Piauí celebra o centenário de Wilson Brandão

A primeira edição do Seminário Parlamento e Cultura será dedicada à celebração do centenário de nascimento do professor, deputado e acadêmico Wilson Brandão.

A abertura do evento será feita nesta terça-feira (17/10), às 19h, no Salão Nobre Deputada Francisca Trindade, na Assembleia Legislativa.

A Academia Piauiense de Letras e a Academia Piauiense de Letras Jurídicas, bem como o Instituto Presente, associaram-se à Escola do Legislativo Professor Wilson Brandão na realização do evento.

O objetivo do seminário é resgatar a história e as contribuições de parlamentares da Assembleia Legislativa do Piauí para a educação e a cultura piauienses.

A iniciativa tem ainda a finalidade de difundir junto à sociedade, aos estabelecimentos de ensino, associações culturais e aos órgãos dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo o legado das personalidades homenageadas.

O programa

As atividades do Seminário serão desenvolvidas durante dois dias, sempre a partir das 19h.

Nesta terça-feira, após a abertura oficial, o professor e sociólogo Antônio José Medeiros, ex-secretário de Educação e presidente do Instituto Presente, fará a palestra “Wilson Brandão e a Geração de 45”.

Em seguida, o acadêmico e professor Fonseca Neto, 1º secretário da Academia Piauiense de Letras e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, fala sobre “Wilson Brandão, o historiador”.

Outras duas palestras sobre o homenageado serão proferidas na quarta-feira (18).

A advogada e professora Fides Angélica, secretária geral da APL, abordará o tema “Wilson Brandão, o jurista”.

O encerramento do seminário se dará em seguida com a palestra “Wilson Brandão, o político”, a cargo do deputado, historiador e acadêmico Wilson Brandão, filho do homenageado.

Bonum certamen certavi (Combati o bom combate)

Jonathas Nunes (*)

Teresina amanheceu diferente. Prenúncio de maus presságios. Ontem a noite, antes que os primeiros sinais do quatorze outubriano aparecessem, me veio à mente, música repassada de saudade que a religiosidade de minha mãe repetia entre as paredes do vetusto casarão florianense: “…Desce a noite, foge a luz!…Quero agora despedir-me, boa noite meu Jesus!”

A ausência prolongada me levou, com rapidez instantânea, a ver que aquela poderia talvez ser a última noite entre nós do Mestre Paulo Nunes. E a cristandade que me perdoe, mas transformei o final da canção na pré-despedida do amigo de tantas jornadas: “……boa noite… Comandante Paulo  Nunes”.

Conheci este notável cultor do idioma pátrio, ainda nos idos de sessenta. Em meio à vaga nacionalista que varria o Brasil daqueles dias, sempre nas férias escolares me encontrava com Paulo Nunes em Teresina. Este era então assunto recorrente. Quase sempre na praça Pedro II e suas imediações.

Na ativa do exército, Paulo Nunes terá sido das primeiras pessoas a me falar em Nacionalismo e na Defesa intransigente da Petrobrás. A convite dele, ministrei, como tenente,  palestra na então Faculdade de Direito do Piauí, sobre os chamados “Acordos de Roboré”, à época considerados lesivos ao país.

Tempos depois vi e acompanhei, à distância, sem nada poder fazer, a luta incansável do educador Paulo Nunes pela permanência da Faculdade de Direito do Piauí na estrutura da novel Universidade Federal mafrense. Suas ideias avançadas na defesa da educação humanística e científica o afastaram da escolha para ser o primeiro Reitor da Universidade Federal do Piauí. Sentinelas avançadas do obscurantismo político  no meio educativo e cultural daqueles anos, mantiveram o ícone da crítica literária piauiense sempre sob reserva.

Tempos após, através de Paulo Nunes, a UESPI, quando era Reitor, pôde celebrar convênio de cooperação com a APL, e mensalmente tínhamos reuniões regulares no espaço acadêmico uespiano com os confrades da APL.

Certa feita, relembro agora, com saudade, na Reitoria da UESPI, perguntei a Paulo Nunes se ele achava que eu deveria pleitear uma vaga na APL. Respondeu-me de forma mansa e educada, como era de seu feitio: “Jonathas, acho que você deve pleitear uma vaga; conheço alguns de seus trabalhos no Congresso Nacional. Mas, eu lhe daria o seguinte conselho: antes de se candidatar, procure reunir, em livro, os seus trabalhos no Congresso.” Entendi tudo.

A intervenção do grande Mestre nas reuniões semanais da Academia tinha sempre para todos nós, acadêmicos, o tom elevado da Eneida de Virgílio : “conticuere omnes, intentique ora tenebant”. “Prendia a atenção de todos, e, em silêncio, todos se mantinham”. 

A Ditadura Militar de 1964 foi instaurada no Brasil precisamente para tentar impedir que luminares das Letras e da Cultura como Paulo Nunes pudessem servir de farol e guia das novas gerações de brasileiros. Tentaram empurrar Paulo Nunes para o fosso do anonimato.  Seu livro, Geração Perdida, retrata com maestria, a grandeza de espírito daquele jovem “Manoel,” filho do povo humilde da terra mafrense. Jovem Manoel que ao longo da vida  se transformaria no Paulo Nunes, ícone da Crítica Literária  lusófona. Mais que isso, no Paulo Nunes,  bandeirante dos novos horizontes da Literatura piauiense.

Sei ser difícil doravante, imaginar: a  APL  sem  Paulo  Nunes, e  Paulo Nunes sem a  APL.

Se tivéssemos, no entanto,  o condão de imaginar as últimas palavras de PAULO NUNES antes da partida, certamente bem poderiam ser essas:

“…. Colegas, ao longo da vida fui crítico literário.

– Se quiserem honrar minha memória, nos próximos cem anos da APL,  peço incluir a obrigatoriedade de que seja procedida apresentação e prévia votação de resumo crítico-literário da obra que venha a ser apresentada  para efeito de concurso para vaga aberta na APL. Se não for pedir muito, gostaria que meu substituto na APL passasse por esse tipo de crivo. Estarei me remexendo de alegria, no túmulo, se este pedido for acatado.”

Colegas Acadêmicos, ao fim e ao cabo, revendo e relendo esta passagem de dois anos atrás, vejo como nossa APL foi feliz ao cumprir na íntegra, o pedido de PAULO NUNES, ao eleger este Acadêmico de escol, CRÍTICO LITERÁRIO  de alto nível, CARLOS EVANDRO EULÁLIO. Companheiro presente em todos os momentos deste Sodalício, que tendo o nome de ACADEMIA PIAUIENSE DE LETRAS – APL, poderia também ser batizado com o nome de – ACADEMIA DE PAULO NUNES – APN.

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(*) Membro da APL, onde ocupa a Cadeira 2.

Congresso reúne Academias Estaduais de Letras em Campo Grande

Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, será a capital brasileira da literatura nos dias 19 e 20 deste mês, com a realização do Congresso Brasileiro das Academias Estaduais de Letras 2023.

O evento está sendo organizado pela Academia Sul-Mato-Grossense de Letras – ASL e vai reunir mais de 20 Academias Federativas, com a participação da Academia Brasileira de Letras – ABL.

A literatura no Brasil e a importância das Academias Estaduais de Letras para o incentivo às atividades da educação, leitura e literoculturais, bem como suas inter-relações e aproximação com a ABL, serão alguns dos temas a serem abordados.

A abertura será no Bioparque Pantanal, às 9h do dia 19.

A Academia Piauiense de Letras será representada pelo seu presidente, Zózimo Tavares.

Um escritor piauiense, o poeta Altevir Alencar, também membro da APL, integra a ASL. Ele morou no Mato Grosso do Sul e foi prefeito do município de Nioaque, no final de década de 1970, e secretário estadual de Cultura, de 1983 a 1985.

Segundo o presidente da ASL, Henrique de Medeiros, “a realização de um encontro para maior integração nacional das Academias Estaduais de Letras é muito importante para a cultura do país e vem sendo aguardada pelos acadêmicos há um certo tempo”.

O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul patrocina o evento, por ação do governador Eduardo Riedel, através da Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania – SETESCC e da Fundação de Cultura do Estado.

(Com informações da Assessoria da ASL)

Concurso da Assembleia terá questões de Literatura Piauiense

O edital do concurso da Assembleia Legislativa, lançado no último dia 10, exige dos candidatos conhecimentos sobre literatura, história e geografia do Piauí.

O lançamento do edital foi feito pelo presidente da Assembleia, Franzé Silva, em ato realizado no Salão Nobre e que contou com a participação de diversos outros parlamentares.

A inclusão de questões de conhecimento regionais no concurso foi solicitada ao presidente da Assembleia pela Academia Piauiense de Letras.

Valorização

O presidente da APL, Zózimo Tavares, afirmou que a decisão da Assembleia valoriza a literatura piauiense, incluindo história e geografia.

Também cumpre a Lei Estadual nº 7.323/2019, de autoria do deputado Evaldo Gomes, dispondo sobre a obrigatoriedade de questões de conhecimentos regionais nas provas de concurso público promovido pelo Governo do Estado do Piauí.

Esta lei, conforme o presidente da APL, tem a finalidade justamente de reforçar as políticas de valorização da literatura piauiense, em seu sentido mais amplo, e não apenas a ficção.

O concurso

O novo concurso da Assembleia, o segundo de sua história, destina-se ao preenchimento de 201 vagas. 

O presidente da Assembleia informou que está em estudo um novo concurso focado para a área da segurança. 

As inscrições estão abertas até 9 de novembro no endereço eletrônico https://concurso.idecan.org.br/Concurso.aspx?ID=89

Os valores das inscrições estão fixados em R$ 100 para nível médio e R$ 130 para nível superior. 

Fazem parte da Comissão Organizadora os servidores Marcos Patrício Nogueira, procurador, Nayara Suyanne Soares e Samuel Campos, consultores legislativos especializados. 

(Com informações e imagem da Alepi)

APL, IHGP e CEC se unem pelo tombamento de capela do sertão

A comunidade Ponta da Serra, de casas dispersas nos contrafortes da Serra de Dois Irmãos, município de Dom Inocêncio, no coração do semiárido piauiense, tem um tesouro arquitetônico de grande valor histórico – a Capela de Nossa Senhora da Conceição.

A construção, supostamente edificada no final do século XIX, foi restaurada com recursos de compensação ambiental (e comprometimento social) da empresa ENEL Green Power, que implanta na região um grande projeto de energia eólica, no alto da Serra, cujo acesso só é possível mediante a construção de estradas para permitir que as enormes carretas levem os equipamentos das torres até o topo, desenhando novos elementos na paisagem seca do sertão, já na divisa com a Bahia.

As obras de restauro da Capela foram realizadas por uma equipe de arqueólogos e pesquisadores, sob a direção da geóloga e arqueóloga Suzana Hirooka.

Tombamento

A Academia Piauiense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e o Conselho Estadual de Cultura iniciaram entendimentos com vistas ao tombamento da Capela de Nossa Senhora da Conceição, situada a 90 quilômetros do município de Dom Inocêncio e a 700 quilômetros de Teresina.

A capela foi visitada e fotografada no último dia 28 de setembro pelo acadêmico Felipe Mendes, que estava em companhia do escritor Marcos Damasceno.

Conforme pesquisa do escritor e acadêmico Reginaldo Miranda, a capela foi construída em 1870, pelo frei Henrique José Cavalcante.

Museu

Uma escola municipal, próxima da capela, encontra-se fechada, e os estudantes da comunidade deslocam-se para uma escola distante 4 km, já no município de Lagoa do Barro.

Entre a foto antiga e as recentes, vê-se uma construção anexa, onde funciona um pequeno museu, com peças recolhidas no local das obras de restauro, bem como uma recepção do Instituto Ponta da Serra.

O anexo foi feito pela Fundação Ruralista, uma iniciativa do Padre Manoel Lira Parente, que realizou notáveis serviços à população da região, por meio da Fundação Ruralista, por ele criada.

Documentação

Sobre a Capela, o acadêmico Nelson Neri Costa, presidente do Conselho Estadual de Cultura, já firmou compromisso para coordenar os trabalhos que venham resultar em seu tombamento, mediante decreto governamental, para o que também haverá o concurso do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí, presidido pelo acadêmico Antônio Fonseca Neto.

O acadêmico Reginaldo Miranda, por sua vez, já iniciou pesquisas em documentação primária para buscar registros da data de sua construção.

O presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares, afirmou que é importante preservar as linhas arquitetônicas e a história da capelinha perdida nos Sertões de Dentro do Piauí.

(Imagens: Felipe Mendes)

Piauí lança pacto pela redução de acidentes no trânsito

O Pacto Intersetorial pela Redução de Mortes no Trânsito no Piauí foi lançado nesta terça-feira (10/10), no Palácio do Karnak.

O programa tem como meta a redução do número de mortes no trânsito em 50% até 2030.

A iniciativa reúne setores da sociedade e órgãos governamentais para a promoção da educação, fiscalização, infraestrutura viária e conscientização da população para redução dos índices de mortes nas ruas e estradas.

O pacto também prevê a criação de uma plataforma estadual de informações sobre acidentes, que permitirá o monitoramento constante da situação e a adoção de medidas mais eficazes para a redução dos índices de violência no trânsito.

Principais metas:

– Reduzir os óbitos causados por acidente de trânsito no Piauí;
– Melhorar os índices relativos aos acidentes de trânsito do Piauí em relação aos demais estados da federação;
– Aumentar o número de municípios piauienses com o trânsito municipalizado;
– Aumentar o número de pessoas aptas e legalizadas a conduzirem veículos;
– Aumentar o número de pessoas conscientes sobre as regras de trânsito seguro;    

(Com informações e imagem da CCom-PI)

“Parábolas do Reino de Deus” – de  FMM

Carlos Evandro M. Eulálio

Na obra “Ofício de Escrever”, do renomado Frei Beto, há um capítulo em que o autor afirma o seguinte: “Já não faço prefácios de livros. Nem apresentações.” E justifica: “[…] Deixar de lado meu trabalho literário para ler obra alheia fora de meu campo de interesse, fazia-me perder o fio da meada.” (BETO, FREI, 2017, p.11). De minha parte, eu confesso: apresentar a obra de um escritor como Chico Miguel, mesmo que o seu conteúdo esteja fora do meu campo de interesse, longe de causar-me desconforto, constitui um privilégio e ao mesmo tempo a oportunidade de muito aprender com sua versada e profícua história de vida literária.

Início a apresentação das Parábolas do Reino de Deus, falando um pouco do autor. Francisco Miguel de Moura nasceu no lugar Jenipapeiro, município de Picos, atual cidade Francisco Santos, no dia 16 de junho de 1933.  Conta hoje com 90 anos de idade. Literariamente conhecido por Chico Miguel, é poeta, ensaísta, cronista, romancista, jornalista e crítico literário. Formado em Letras pela Universidade Federal do Piauí, é pós-graduado na Universidade Federal da Bahia. Sua estreia como poeta aconteceu em 1966 com a obra Areias. Esse livro retornou ao leitor em primorosa 2ª edição pela Editora Life, São Paulo, 2021. Além dessa clássica obra literária, suas demais poesias estão reunidas na obra “Poesia (in) Completa”, edição de 2016 da Academia Piauiense de Letras, na coleção Centenário, sob o nº 56. Em prosa, entre outras obras, é autor do romance Os Estigmas. Como ensaísta e crítico literário escreveu “Literatura do Piauí, de Ovídio Saraiva aos nossos dias”, livro da maior importância para a historiografia literária piauiense. Atualmente, como funcionário aposentado do Banco do Brasil, diz que se dedica exclusivamente a ler e a escrever. É o 5º e atual ocupante da cadeira nº 8 da Academia Piauiense de Letras. Não poderia omitir nesta resumida biografia do autor que ele é casado com D. Maria Mécia Morais Moura.  

Meu primeiro contato com a produção literária de Chico Miguel deu-se por meio da obra Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de Carvalho, quando eu cursava Letras na antiga Faculdade de Filosofia do Piauí, no início dos anos 1970. Considero um dos estudos mais completos de crítica literária sobre O. G. Rego.   

Hoje temos a oportunidade de conhecer uma outra vertente da criação literária do escritor Chico Miguel, ao trabalhar com o gênero ou discurso bíblico-religioso nas “Parábolas do Reino de Deus”. Como o próprio título anuncia, essa obra reúne as parábolas mais conhecidas de Jesus Cristo, aquelas que revelam verdades profundas e que tocaram a sensibilidade de Chico Miguel.

Ao narrar as Parábolas do Reino de Deus, Chico Miguel não se atém à simples tarefa de reescrevê-las, mas de interpretá-las do ponto de vista de alguém que vivencia com entusiasmo a palavra de Deus. Na apresentação do livro, ele expõe os motivos que o levaram a escrever a obra: “Quando comecei a reescrever ‘Parábolas do Reino de Deus’, contadas por Jesus Cristo, sem afastar-me do conteúdo que foi escrito originalmente pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, disse comigo mesmo que gostaria de fazer um trabalho que me agradasse, mas desejando, ardentemente, em primeiro lugar agradar a Deus” (MOURA, 2023, p.13).

Eis como Chico Miguel organiza o seu livro: nas páginas iniciais, escreve a biografia de Jesus em duas partes. Na primeira, fundamentado nos escritos dos evangelistas e numa vasta bibliografia, apresenta-nos o Cristo educador, na figura do mestre dos mestres que, aos 12 anos, já era muito admirado, “até causando espanto àqueles que interpretavam os textos sagrados, ali repetidos por Jesus.” Na segunda parte, intitulada “Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro”, o autor descreve o perfil de Jesus Cristo, a partir de suas ações, comportamentos e propostas.

Após a descrição biográfica de Jesus Cristo, inicia-se a narração das parábolas. Para tanto, o poeta recorre à paráfrase, recurso definido pelos linguistas e teóricos da linguagem como reescrita de um texto sem distanciamento de seu conteúdo temático, sendo uma espécie de tradução dentro da própria língua. Conforme Samir Meserani, são conhecidos dois tipos de paráfrases que se diferenciam pela forma como o texto original é recondicionado. O primeiro é apenas reprodutivo, reescreve quase literalmente o texto base. O segundo, desenvolvido por Chico Miguel nas Parábolas do Reino de Deus, é aquele de natureza criativa, porque “ultrapassa os limites da simples reafirmação ou resumo do texto original”, indo além da transcrição literal. Essa ultrapassagem do texto original, sem afastar-se da ideia central, decorre da sua dimensão intertextual, que reforça a heterogeneidade do texto parafrástico. Nessa modalidade, a paráfrase remete a outro texto que passa a constituir um novo discurso. Aludindo a outros textos, deles se aproxima em extensão. Nas palavras de Affonso Romano de Sant’Anna: “falar de paráfrase é falar de intertextualidade das semelhanças” (Sant’Anna (1985, p.28). Esse entendimento indica que a paráfrase é um mecanismo dialógico com novos sentidos, sempre acrescentando algo ao que já existe. Daí, ao reescrever as Parábolas do Reino de Deus, Chico Miguel constrói um novo discurso que, para efetivar-se, exigiu de si um exercício exaustivo de criatividade e reflexão.

Na reescritura das “Parábolas do reino de Deus” fica evidente o propósito didático de Chico Miguel, ao interagir com o leitor, chamando-lhe a atenção para que as fábulas “sejam lidas com cuidado, com amor e com fé” (MOURA, 2023, p.19). Nas várias passagens do livro, como na paráfrase da parábola “A figueira amaldiçoada”, o poeta nos dá esse testemunho de fé cristã, “como forma de merecer as graças de Deus.” Essa convicção é compartilhada com o leitor, como incentivo de afirmação dessa virtude teologal, com estas palavras: “Creio que a leitura deste trabalho sobre as ‘Parábolas do Reino de Deus’, reescritas para serem distribuídas aos que disponham reler aquilo que está na Bíblia, seja mais um incentivo de afirmação de nossa fé em Deus para sermos dignos de receber suas graças” (MOURA, 2023, p. 71).

Essa intenção didática de Chico Miguel é explícita no final de cada narrativa, quando ele esclarece o leitor sobre o sentido do texto que acabou de ler, além de contextualizá-lo em nosso tempo histórico e cultural. Para exemplificar, eis como reescreve o final da Parábola do Grão de Mostarda, uma das menores parábolas de Jesus que nos traz um grande ensinamento sobre a fé e o reino de Deus: “Como vimos, esta parábola é um claríssimo convite de Jesus aos homens para que sintam o espírito germinar (como a semente de mostarda), em verdade, beleza e bondade, nos seus corações, em busca da glória de Deus, e evitem entregar-se à ilusória potência do mal, aqui representada pelo tamanho das folhas da mostardeira (MOURA, 2023, p. 40). Esse método facilitador de leitura auxilia o leitor a compreender o aspecto simbólico ou alegórico de cada parábola. Este o grande mérito da obra Parábolas do Reino de Deus.   

Chico Miguel é um polígrafo da literatura piauiense. Se ele não vive dos ganhos da atividade literária, sempre teve a intenção de viver exclusivamente dela. Nos diversos escritos que põe em prática mostra domínio em tudo que escreve. O livro que hoje publica pela Entrelivros constitui excelente exercício de hermenêutica bíblica das Parábolas do Reino de Deus. Certamente, nos ajudará a compreender o que é essencial e profundo em suas passagens, com mais precisão e aplicabilidade à vida diária. Seus benefícios vão além do autoconhecimento, podendo estender-se também à convivência cristã em comunidade.   

                                  Capa do novo livro de Francisco Miguel de Moura/Reprodução

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* Carlos Evandro M. Eulálio, professor e crítico literário. É membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, segundo ocupante da Cadeira 38, tendo como patrono o poeta popular João Francisco Ferry.

REFERÊNCIAS 

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem, 5ª ed. São Paulo: Hucitec, 1990. 

BETO, Frei. Ofício de escrever. Rio de Janeiro: Anfiteatro, 2017.

 MESERANI, Samir. O intertexto escolar. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1995.

MOURA, Francisco Miguel de. Parábolas do Reino de Deus. Teresina: Livraria Nova Aliança, 2023.

SANT´ANNA, A. F. Paródia, paráfrase & Cia. 3.ed. São Paulo: Ática, 1985.

Cid Dias lança novo livro sobre obras do Piauí

“Piauí – Seus Engenheiros, Suas Obras” é o título do novo livro do engenheiro, professor e acadêmico Cid de Castro Dias.

No livro, o autor faz um regaste histórico das primeiras edificações da Província do Piauí, em Oeiras, e da nova Vila do Poti, sede da nova capital, bem como das grandes obras do século XX até os dias atuais.

Na apresentação da obra, o advogado e escritor Magno Pires, vice-presidente da Academia Piauiense de Letras, afirma que Cid Dias é “incansável criador e trabalhador literário”.

Também lembra que o engenheiro constrói seus textos com rigor técnico e linguístico apurados.

O autor observa que seu novo livro dá continuidade ao resgate da memória das principais obras públicas projetadas e construídas no Piauí e o trabalho de seus engenheiros.

Ele começa citando Enrico Antonio Galuzzi, formado em Engenharia Militar e especializado em Cartografia.

Galuzzi chegou ao Piauí em 1759, para trabalhar na administração de João Pereira Caldas, primeiro governante da Capitania.

Sua missão foi a de participar das tarefas de implantação da organização político-administrativa da nova Capitania.

O livro faz um inventário das principais obras públicas construídas no Piauí desde então, sendo ilustrado com rico acervo fotográfico.

“Apesar de técnico, torna-se de leitura fácil e agradável”, afiança Cid Dias, autor também de do livro “Piauhy – das origens à Nova Capital”.

O engenheiro Cid Dias ocupa a Cadeira 15 da Academia Piauiense de Letras.

Capa do novo livro do engenheiro e acadêmico Cid Dias.

Jesus Tajra é eleito para a Cadeira 39 da APL

O advogado, empresário e jornalista Jesus Tajra foi eleito, neste sábado (7/10), para a Academia Piauiense de Letras.

Ele vai ocupar a Cadeira 39, na sucessão do jurista e professor Celso Barros Coelho, falecido em 10 de julho passado, aos 101 anos de idade.

A cadeira tem como patrono o poeta José Newton de Freitas e Celso Barros foi seu primeiro ocupante. Jesus Tajra tem o prazo regimental de 90 dias para marcar a posse.

A Comissão Eleitoral foi presidida pelo acadêmico Reginaldo Miranda, que conduziu todo o processo até à apuração dos votos.

A proclamação do resultado foi feita pelo presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares.

Dos 39 votantes, 34 participaram da eleição. Jesus Tajra obteve 25 votos, o candidato Diego Mendes Sousa recebeu 6, a candidata Maria de Jesus Borges e Silva recebeu 1 e foram registrados ainda um voto nulo e outro em branco.

Após a comunicação do resultado, Jesus Tajra compareceu à Academia para agradecer sua eleição. Ele destacou a longa e profunda amizade com Celso Barros, tendo prefaciado seu livro de memórias, e o vínculo antigo com a Academia.

O presidente da APL agradeceu a visita e a participação de todos os acadêmicos no processo.

O novo acadêmico

Nascido em Teresina, Jesus Elias Tajra tem 91 anos.

Além de advogado e empresário, exerceu também as profissões de professor da Faculdade de Direito do Piauí e de auditor da Receita Federal.

Foi deputado estadual de 1967 a 1971, prefeito de Teresina de 1982 a 1983 e deputado federal por dois mandatos, o primeiro deles como constituinte.

Presidiu a Telepisa (1995 a 1998) e foi também secretário do Trabalho e Ação Social (1983 a 1986) e presidiu o Esporte Clube Flamengo.

Foi ainda suplente dos senadores Helvídio Nunes, Dirceu Arcoverde, Alberto Silva e Heráclito Fortes.

Dirigiu por 20 anos a Rádio Pioneira de Teresina. Fundou e presidiu o Jornal da Manhã (1979). Membro do Fórum de Líderes da Gazeta Mercantil.

É diretor-presidente da TV Cidade Verde, afiliada do SBT no Piauí.

Bibliografia

Escreveu e publicou os livros Coragem e Equilíbrio I (publicado pela Câmara dos Deputados, em 1988) e Coragem e Equilíbrio 2 (publicado também pela Câmara no ano seguinte).

Publicou ainda Ação Parlamentar (1992), Até parece que foi ontem Memórias da Constituinte (2008) e Linha de Coerência (2018).

Nova Diretoria da APLJ é empossada

A nova Diretoria da Academia Piauiense de Letras Jurídicas (APLJ) tomou posse ontem (06/10) à noite, em sessão solene realizada no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Piauí.

A cerimônia foi presidida pela acadêmica Fides Angélica, uma das fundadoras da instituição e sua presidente até à posse da nova Diretoria.

O novo presidente da APLJ é o professor Nelson Juliano Matos, da Universidade Federal do Piauí, tendo como vice o desembargador e acadêmico Oton Lustosa.

Os demais membros da Diretoria, com mandato no biênio 2023/2025, são: Marcelino Leal Barroso de Carvalho (Primeiro Secretário); Adrianna de Alencar Setubal Santos (Segunda Secretária); e Robertonio Santos Pessoa (Tesoureiro).

Durante a sessão, a APLJ deu posse a dois novos membros efetivos, os professores Leandro Cardoso Lages e Leandro Maciel Nascimento.

Acadêmicos, autoridades, familiares dos empossandos, intelectuais e outros convidados participaram da cerimônia.

Entre os convidados, o presidente da OAB-PI, Celso Barros Neto; o conselheiro Kleber Eulálio, representando o Tribunal de Contas do Estado; o presidente da Academia Piauiense de Letras, Zózimo Tavares, e o procurador Pinheiro Júnior, do Ministério Público de Contas do TCE.

A APLJ foi fundada no dia 1º de outubro de 1981, por professores do Departamento de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Piauí, reunidos na sala dos professores do referido órgão.

Os fundadores da Academia, por ordem alfabética: Balduíno Barbosa de Deus, Fides Angélica de Castro Veloso Mendes Ommati, Joaquim de Alencar Bezerra, Jorge Azar Chaib, José de Ribamar Freitas e Raimundo Barbosa de Carvalho Baptista.

(Imagens: Francisco Fujioka)

Acadêmicos visitam um dos açudes mais antigos do Piauí

Os acadêmicos Zózimo Tavares (presidente), Fonseca Neto (1º secretário) e Felipe Mendes, da Academia Piauiense de Letras, visitaram em 29 de setembro o açude do Bonfim, um dos mais antigos do Piauí, construído de 1913 a 1914, no leito do rio Piauí.

O açude motivou o deslocamento de moradores de outras regiões para as suas margens. O município transformou-se em um polo de horticultura.

Os acadêmicos estavam acompanhados do prefeito Paulão (Paulo Henrique Viana), vice-prefeito Paulo Henrique, escritor Marcos Damasceno e de outros convidados, entre eles o professor Idelfonso Ribeiro e a professora Cristiana Alves, diretora do Colégio Gasparino Ferreira.

A orla do açude foi urbanizada recentemente pela Prefeitura.

Bonfim do Piauí fica a 560 quilômetros ao Sul de Teresina e foi criado através da lei estadual no 4.477, de 29 de abril de 1992, sendo desmembrado do município de São Raimundo Nonato.

Orla do açude do Bonfim foi urbanizada recentemente.

APL doa livros a escola do semiárido

Durante visita ao município de Bonfim do Piauí – a 560 quilômetros de Teresina, na região de São Raimundo Nonato –, no dia 29 de setembro, os acadêmicos Zózimo Tavares, Fonseca Neto e Felipe Mendes estiveram também no Centro Educacional Gasparino Ferreira.

A escola foi inaugurada no ano passado, através do PRO Piauí Educação, do Governo do Estado, beneficiando estudantes do Ensino Médio e da Universidade Aberta do Piauí (UAPI).

Antes da construção da escola, os estudantes assistiam aulas em um prédio do município.

O Centro Educacional Gasparino Ferreira atende 152 estudantes e funciona nos três turnos com oferta de Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), bem como Educação Profissional, concomitante via mediação tecnológica com cursos de Gestão e Vendas e Informática Básica.

Além disso, a escola atende, nos fins de semana, estudantes matriculados no curso de Administração da UAPI 3ª etapa.  

O Centro possui 7 salas de aula, laboratório de informática, biblioteca, laboratório de ciências, refeitório e quadra poliesportiva.

Os visitantes foram recebidos pela diretora da escola, professora Cristiana Alves, alunos, professores e convidados. Eles conheceram os espaços da escola e se reuniram com estudantes na quadra coberta de esportes.

Os acadêmicos estavam acompanhados do prefeito Paulão, do vice-prefeito Paulo Henrique e do escritor Marcos Damasceno.

A Academia Piauiense de Letras doou livros das Coleções Centenário e Século 21 para a biblioteca da escola.

(Imagens: Luciano Klaus)

O presidente da APL, Zózimo Tavares, entrega livros de autores piauienses a escola.

Acadêmico Felipe Mendes fala aos estudantes.

Acadêmico Fonseca Neto na escola de Bonfim do Piauí.

Escritor Marcos Damasceno, que acompanhava a comitiva da APL.