Academia Piauiense de Letras promove Círculo de Leituras do Autor Piauiense

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No sábado 29 de junho, a Academia Piauiense de Letras realizou no auditório da entidade o primeiro encontro do Círculo de Leituras do Autor Piauiense. Segundo o presidente da entidade, o escritor e professor da UFPI Nelson Nery Costa, o projeto, aberto a toda a comunidade, é oportunidade para diálogo mais próximo com autores clássicos da literatura piauiense, a partir das experiências dos leitores.

“A literatura é uma possibilidade concreta de interação  mais  significativa com o mundo e com a linguagem”, diz Nery Costa. O presidente da APL destaca que” o círculo abre espaços para que sentimentos, associações e descobertas do próprio leitor criem oportunidades para a imaginação e para a descoberta do sentido da linguagem literária; de sua fluição mais simples ao seu sentido filosófico-existencial, a razão final do senso estético da arte da palavra”.

Os livros alvos dos diálogos entre leitores, em cada encontro, foram selecionados da Coleção Centenário, da APL, formada por 150 obras fundamentais da história cultural do Estado. A cada último sábado do mês, sob a coordenação dos acadêmicos Socorro Rio Magalhães e Dílson Lages Monteiro, naturalmente após a leitura de obra selecionada pela Academia, os interessados em participar do projeto reúnem-se em torno do diálogo sobre um livro da Coleção, entre 8h e 9h30min., no auditório da APL. A interlocução inicialmente focalizará Teodoro Bicanca, de Renato Pires Castello Branco (junho de 2019); O prestígio do diabo, de Assis Brasil (agosto de 2019); Poesias, de Celso Pinheiro (setembro de 2019); Modernismo e Vanguarda – 1ª. Série, de M. Paulo Nunes (outubro de 2019); Meia-Vida, de Othon Lustosa (novembro de 2019).

Citando as experiências teorizadas por um dos especialistas em letramento literário no País, Rildo Cosson, para os coordenadores do Projeto, os círculos de leituras geram respostas positivas na formação dos leitores ou ampliação do conhecimento de mundo deles, porque apresenta “o caráter social da interpretação dos textos”, facilita a apropriação e manipulação do repertório de linguagem “com um grau maior de consciência” e porque  “a leitura em grupo estreita os laços sociais, reforça identidades e a solidariedade entre as pessoas”.

“As mais encantadoras passagens da obra e personagens, com suas múltiplas relações com a experiência dos participantes, serão o ponto de partida das conversas do círculo de leituras”, explicam os coordenadores do projeto, os quais esperam a participação de público variado. No primeiro encontro, após a abertura oficial do projeto pelo presidente da APL Nelson Nery, serão especificadas as diretrizes dos encontros, que valorizarão a informalidade e, claro, a voz dos leitores.

A OBRA E O AUTOR DO ENCONTRO DE JUNHO – O primeiro encontro do Círculo de Leituras do Autor Piauiense na APL teve como tema a obra considerada por alguns críticos como a consolidadora da prosa de ficção moderna na literatura piauiense, o romance Teodoro Bicanca, de Renato Pires Castello Branco, editada pela primeira vez em 1948 e obra de número 81 da Coleção Centenário, em edição conjunto com A Civilização do Couro, do mesmo autor.

Teodoro Bicanca permite compreensão da identidade cultural do Piauí e pode ser lido em diálogo com outros livros escritos por Renato Pires, entre os quais, o estudo sociológico A Civilização do Couro e o livro de memórias Tomei um Ita no Noite. O romance favorece, entre muitos questionamentos sobre a realidade social e econômica do Piauí, uma reflexão sobre as condições do trabalhador rural da primeira metade do século XX.

Renato Pires Castello Branco (1914-1996), que ocupou a cadeira 19 da APL, é autor de 25 livros. Passeou por gêneros diversos: romance, poema, ensaio historiográfico, crônicas, memórias. Tornou-se um dos publicitários de grande sucesso no Brasil, chegando aos postos mais elevados, nos Estados Unidos e no Brasil, de uma das maiores agências de publicidade americana, a J.W. Thompson.

O escritor recebeu diversos prêmios e apreciações críticas de grandes nomes da cultura nacional, entre eles, Monteiro Lobato, que, recebendo o livro A Civilização do Couro de empréstimo de Cândido Fontoura, assim se manifestou sobre a obra: “Esse livrinho surpreendeu-me. Peguei-o apenas para apalpar e cheirar (que é o mais que podemos fazer com a maioria dos livros que aparecem) e quando dei acordo estava no fim. E você tenha paciência: o livrinho vai ficar aqui comigo! Ele não quer voltar. Sente-se bem numa estante onde só tenho coisas com grau 10!”.

Para o acadêmico Francisco Miguel de Moura, autor de Literatura do Piauí, Teodoro Bicanca “trata-se de um romance regionalista, mas não visceralmente regionalista, sendo saudado pela crítica quando apareceu” colocando o autor “ao lado de autores como Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Afonso Schmidt, Paulo Duarte e Ledo Ivo”.