Felipe Mendes recebe Título de Cidadania em Piracuruca

O professor e acadêmico Felipe Mendes recebeu o título de Cidadão Honorário de Piracuruca em sessão solene da Câmara Municipal realizada na noite desta sexta-feira (28/07), no Auditório Lourdinha Brandão.

Os trabalhos foram conduzidos pelo presidente da Câmara, vereador José Cardoso, o Zé Batata.

O título de cidadania para Felipe Mendes foi aprovado em 1991, por proposição do vereador Clidenor Cerqueira, já falecido.

O presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares, participou da cerimônia.

Também prestigiaram a sessão o cirurgião dentista e professor universitário Gilberto Mendes, o engenheiro civil e professor Paulo de Tarso Cronemberger e o juiz Marco Antônio Mendes Moura, respectivamente irmão e sobrinhos do homenageado.

Vários outros amigos de Felipe Mendes, entre eles o ex-vereador Manoel Divino, participaram da homenagem.

Outras personalidades receberam a honraria na mesma cerimônia.

O homenageado

Felipe Mendes é economista e professor aposentado da Universidade Federal do Piauí.

Foi secretário de Planejamento e de Fazenda do Estado em várias administrações. Exerceu os mesmos cargos no município de Teresina.

Também foi deputado federal constituinte, tendo exercido mais dois mandatos na Câmara Federal.

Foi vice-governador e secretário-geral do Ministério das Cidades, além de presidente da Codevasf – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba.

Ocupa a Cadeira 32 da Academia Piauiense de Letras.

Ação parlamentar

Felipe Mendes foi idealizador da Barragem de Piracuruca e, quando deputado federal, destinou emendas orçamentárias que possibilitaram a construção da obra.

A Barragem de Piracuruca é uma das maiores do Piauí, com capacidade para armazenar 250 milhões de metros cúbicos de água.

Sua ação parlamentar contemplou o município e a região, ainda, com outras obras importantes para o desenvolvimento regional, como escola agrícola e estradas.

Felipe Mendes recebe diploma na Câmara.

Felipe faz discurso de agradecimento.

Felipe Mendes com o irmão Gilberto, o presidente da APL e o sobrinho Paulo de Tarso, em Piracuruca.

O homenageado com parentes e amigos em Piracuruca.

Auditório Professora Lourdinha Brandão, local da Sessão da Câmara Municipal.

Academias celebram Bicentenário de Gonçalves Dias

Os 200 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias serão comemorados em São Luís no próximo dia 10 de agosto pela Academia Maranhense de Letras e a Academia Brasileira de Letras (ABL).

A sessão comemorativa do bicentenário de nascimento do poeta e dos 115 anos de fundação da AML será realizada às 19 horas, com a presença do presidente da ABL, Merval Pereira, e dos acadêmicos Antonio Carlos Secchin e Marco Lucchesi, que farão palestras sobre o poeta e sua obra.

A Academia Piauiense de Letras foi convidada para o evento pelo presidente da AML, Lourival Serejo, e se fará representar pelo seu presidente, Zózimo Tavares.

O poeta Gonçalves Dias é o patrono da Academia Maranhense de Letras. Ele nasceu nasceu em Caxias, Maranhão, no dia 10 de agosto de 1823. Foi professor, advogado, jornalista e teatrólogo. Faleceu em 1864, em um naufrágio, na costa maranhense.

Figura no cânone literário brasileiro como o grande poeta indianista da Primeira Geração Romântica. Deu romantismo ao tema índio e uma feição nacional à sua literatura. É considerado um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira. É Patrono da cadeira n.º15 da Academia Brasileira de Letras.

Visita

No último dia 12, os acadêmicos Zózimo Tavares, Fonseca Neto e Felipe Mendes participaram de sessão da Academia Maranhense de Letras.

Na ocasião, foi assinado entre os presidentes das duas Academias Termo de Cooperação para homenagear o escritor piauiense Clodoaldo Freitas, fundador da APL e da AML, nos 100 anos do seu silêncio.

Também foi lançado o livro “Pátinas do Tempo”, do acadêmico Fonseca Neto.

Acadêmicos Fonseca Neto, Zózimo Tavares e Felipe Mendes na AML.

Biblioteca do Congresso Americano recebe livros de Literatura Piauiense

A Biblioteca do Congresso Americano (Library of Congress) recebeu hoje (27/07) várias coleções doadas pela Academia Piauiense de Letras.

Os livros foram entregues à bibliotecária Hanne Kristoffersen, do escritório de representação da Library of Congress no Brasil.

A bibliotecária passou a semana em Teresina adquirindo livros de autores piauienses.

Ela esteve também na Livraria da Universidade Federal do Piauí e em livrarias comerciais.

As coleções da APL foram entregues pelo presidente da Academia, Zózimo Tavares, e pelo tesoureiro da instituição, acadêmico Humberto Guimarães.

Os livros doados pela APL para a Biblioteca do Congresso Americano compõem as Coleções Centenário e Século 21, além de publicações avulsas.

Library of Congress

A Library of Congress é a biblioteca de pesquisa do Congresso dos Estados Unidos. Fundada em 1800, é a instituição cultural mais antiga do país e uma das mais prestigiadas do mundo.

Instalada em três edifícios, em Washington, a Biblioteca do Congresso Americano possui mais de 155 milhões de itens, entre livros, manuscritos, jornais, revistas, mapas, vídeos e gravações de áudio, incluindo materiais disponíveis em 470 idiomas.

É a maior biblioteca do mundo, tanto em espaço de armazenagem como no número de livros, com mais de 32 milhões de títulos catalogados.

A biblioteca é aberta ao público em geral para pesquisa acadêmica. Os turistas também podem visitá-la.

O presidente da APL afirmou que estava muito contente de saber que a maior biblioteca do mundo está interessada em obras de autores piauienses, enquanto no Piauí e no Brasil as bibliotecas públicas, em geral, chegam a desprezar os livros, alegando falta de espaço físico.

Livros de autores piauienses doados à Biblioteca do Congresso Americano.

Biblioteca do Congresso Americano.

UBE comemora o Dia do Escritor no Piauí

A União Brasileira de Escritores do Piauí (UBE-PI) celebrou ontem (25/07) à noite o Dia do Escritor e os 50 anos de fundação da entidade.

O evento foi realizado no Clube dos Diários, com exposição e venda de livros, palestra com acadêmico Elmar Carvalho, ex-presidente da UBE-PI; lançamento do livro da atual presidente Lizete Napoleão, entrega de comendas para autoridades marcantes do meio e que fizeram parte da história da UBE-PI: Francisco Miguel de Moura; Itamar Costa, Chico Castro e Zózimo Tavares, presidente da Academia Piauiense de Letras.

A União Brasileira de Escritores do Piauí foi fundada em 21 de outubro de 1973, pelo escritor Magalhães da Costa, com o intuito de promover a cultura do estado, defender os direitos fundamentais do escritor, zelar pelos interesses da classe dos escritores, além de promover e inserir o escritor piauiense no cenário nacional.

Desde a fundação, a UBE-PI tem feito um trabalho de base, divulgando e difundindo a literatura piauiense junto às escolas públicas e particulares, bem como para toda a sociedade.

O Dia Nacional do Escritor foi estipulado em 25 de julho de 1960 com a realização do I Festival do Escritor Brasileiro, iniciativa da União Brasileira de Escritores (UBE).

Acadêmicos lamentam morte de arquiteto

A morte do arquiteto e urbanista Olavo Pereira da Silva Filho, autor do livro Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy, foi lamentada por vários membros da Academia Piauiense de Letras.

O presidente da APL, Zózimo Tavares, disse que o falecimento do arquiteto representa uma grande perda para a arquitetura e a história. O acadêmico destacou a contribuição dele na área do patrimônio histórico.

O acadêmico Luiz Ayrton disse que Olavo Pereira escreveu um belíssimo livro sobre as fazendas antigas do Piauí.

O acadêmico Fonseca Neto, também presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, observou que Olavo elaborou o mais belo livro (3 volumes) sobre o Piauí até hoje. “Estética e História sobre a arte-arquitetura do Piauí tranqueiro. Lindo”, destacou.

Fonseca recordou ainda que o arquiteto escreveu também o livro/dossiê que levou São Luís ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

O arquiteto pesquisador

Olavo Pereira da Silva Filho faleceu na tarde desta segunda-feira, 24 de julho, aos 76 anos de idade. Ele enfrentava problemas de saúde há alguns anos.

Nascido em Campo Maior, formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1975, destacando-se como especialista em Restauração e Conservação de Conjuntos e Monumentos Históricos e pesquisador sobre patrimônio arquitetônico.
Premiações

Ao longo da carreira, Olavo Pereira recebeu premiações e homenagens, entre elas, em 2008, o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade na categoria Pesquisa e Inventário de Acervo, organizado pelo IPHAN.

Olavo Pereira também foi assessor e consultor na área de Patrimônio Histórico, Planejamento e Cultura de diversas prefeituras brasileiras e produziu obras que tratam sobre a Arquitetura e a História do Piauí e do Maranhão, como “Arquitetura Luso Brasileira no Maranhão”, “Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy” e “Manuais técnicos de conservação e restauração do IPHAN UNESCO”.
Obra histórica

O livro Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy está dividido em três volumes.

Vol. I. ESTABELECIMENTOS RURAIS O Plano Rural; Primeiros Currais; Casas de Vaqueiros e Roceiros; Casas de Fazendas; Instalações de Produção; Campos Santos. 230 pg.

Vol. II. ARQUITETURA URBANA Casas de Residência e Comércio; Prédios de Função Pública; Instalações Industriais; Fábricas, Cerâmicas e Olarias; Igrejas e Capelas. 368 pg.

Vol. III. VILAS DA COLÔNIA E CIDADES DO IMPÉRIO Vilas da Colônia e Cidades do Império (Oeiras, Parnaguá, Jerumenha, Parnaíba, Piracuruca, Campo Maior, Jaicós, Teresina, Amarante, Pedro II, União, Floriano, São Raimundo Nonato); Ruptura, Preservação e Perda; Glossário. 190 pg.

(Com informações de caupiaui / Fotos: Maurício Pokemon/Revestrés)

Livros de Olavo Pereira

Acadêmicos visitam Arquivo Público do Maranhão

O Arquivo Público do Estado do Maranhão foi um dos espaços culturais visitados pelos acadêmicos Zózimo Tavares (presidente), Fonseca Neto (1º secretário) e Felipe Mendes, na viagem que fizeram a São Luís, nos dias 12, 13 e 14 deste mês.

Zózimo Tavares e Fonseca Neto acompanharam Felipe Mendes nos contatos para uma pesquisa sobre o Rio Parnaíba que ele faz para um novo livro.

Os acadêmicos foram recebidos pela diretora do Arquivo, Vilma Teixeira de Castro, que gentilmente os conduziu pelos diversos espaços da casa e também às fontes de pesquisa de interesse de Felipe Mendes.

Celso Barros Coelho, um mestre

Reginaldo Miranda (*)

Quando nasceu Celso Barros Coelho, em 11 de maio de 1922, o Brasil vivia o agitado clima político da disputa eleitoral pela presidência da República. Disputavam o comando da Nação Artur Bernardes, ex-governador de Minas Gerais e Nilo Peçanha, ex-governador do Rio e ex-presidente da República. O primeiro foi apoiado pelas oligarquias de São Paulo e Minas, seguindo a rígida cartilha da política café com leite. A ele, atribuíram-se cartas falsas que atacavam o marechal e ex-presidente da República Hermes da Fonseca, fato que desgastou seu relacionamento com os militares. O segundo possuía o apoio das oligarquias do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Bahia, cuja candidatura, lançada pelo movimento denominado “Reação Republicana”, procurou conquistar o voto das classes médias urbanas.

Eleito, Bernardes enfrentou forte oposição dos militares. Teve de governar em constante estado de sítio, cuja situação agravou-se com o fechamento do Clube Militar e a prisão de Hermes da Fonseca. O governo enfrentou problemas sucessórios em diversos estados, sendo gravíssima a situação no Maranhão, onde foi deposto o governador Raul Machado, em 25 de fevereiro daquele ano. O clima de discórdia e contestação dentro do Exército, culminou com a “Revolta dos 18 do Forte de Copacabana”, em 5 de julho do mesmo ano, visando impedir a posse do presidente eleito. Os revoltosos foram atacados pelos legalistas escapando com vida apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. No Rio Grande do Sul, em 1923, dois candidatos declararam-se eleitos; reconheceu-se como governador Borges de Medeiros, depois de acirrada guerra civil. O clima de insatisfação desembocou no movimento tenentista de 1924, cujo desfecho no ano seguinte, foi a formação da Coluna Prestes, com a célebre marcha que varou o país, inclusive os sertões do Piauí e Maranhão. Reivindicavam voto secreto, liberdade de imprensa, independência do Judiciário e ampliação do poder do Estado.  Por fim, veio a “Revolução de 30” e as reformas que criaram a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral, com as leis trabalhistas, o Código Eleitoral e a extensão de voto às mulheres.

No campo cultural, manifestações artístico-culturais realizadas no Teatro Municipal de São Paulo, entre 13 a 18 de fevereiro de 1922, denominadas Semana de Arte Moderna, lançaram definitivamente o Modernismo no Brasil, cuja essência já se desenhava nas artes plásticas na década anterior. Rompia-se com as escolas realista, parnasiana e romântica. Esse movimento favoreceu o aparecimento do romance moderno, inclusive de caráter regionalista mostrando nosso sertão como nunca antes. No Piauí, criara-se, cinco anos antes, a Academia Piauiense de Letras, em 1917; nessa ambiência, surgia também a Faculdade de Direito, em 1931, e a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil, em 1932.

Nesse ambiente político e cultural, Celso Barros Coelho viu a luz do sol pela primeira vez, na pequena e antiga vila de Pastos Bons, Sudeste do Maranhão. Era filho de Francisco Coelho de Sousa e Alcina Barros Coelho, tendo perdido o genitor ainda na meninice.

Iniciou as primeiras letras na terra natal, sob orientação da tia Maria de Lourdes Coelho, que o alfabetizou. Em 1931, frequentou as aulas da professora Heloísa de Gusmão Castelo Branco, que ali chegou oriunda de São Luís, provocando profunda impressão naquele “menino humilde e sonhador, nos seus nove anos”[2] de idade. No ano seguinte, frequentou as aulas da Escola Pessoa, na cidade de Picos, hoje Colinas, no Maranhão, de onde mudou-se para a cidade de Benedito Leite.

Não demorou, porém, a passar ao Piauí, primeiro para a vizinha cidade de Uruçuí, encostada no rio Parnaíba, onde em companhia de parentes prosseguiu nos estudos. Em 1938, mudou-se para a cidade de Teresina, dando vazão à sede de conhecimento que invadia sua alma e ao consequente aprimoramento intelectual. Matriculou-se no Seminário Menor, onde cursou o ensino ginasial, concluindo-o no Liceu Piauiense, em 1945. Cursaria o clássico no Colégio Diocesano São Francisco de Sales. Essa fase no Seminário foi importante para imiscuir-se na língua latina e no estudo dos clássicos. Desde então, passou a ler com certo método os principais autores de língua portuguesa, sem esquecer Camões e as traduções de Cervantes e Shakespeare, assim como importantes obras de Filosofia e os grandes pensadores do Brasil.

Com vocação para os estudos jurídicos, ingressou em 1949, na Faculdade de Direito do Piauí, alcançando o grau de bacharel no final de 1952, com pouco mais de 30 anos de idade. Em pouco tempo, por via de concurso público, emprega-se no cargo de procurador autárquico do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), hoje Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), no qual alcançou a aposentadoria. Desde então, inscreve-se na OAB, iniciando sua longa carreira de advogado. Porém, também seria aprovado em concursos públicos para os cargos de Juiz de Direito, Promotor de Justiça e Auditor Federal, os quais não chegou a assumir.

Desde 1945, para manter-se nos estudos, ingressou no magistério como professor do Colégio “Demóstenes Avelino”, levado pelo jovem mestre Amandino Teixeira Nunes, que ali lecionava. Naquele ano, também ali ingressou, como professor de Português, o professor M. Paulo Nunes, seu contemporâneo no Colégio Diocesano, fortalecendo uma amizade que durou por toda a vida. Naquela escola de ensino secundário, Celso Barros Coelho não demorou a enamorar-se da jovem Maria de Lourdes Freitas, filha do diretor-proprietário Felismino de Freitas Weser, com quem contraiu matrimônio, gerando três filhos, hoje todos bem situados na vida profissional[3]. Permanecendo no magistério, em 1958, vai lecionar a disciplina de Latim na Escola Normal “Antonino Freire”, vencendo o certame com a tese Da poesia latina na época de Augusto. Nesse tempo, assume as cátedras de Literatura Latina e Literatura Portuguesa na recém-fundada Faculdade de Filosofia do Piauí.

Em 1967, depois de lograr êxito em concurso público, assume a cátedra de Direito Civil da Faculdade de Direito do Piauí, a mesma em que se formara, depois integrada à Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde alcançou a aposentadoria compulsória em maio de 1992. Foi admitido por alguns anos como professor visitante na Universidade de Brasília (UnB); ali, ministrando a disciplina Direito Civil. Lecionou também nos cursos de Pós-Graduação da Escola de Magistratura do Estado do Piauí (ESMEPI) e Escola de Advocacia do Piauí (ESAPI), em cujas oportunidades fomos seu aluno. O Prof. Celso Barros fez nome no magistério piauiense, sobretudo no ensino jurídico, pela profundidade e segurança com que explanava as grandes teses jurídicas. Para ele, “o Direito Civil assume a primazia entre os demais ramos do Direito, por ser o mais ligado à pessoa humana, na sua individualidade e personalidade”[4]. Costumava ensinar que os advogados em início da carreira profissional devem seguir o exemplo dos mais velhos e experientes, entregando-se à leitura permanente para compreenderem o Direito e a grande responsabilidade que assumem perante a sociedade e os interesses populares[5].

Mesmo exercendo o magistério com paixão e entusiasmo, outra grande vocação foi a advocacia, em cuja atividade permaneceu em pleno exercício até à atualidade, por 70 anos. Civilista de largos recursos, ético e seguro, constitui-se num símbolo autêntico da advocacia piauiense, uma referência para todos nós. Nos anos de chumbo da ditadura militar, embora com seus direitos políticos injustamente cassados, presidiu a seccional piauiense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PI) pelo período de onze anos, com pequenos interregnos, entre 1963 a 1974[6], transformando-a em trincheira da resistência democrática em terra mafrensina.

O senso de justiça, a intransigente luta pela liberdade e pela redenção dos povos, ele canalizou para a atividade política, outra de suas grandes vocações, militando com destaque no Partido Democrático Cristão (PDC), no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e em seu sucedâneo, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), em cuja legenda ainda permanece, tendo se afastado em breve interregno, por divergir de algumas ações então praticadas. Orador brilhante, de inteligência privilegiada, com exuberante cultura jurídica e humanística, Celso Barros empolgou as multidões em grandes comícios populares, sendo sempre bem votado na Capital e nas principais cidades do Piauí. Elegeu-se deputado estadual em 1962 e deputado federal em duas legislaturas (1975 – 1979 e 1983 – 1987). Na Câmara Federal, sua atuação foi das mais significativas e marcantes, participando ativamente dos grandes debates de interesse da nação. Estando então em evidência a elaboração de um novo Código Civil, o jurista e deputado Celso Barros foi convidado para relatar a parte concernente ao Direito das Sucessões, no que se houve com distinção.

Com a criação do Estado do Tocantins na Constituinte de 1988, foi convidado pelo novo governador Siqueira Campos, para ajudá-lo a implantar a nova unidade federativa, em cuja tarefa trabalhou assiduamente, responsabilizando-se pela elaboração do anteprojeto das principais leis.

Intelectual irrequieto, portador de vasta cultura, apreendida em longas horas de estudo, Celso Barros Coelho é autor de mais de uma dezena de livros, nos quais mostra a força de sua inteligência e a vastidão de seu conhecimento jurídico, entre os quais: Imunidades parlamentares (1964), O direito como razão e como história (1977), Jurisprudência como norma jurídica (1982), Confronto de ideais (1997), Darcy Ribeiro – educador e antropólogo (1997), Apelo aos valores (2003) e Perfis paralelos – juristas (2016), além de colaborador de dezoito verbetes na Enciclopédia Saraiva de Direito.

Para essas notas, vamos destacar Perfis paralelos. Nele, o intelectual estuda em quinze ensaios a vida, a obra, o pensamento, as ideias, a formação intelectual e a ideologia de importantes juristas de nossa pátria, enfocando a contribuição que deram à ciência do Direito. Talvez, essa obra seja inspirada nas Figuras do Direito, de San Tiago Dantas, a quem enaltece as características de civilista, político e humanista preocupado com a educação jurídica nacional. Enfoca em San Tiago Dantas, a preocupação com “a verdadeira formação jurídica, aquela que formará juristas para as tarefas da vida social”, “colocando o estudante não em face de um corpo de normas, de que se levanta uma classificação sistemática, como outra história natural, mas em face de controvérsias, de conflitos de interesses em busca de solução”. Acrescenta à sua leitura: “Só desse modo a educação jurídica poderá conceituar com clareza o seu fim, que é formar o raciocínio jurídico e guiar o seu emprego na solução de controvérsias”. Finalizando, afirma San Tiago no recorte de Barros: “O estudo das normas e instituições constituem segundo objetivo, absorvido no primeiro, e revelado ao longo do exame e discussão dos problemas”. Portanto, nesses estudos jurídicos Celso Barros Coelho vai buscar em seus biografados características que também realçam seu pensamento como professor e pensador da ciência jurídica com larga folha de serviços prestados à vida pública nacional.

Seus ensaios não são mero ajuntamento de datas e fatos, ao contrário, constituem-se oportunidade para acompanhar a formação intelectual e o legado de juristas do porte de Rui Barbosa, Paulo Bonavides, Francisco Amaral, Caio Mário da Silva Pereira, Washington de Barros Monteiro, Orlando Gomes, Coelho Rodrigues, Sousa Neto, Wilson Brandão, Cláudio Pacheco, San Tiago Dantas, Miguel Reale e Gérson de Britto Mello Bozon. Realça em cada um caraterísticas que ele próprio professa e que procura seguir como objetivo de vida em sua marcha como homem público e pensador da ciência e dos destinos da pátria.

Roberto Rosas, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade do Brasil, lembra que Celso Barros “é uma figura formada em humanidades, no sentido literal da palavra”; que “sua contribuição, assim, para o mundo acadêmico é reverberante”, “transitando entre a atividade política e a jurídica, como muitos outros bons juristas que querem ajudar a construir a legislação que ajudarão a fazer cumprir”, jamais se afastando “da docência querida e das publicações literárias nas quais se aventurou desde a poesia, arte e literatura até as críticas, análises e história”[7].

Na Academia Piauiense de Letras, ingressou no ano de 1967, onde até há pouco foi assíduo frequentador, dando tom ao debate acadêmico, ao lado de seu saudoso colega M. Paulo Nunes e alguns outros de sua geração literária. Presidiu o sodalício no período de 1998-1999, promovendo importantes realizações, como publicação de livros, lançamento de coleções e realização de ciclos de debates e conferências. Pertence a diversas outras instituições culturais, a exemplo do Instituto dos Advogados Brasileiros, Academia Piauiense de Letras Jurídicas e Instituto Luso-Brasileiro de Direito Comparado. Como reconhecimento por sua contribuição ao magistério, à advocacia e ao parlamento, recebeu diversas homenagens e condecorações.

Preocupado com a terra de nascença, em 2005, fundou a Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons, visando difundir cultura entre seus conterrâneos. Desde então promoveu ciclo de debates, a edição de livros e de um jornal literário, às suas expensas.

Celso Barros Coelho, estimado mestre de gerações, é nome de referência na política, no magistério, na literatura e na advocacia piauiense. Foi uma honra sermos seu aluno na escola formal, e ainda continuamos a sê-lo fora da escola. Com muito orgulho sentamos ao seu lado, como um de seus pares na Academia Piauiense de Letras.

Celso Barros – Tempo e Memórias Políticas

(*) Elmar Carvalho

Não pude comparecer à solenidade de lançamento do livro Política – Tempo e Memória, da autoria de Celso Barros Coelho, ocorrida no dia 8 de maio, a partir das 19:30 horas, como muito gostaria, em virtude de que na mesma data e horário foi lançado o meu livro Confissões de um juiz, em Parnaíba, em evento organizado pelo SESC-PI, ao qual sou grato. Soube, no entanto, que foi uma grandiosa festa literária, abrilhantada pelos discursos do autor da obra, do jornalista e escritor Zózimo Tavares e do empresário e ex-deputado federal Jesus Elias Tajra. Os dois últimos fizeram a apresentação e o prefácio, que ornam e enriquecem essas notáveis memórias.

Conheço o Dr. Celso desde o meado da década de 1980, quando eu exercia o cargo de fiscal da extinta Sunab, que funcionava no prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda, e, portanto, ficava perto de seu escritório, que na época era instalado em prédio situado na rua Álvaro Mendes, por detrás das Lojas Pernambucanas. Depois amiudamos nossa amizade e convivência, quando passei a integrar os quadros da Academia Piauiense de Letras, a partir do dia 19 de novembro de 2008. Foi ele quem nela me recebeu com belíssimo discurso, enfeixado no opúsculo A casa no tempo, de nossa autoria, minha e dele.

Em 19 de maio de 2006, na mesma solenidade em que recebi o honroso título de Cidadão Parnaibano, através de projeto de autoria do vereador João Batista Veras, então presidente da Augusta Câmara Municipal de Parnaíba, lancei o meu livro Lira dos Cinqüentanos, comemorativo, como o nome indica, de meu meio século de vida, cujo discurso de apresentação foi proferido por Celso Barros Coelho, a meu ver o maior orador vivo e o melhor que já conheci, em todos os aspectos, inclusive, voz, entonação, postura e conteúdo. Infelizmente, essa cintilante peça da retórica literária piauiense terminou se perdendo no meio dos papéis de seu autor, o que até hoje lastimo. Almejo que algum dia ela venha a ser encontrada, e assim possa ser publicada.

Ao retornar de Parnaíba, logo na segunda-feira, dia 11, pela manhã, tratei de ir ao escritório do Dr. Celso para adquirir o seu livro. Portanto, no corrente ano, já foram entregues ao público piauiense três livros de memórias: o dele, o do romancista, contista e advogado Ribamar Garcia, titulado “E depois, o trem”, e o deste cronista. Sem a menor sombra de dúvida, os dois primeiros são obras da mais alta relevância literária, e podem ser colocados entre os melhores desse gênero.

Política – Tempo e Memória, além de narrar os principais fatos e atos de sua rica trajetória política, também termina por expor outros episódios notáveis ou interessantes de sua vida, alguns remontando à sua meninice e juventude. Além de ter muito que contar, soube fazê-lo em diamantino e lapidar estilo, de frases elegantes, contudo concisas e claras, em que a beleza muitas vezes se reveste de genuína simplicidade.

O livro me revelou o que eu já aquilatava de sua personalidade, através de nossas conversas e da leitura de outros textos de sua lavra. Transparecem em suas páginas a ética e a cidadania do memorialista. Mesmo diante de perseguições e percalços, manteve a sua coerência e os seus princípios morais, sem se curvar às injunções circunstanciais da baixa política e sem lançar mão de oportunismos, que o momento ditatorial poderia ensejar ou suscitar.

Eventualmente traído por correligionários e “amigos”, que fraquejaram nos primeiros acenos da adversidade, optou por não conspurcar o seu mandato de deputado estadual, preferindo vê-lo cassado no dia 8 de maio de 1964, a ver manchada a sua biografia de homem público e de cidadão. Preferiu manter-se fiel a si mesmo e ao seu ideário de democracia e de liberdade, e à sua opção pelos mais pobres e mais humildes.

Em seus dois mandatos de deputado federal, que veio a exercer, participou de várias e importantes comissões, sobretudo as que tratavam de assuntos jurídicos e culturais. Teve a oportunidade de prestar relevantes serviços à legislação pátria, na condição de relator de importantes projetos, que se converteram em paradigmáticos diplomas legais, que lhe imortalizaram como jurista e legislador. Mesmo não tendo sido parlamentar constituinte, prestou notável contribuição à Constituição Federal de 1988, através de participação nos debates de convocação da Constituinte.

Em suas memórias, elucida e ilumina fatos e atos (e até mesmo omissões), da história do Piauí, sobretudo do início da década de 1960 a esta parte. Conquanto de forma sintética, delineia os perfis de importantes figuras políticas do Brasil e do nosso estado, registrando-lhes não apenas fatos e dados biográficos, mas traçando-lhes o retrato espiritual, fixando-lhes as ideias e virtudes, e eventualmente as fraquezas, ainda que circunstanciais ou momentâneas. Alguns desses perfis são antológicos, pela emoção e pela beleza que transmitem, pela captação do momento solar dessas personalidades.

Celso Barros Coelho poderia ter mantido o seu mandato de deputado estadual, injustamente cassado pela ditadura militar. Acenaram-lhe com essa possibilidade. Mas, como dito, ele preferiu não corromper o seu mandato. Optou por ser um legítimo “ficha limpa”, guardião da democracia, da liberdade e da cidadania. Não vendeu os correligionários, e nem tampouco se vendeu. Não expôs o seu mandato, que lhe foi outorgado pelo povo, em balcões de negócios espúrios.

Teve a “loucura” de se manter fiel a si mesmo e a seu ideário político e humanista. Buscou a grandeza da Política com P maiúsculo, e não as bijuterias, benesses e ouropéis da politicanalhice, sabedor, como o poeta Fernando Pessoa, de que “Sem a loucura que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”   

(*) Poeta e membro da Academia Piauiense de Letras.

Academias promovem intercâmbio cultural

Livros de vários autores publicados pela Academia Maranhense de Letras foram doados à Academia Piauiense de Letras.

O presidente da AML, Lourival Serejo, fez a entrega das obras ao presidente da APL, Zózimo Tavares, e aos acadêmicos Fonseca Neto e Felipe Mendes.

Os três acadêmicos piauienses participaram de sessão da Academia Maranhense de Letras no último dia 13.

Na ocasião, o acadêmico Fonseca Neto lançou o seu livro “Pátinas do Tempo”, tese de doutorado que tem como objeto de estudo o Patrimônio Histórico e Cultural de São Luís.

A APL também fez a doação de obras de autores piauienses à AML, inclusive a segunda parte da Coleção Centenário.

A primeira parte desta coleção foi entregue à Academia Maranhense de Letras pelo então presidente Nelson Nery.

O presidente da APL disse que o encontro entre as duas Academias fortalece ainda mais os laços culturais que existem entre o Piauí e o Maranhão.

(Imagens: Luciano Klaus)

Secretário de Educação recebe acadêmicos

O secretário de Educação, Washington Bandeira, garantiu que vai fortalecer as políticas para implantação do ensino de Literatura Piauiense nas escolas da rede estadual de ensino.

O compromisso foi assumido ao receber em audiência a Diretoria da Academia Piauiense de Letras, no final da tarde desta quarta-feira (19/07).

O secretário disse que ele e sua equipe trabalham para o cumprimento das normas legais que tratam da questão, a partir da Constituição do Piauí.

Ele disse que a Seduc, para alcançar esse objetivo, dará atenção também à formação de professores e gestores e adotará estratégias para levar a Literatura Piauiense às escolas.

A APL se colocou à disposição da Secretaria de Educação para apoiar as políticas de implementação do ensino de Literatura Piauiense.

O secretário Washington Bandeira recebeu os acadêmicos acompanhado da superintendente de Ensino da Seduc, Viviane Fernandes Faria, e do superintendente de Gestão, Rodrigo Torres.

A Academia se fez representar na audiência pelo seu presidente, Zózimo Tavares; a secretária geral, Fides Angélica, e o 1º secretário, Fonseca Neto, além dos acadêmicos Carlos Evandro, Elmar Carvalho, Felipe Mendes e Nelson Nery (ex-presidente).

A Literatura Piauiense a Lei

O presidente da APL informou que Literatura Piauiense como disciplina obrigatória está prevista na Constituição do Piauí (parágrafo 1º do Inciso V do Art. 226); Emenda Constitucional nº 9, de 17 de dezembro de 1999, aprovada e promulgada, portanto, dez anos depois da Constituição do Piauí; e Lei Estadual nº 5.464/2005, “que institui a obrigatoriedade o Ensino de Literatura Brasileira de Expressão Piauiense no Ensino Fundamental e Médio, nas escolas das redes pública estadual e privada, no Estado do Piauí”.

Também ratifica essas regras legais a Lei 6.563/2014 (Lei Merlong Solano), que dispõe sobre a adoção de livros paradidáticos pelas escolas públicas e privadas do Piauí. Esta lei fixa que pelo menos 30% dessas obras devem ser de autores piauienses.

De acordo ainda com o presidente da APL, outro instrumento que reforça estas políticas é a Lei nº 7.323/2019 (Lei Evaldo Gomes), dispondo sobre a obrigatoriedade de questões de conhecimentos regionais nas provas de concurso público promovido pelo Governo do Estado do Piauí.

Novo currículo

A Resolução 124/2020 do Conselho Estadual de Educação, com as diretrizes para o currículo do Novo Ensino Médio, também cuida do assunto. O seu Artigo 7º, que trata especificamente Formação Geral Básica, a Resolução define, no parágrafo 4º: “Os estudos de Língua Portuguesa devem incluir o ensino de literatura brasileira de expressão piauiense, nas escolas das redes pública estadual e privada, no Estado do Piauí, em obediência à Lei Estadual nº 5.464/2005 e Resolução CEE/PI nº 11/2009”.

Secretário de Educação com membros da APL.

TJ do Maranhão homenageia Celso Barros

O falecimento do jurista e acadêmico Celso Barros Coelho, no último dia 10, aos 101 anos de idade, foi registrado e lamentado no Tribunal de Justiça do Maranhão e na Academia Maranhense de Letras.

O comunicado foi feito aos acadêmicos Zózimo Tavares, presidente da Academia Piauiense de Letras; Fonseca Neto, 1º secretário, e Felipe Mendes, pelo presidente da AML, Lourival Serejo.

O presidente da Academia Maranhense de Letras é também desembargador e presidiu o Tribunal de Justiça do Maranhão até dezembro do ano passado.

Ele informou que as homenagens à memória de Celso Barros foram prestadas a partir de manifestação do desembargador Vicente Gomes de Castro, ex-vice-presidente da Corte.

A memória de Celso Barros foi reverenciada também pelos acadêmicos presentes à sessão da AML realizada no último dia 13, com a presença dos representantes da APL.

Celso Barros era maranhense de Pastos Bons. Veio morar em Teresina ainda adolescente, para estudar no seminário.

Formou-se em Direito, foi professor e destacou-se no magistério, na advocacia e na política.

Presidiu a OAB-PI, foi deputado estadual (cassado pelo regime militar de 1964) , elegeu-se deputado federal e presidiu a Academia Piauiense de Letras.

Folha de S. Paulo destaca trajetória de Celso Barros

O jornal Folha de S. Paulo destaca, em sua edição de hoje (18/07) a trajetória de vida e profissional do jurista, professor e acadêmico Celso Barros Coelho, falecido no último dia 10, aos 101 anos de idade.

Na seção obituário, relativa a julho, o jornal apresenta Celso Barros como “Cassado na ditadura” e “o mais respeitado jurista do Piauí”.

Conforme ainda a Folha, “Celso Barros Coelho saiu adolescente do sertão do Maranhão, na década de 1930, para se tornar uma referência no direito brasileiro”.

Eis o texto na íntegra, assinado pelo jornalista Tulio Kruse:

SÃO PAULO – A travessia pelo rio Parnaíba, aos 16 anos, mudou tudo na vida de Celso Barros Coelho. O ano era 1938 e ele viajava da pequena Pastos Bons, no interior do Maranhão, para Teresina, no Piauí, seguindo o curso do rio que separa os dois estados.

Não fosse aquela viagem, não se tornaria seminarista na capital nem seria professor na Escola Normal Antonino Freire, provavelmente não estudaria na Faculdade de Direito do Piauí e, talvez, não se transformasse no jurista mais ilustre do estado.

Àquela altura, o mais velho de cinco irmãos já era órfão de pai. O convite para estudar em Teresina partiu de uma amiga da família, que quando visitava Pastos Bons encontrava o menino sempre lendo no balcão do comércio em que trabalhava.

Sete anos depois, ao fim do curso no seminário, veio um convite do Vaticano para continuar os estudos religiosos em Roma. Profundamente dividido, acabou recusando a oportunidade. Ele seguiria como professor e advogado, se casaria com a filha do dono da escola e abandonaria a batina.

Nas décadas de 1950 e 1960, os tribunais de júri comoviam a população das cidades e eram transmitidos ao vivo pelo rádio. Barros tornou-se célebre por casos em que atuou como advogado e elegeu-se deputado estadual em 1962.

Quando veio o golpe militar de 1964, a tendência era que ele fosse poupado da cassação. O comandante do Exército em Teresina era seu vizinho, e ele era um bem relacionado presidente da seção estadual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Amigos aconselharam manter silêncio e o mandato.

Barros foi à tribuna e fez um discurso irritado contra os militares. Ele e outros colegas acabaram cassados com um adendo à lista original.

Ele ainda seria deputado federal por dois mandatos no início da abertura política, nas legislaturas de 1974 e 1983. Em 1978, foi o candidato mais votado do Piauí, mas não foi eleito por falta de coeficiente eleitoral. As oito vagas do estado ficaram com o Arena, que dava sustentação ao regime militar.

No Congresso, Barros legislou sobre temas que marcaram transformações no cotidiano brasileiro, como relator das regras do direito de sucessão no Código Civil, a Lei de Execuções Penais e contribuindo para a redação da Lei do Inquilinato e a regulamentação do divórcio.

Permaneceu um leitor compulsivo por toda a vida, acompanhado de livros e jornais enquanto assistia a jogos de futebol na TV ou à mesa durante o almoço.

Nos últimos meses, pensava no pai que morreu aos 34 anos. “Nas nossas últimas conversas ele questionava por que a vida é assim, que alguns duram tanto e outros duram tão pouco. Foi uma pergunta que meu avô não conseguiu responder”, contou Celso Barros Coelho Neto, hoje presidente da OAB-PI.Barros morreu aos 101 anos, no último dia 10, e deixou quatro filhos e 12 netos.”

Reprodução Folha de S. Paulo.