faculdade de Direito do Piauí, a mesma em que se formara, depois integrada à Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde alcançou a aposentadoria compulsória em maio de 1992. Foi admitido por alguns anos como professor visitante na Universidade de Brasília (UnB); ali, ministrando a disciplina Direito Civil. Lecionou também nos cursos de Pós-Graduação da Escola de Magistratura do Estado do Piauí (ESMEPI) e Escola de Advocacia do Piauí (ESAPI), em cujas oportunidades fomos seu aluno. O Prof. Celso Barros fez nome no magistério piauiense, sobretudo no ensino jurídico, pela profundidade e segurança com que explanava as grandes teses jurídicas. Para ele, “o Direito Civil assume a primazia entre os demais ramos do Direito, por ser o mais ligado à pessoa humana, na sua individualidade e personalidade”[4]. Costumava ensinar que os advogados em início da carreira profissional devem seguir o exemplo dos mais velhos e experientes, entregando-se à leitura permanente para compreenderem o Direito e a grande responsabilidade que assumem perante a sociedade e os interesses populares[5].

Mesmo exercendo o magistério com paixão e entusiasmo, outra grande vocação foi a advocacia, em cuja atividade permaneceu em pleno exercício até à atualidade, por 70 anos. Civilista de largos recursos, ético e seguro, constitui-se num símbolo autêntico da advocacia piauiense, uma referência para todos nós. Nos anos de chumbo da ditadura militar, embora com seus direitos políticos injustamente cassados, presidiu a seccional piauiense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PI) pelo período de onze anos, com pequenos interregnos, entre 1963 a 1974[6], transformando-a em trincheira da resistência democrática em terra mafrensina.

O senso de justiça, a intransigente luta pela liberdade e pela redenção dos povos, ele canalizou para a atividade política, outra de suas grandes vocações, militando com destaque no Partido Democrático Cristão (PDC), no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e em seu sucedâneo, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em cuja legenda ainda permanece, tendo se afastado em breve interregno, por divergir de algumas ações então praticadas. Orador brilhante, de inteligência privilegiada, com exuberante cultura jurídica e humanística, Celso Barros empolgou as multidões em grandes comícios populares, sendo sempre bem votado na Capital e nas principais cidades do Piauí. Elegeu-se deputado estadual em 1962 e deputado federal em duas legislaturas (1975 – 1979 e 1983 – 1987). Na Câmara Federal, sua atuação foi das mais significativas e marcantes, participando ativamente dos grandes debates de interesse da nação. Estando então em evidência a elaboração de um novo Código Civil, o jurista e deputado Celso Barros foi convidado para relatar a parte concernente ao Direito das Sucessões, no que se houve com distinção.

Com a criação do Estado do Tocantins na Constituinte de 1988, foi convidado pelo novo governador Siqueira Campos, para ajudá-lo a implantar a nova unidade federativa, em cuja tarefa trabalhou assiduamente, responsabilizando-se pela elaboração do anteprojeto das principais leis.

Intelectual irrequieto, portador de vasta cultura, apreendida em longas horas de estudo, Celso Barros Coelho é autor de mais de uma dezena de livros, nos quais mostra a força de sua inteligência e a vastidão de seu conhecimento jurídico, entre os quais: Imunidades parlamentares (1964), O direito como razão e como história (1977), Jurisprudência como norma jurídica (1982), Confronto de ideais (1997), Darcy Ribeiro – educador e antropólogo (1997), Apelo aos valores (2003) e Perfis paralelos – juristas (2016), além de colaborador de dezoito verbetes na Enciclopédia Saraiva de Direito.

Para essas notas, vamos destacar Perfis paralelos. Nele, o intelectual estuda em quinze ensaios a vida, a obra, o pensamento, as ideias, a formação intelectual e a ideologia de importantes juristas de nossa pátria, enfocando a contribuição que deram à ciência do Direito. Talvez, essa obra seja inspirada nas Figuras do Direito, de San Tiago Dantas, a quem enaltece as características de civilista, político e humanista preocupado com a educação jurídica nacional. Enfoca em San Tiago Dantas, a preocupação com “a verdadeira formação jurídica, aquela que formará juristas para as tarefas da vida social”, “colocando o estudante não em face de um corpo de normas, de que se levanta uma classificação sistemática, como outra história natural, mas em face de controvérsias, de conflitos de interesses em busca de solução”. Acrescenta à sua leitura: “Só desse modo a educação jurídica poderá conceituar com clareza o seu fim, que é formar o raciocínio jurídico e guiar o seu emprego na solução de controvérsias”. Finalizando, afirma San Tiago no recorte de Barros: “O estudo das normas e instituições constituem segundo objetivo, absorvido no primeiro, e revelado ao longo do exame e discussão dos problemas”. Portanto, nesses estudos jurídicos Celso Barros Coelho vai buscar em seus biografados características que também realçam seu pensamento como professor e pensador da ciência jurídica com larga folha de serviços prestados à vida pública nacional.

Seus ensaios não são mero ajuntamento de datas e fatos, ao contrário, constituem-se oportunidade para acompanhar a formação intelectual e o legado de juristas do porte de Rui Barbosa, Paulo Bonavides, Francisco Amaral, Caio Mário da Silva Pereira, Washington de Barros Monteiro, Orlando Gomes, Coelho Rodrigues, Sousa Neto, Wilson Brandão, Cláudio Pacheco, San Tiago Dantas, Miguel Reale e Gérson de Britto Mello Bozon. Realça em cada um caraterísticas que ele próprio professa e que procura seguir como objetivo de vida em sua marcha como homem público e pensador da ciência e dos destinos da pátria.

Roberto Rosas, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, lembra que Celso Barros “é uma figura formada em humanidades, no sentido literal da palavra”; que “sua contribuição, assim, para o mundo acadêmico é reverberante”, “transitando entre a atividade política e a jurídica, como muitos outros bons juristas que querem ajudar a construir a legislação que ajudarão a fazer cumprir”, jamais se afastando “da docência querida e das publicações literárias nas quais se aventurou desde a poesia, arte e literatura até as críticas, análises e história”[7].

Na Academia Piauiense de Letras, ingressou no ano de 1967, onde até há pouco foi assíduo frequentador, dando tom ao debate acadêmico, ao lado de seu saudoso colega M. Paulo Nunes e alguns outros de sua geração literária. Presidiu o sodalício no período de 1998-1999, promovendo importantes realizações, como publicação de livros, lançamento de coleções e realização de ciclos de debates e conferências. Pertence a diversas outras instituições culturais, a exemplo do Instituto dos Advogados Brasileiros, Academia Piauiense de Letras Jurídicas e Instituto Luso-Brasileiro de Direito Comparado. Como reconhecimento por sua contribuição ao magistério, à advocacia e ao parlamento, recebeu diversas homenagens e condecorações.

Preocupado com a terra de nascença, em 2005, fundou a Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons, visando difundir cultura entre seus conterrâneos. Desde então promoveu ciclo de debates, a edição de livros e de um jornal literário, às suas expensas.

Celso Barros Coelho, estimado mestre de gerações, é nome de referência na política, no magistério, na literatura e na advocacia piauiense. Foi uma honra sermos seu aluno na escola formal, e ainda continuamos a sê-lo fora da escola. Ouvi-lo é aprender sempre. É com muito orgulho que sentamos ao seu lado, como um de seus pares na Academia Piauiense de Letras. Parabéns, mestre de vida escolar, colega de profissão e confrade de academia! Que nossa convivência perdure por muitos anos[8]! Abraço fraterno.


[1] REGINALDO MIRANDA, advogado especialista em Direito Constitucional e em Direito Processual, foi membro do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI, da Comissão de História, Memória, Verdade e Justiça, assim como cofundador e presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí. Representa a OAB-PI na composição da Comissão de Estudos Territoriais do Estado do Piauí – CETE (17.2.2021 – 31.1.2023). É membro da Academia Piauiense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

[2] COELHO, Celso Barros. Heloísa, minha professora. In: Memórias de Pastos Bons. Celso Barros Coelho (Coord.). Imperatriz: Ética, 2005.

[3] Na maturidade, teria uma quarta filha, hoje advogada.

[4] Portal OAB-PI: https://www.oabpi.org.br/celso-barros-coelho-completa-99-anos-e-e-homenageado-com-lancamento-de-livro/

[5] Entrevista a Waldelúcio Barbosa, do Jornal Meio Norte (https://www.meionorte.com/especiais/nossagente/celso-barros-coelho-referencia-no-cenario-juridico-e-politico-59).

[6] Dr. Celso Barros presidiu a OAB/PI nos seguintes períodos: 01/01/1963 a 27/02/1969 – de 29/08/1970 a 27/11/1970 – de 31/01/1971 a 22/05/1974

[7] ROSAS, Roberto. Prefácio. In: COELHO, Celso Barros.  Perfis paralelos – juristas. Coleção Século XXI. Vol. 5. Teresina: APL, 2016.

[8] Escrevi essas notas para homenageá-lo no aniversário de 90 anos, cujo artigo foi publicado no jornal Meio Norte, edição de 18.05.2012, agora refeito e ampliado para comemorar o seu centenário.