Na manhã de 14 de maio de 1922, o Piauí silenciou com Lucídio Freitas. Não um silêncio de deslembrança, mas o silêncio denso e solene que paira sobre as grandes ausências. Naquele dia, partia o jurista, professor, jornalista, poeta e intelectual piauiense — um dos mais brilhantes de sua geração. Patrono da Academia Piauiense de Letras, Lucídio deixou para trás não apenas cargos e títulos, mas um legado de ideias, combatividade ética e compromisso com as letras e as liberdades.
Lucídio faleceu em Teresina, aos 28 anos, vítima de tuberculose. Sua partida prematura interrompeu uma trajetória intensa e promissora, mas não lhe retirou a força perene da palavra e do exemplo. Como membro fundador da APL, foi um dos principais artífices da criação da Casa de Lucídio Freitas, instituição que até hoje reverencia sua memória, sua inteligência crítica e sua vocação pública.
Ex-deputado estadual, redator combativo, líder da campanha civilista no Piauí, articulador de ideias que desafiavam os poderes estabelecidos, Lucídio era um espírito inquieto, atento ao devir de sua terra. Seu discurso de fundação da Academia, em 30 de dezembro de 1917, não foi apenas inaugural — foi visionário. Falava-se, ali, do papel da inteligência na construção de um Piauí mais lúcido, mais justo e mais inserido no pensamento nacional.
Naquela manhã de maio, encerrava-se uma existência breve, mas profundamente marcante. Mas o tempo, sempre implacável e alheio ao merecimento, preferiu interromper-lhe a voz. E que voz: ela ecoava das tribunas, dos jornais, das salas de aula e dos salões de debate. Era uma voz que escrevia o Piauí com paixão, com indignação quando preciso, com esperança sempre.
A Academia Piauiense de Letras reconhece em Lucídio Freitas não apenas um nome em bronze ou papel — mas uma centelha fundadora. Sua morte, há exatos 103 anos, não foi o fim de um homem, mas o início de sua perenidade. Ainda hoje, cada livro lançado na Casa que leva seu nome, cada debate que promove a cultura e a história piauiense, cada jovem leitor que descobre suas ideias, reaviva esse silêncio eloquente.
É o silêncio de quem cumpriu sua jornada com intensidade e inteligência. E de quem, mesmo ausente, segue presente — como uma pedra angular nas fundações da cultura piauiense.
Por isso, neste 14 de maio, a Academia se curva não diante da morte, mas diante da memória. Silêncio, sim. Mas um silêncio fecundo, onde as palavras de Lucídio ainda florescem.