Mesmo vivendo longe do Piauí desde a juventude, o médico, professor e acadêmico Eustachio Portella era um apaixonado pela sua terra natal.
Foi o que deixaram claro os seus filhos Verônica e Estêvão, em mensagem lida na missa de sétimo dia pela sua alma, celebrada em Teresina na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no início da noite de ontem (14/10).
O Dr. Eustáchio Portella faleceu no Rio de Janeiro no último dia 6, aos 91 anos. Ele ocupava a Cadeira 16 da Academia Piauiense de Letras, na qual tomou posse em 8 de agosto de 1991.
Eustáchio Portella nasceu em Valença do Piauí. Ainda jovem, mudou-se para Teresina com a família e, em seguida, foi para o Rio de Janeiro, onde se formou em medicina, projetando-se como um dos psiquiatras mais brilhantes do Brasil. No Rio, fixou residência e constituiu família.
A mensagem dos filhos do Dr. Eustachio
“Hoje, filhos, netos e demais familiares, amigos, alunos, conhecidos, estamos todos tristes pela morte de Eustachio Portella Nunes Filho. Mas é também o momento para relembrar e celebrar sua vida longa e produtiva. Vida que se iniciou junto a uma numerosa família de 12 irmãos na cidade de Valencia, interior do Piaui, passou por Teresina e veio desembocar no Rio de Janeiro, seguindo o caminho dos irmãos mais velhos. Abraçou o Rio, e não poderia ser de outra maneira já que aqui ele encontrou a grande companheira na figura de Clara Helena Portella Nunes, com quem dividiu conquistas, conhecimentos, alegrias e também perdas. Perdas profundas, talvez as maiores que alguém possa enfrentar, a perda de dois filhos amados, Bernardo e Leandro. Juntos encontraram forças, não para superar, pois estas coisas não se superam, mas para ter uma vida rica, conseguir criar seus outros filhos, trabalhar, formar alunos, estar junto da família.
Meu pai sempre se movimentou de acordo com o que acreditava ser suas responsabilidades. Pelo seu caráter reservado, nunca foi dado a grandes arroubos de demonstrações de carinho, mas era evidente que nesta noção de responsabilidade ele transbordava todo o seu afeto. È claro que para os filhos, sua dedicação ao trabalho ‘as vezes soava como uma divisão do tempo que deveria ser deles. Agora, ao ver tantos órfãos se formarem em torno da sua figura, percebemos que na verdade a presença dele se multiplica em cada narrativa, em cada pessoa que relata o profundo impacto transformador do contato com ele.
Mesmo com todo este lado reservado, determinados vínculos claramente acendiam uma luz dentro dele. Um deste vínculos poderosos era o Piaui. Podia se manifestar na alegria e na magia que apareciam nas histórias que ele ia desdobrando da sua vida por lá, tesouros enterrados, noites de vigília, personagens mitológicos, seu primeiro contato com os trabalhos do Freud em uma biblioteca de Teresina, os doces de ambrosia da mãe, os discursos do pai, o contato com os irmãos; É claro que isto ficava ainda mais evidente nas suas viagens por lá, quando o seu corpo se enchia de força e alegria, principalmente no contato com os irmãos, sobrinhos e primos. Sua posse na Academia Piauiense de Letras foi também um momento de grande prazer e orgulho, pois foi possível juntar duas de suas grandes paixões, a Literatura e o Piauí, que, por sinal, tanto talento para as letras revelou.
Ao mesmo tempo que sentia as inevitáveis perdas que apareciam com o tempo, percebia que a vida perseverava na nova geração que surgia, tudo apontando para um só fim, sempre presente, como aparece em um dos seus poemas favoritos. Entendia a morte como parte natural e integrante da vida e levou até o fim este pensamento, fazendo sua passagem em uma linha manhã, em paz, no mesmo lar em que viveu a vida inteira com a sua companheira.
Mas é preciso ainda falar do Piaui. Havia uma religiosidade forte nos integrantes da família e ele sempre acompanhava a mulher e os familiares nos ritos próprios do catolicismo. Clara Helena faleceu há quase 5 anos e isto evidentemente teve um efeito profundo dentro dele. Recentemente, neste ano difícil de 2020, dois dos seus queridos irmãos, Eloi e Maria Luiza, faleceram no Piaui. Tudo isto, é possível imaginar, aumentou sua sensação de distanciamento das coisas próprias deste mundo. Mas, em todos os momentos, o que sempre parecia mobiliza-lo era o contato com as pessoas que ele amava, como a irmã Célis. O que, é claro, também reforçava seu vínculo com o seu estado natal. Na última festa com a família, falou para seus netos de sua vontade de que todos os familiares estivessem mais tempo juntos.
Nos últimos momentos, sem combinar, seus filhos marcaram esta relação com a cidade natal, relembrando por caminhos distintos o Hino do Piauí, o que acabou sendo uma das últimas canções que ouviu. Que tenha embalado sua passagem!
Piauí, terra querida
Filha do Sol do Equador
Pertencem-te a nossa vida
Nosso Sonho nosso amor!
Que esteja agora em paz e harmonia com as pessoas que ele amou. Ficam os filhos, parentes, amigos, pessoas que cuidaram dele com tanto carinho, certamente com lembranças maravilhosas e uma incrível saudade.
Leva também todo nosso afeto!”